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— Ana. Meu nome é Ana — murmuro. — Em que posso servi-lo, Sr. Grey?

Ele sorri, e mais uma vez é como se estivesse guardando um grande segredo. É muito desconcertante. Respirando fundo, assumo minha fachada profissional Já Trabalho Nessa Loja Há Anos. Posso fazer isso.

— Estou precisando de alguns artigos. Para começar, gostaria de umas braçadeiras de plástico — murmura ele, sua expressão ao mesmo tempo calma e descontraída.

Braçadeiras de plástico?

— Temos de vários tamanhos. Posso lhe mostrar? — digo baixinho, a voz trêmula.

Controle-se, Steele.

Um ligeiro franzido toma a bela testa de Grey.

— Por favor. Vá na frente, Srta. Steele — diz ele.

Tento parecer indiferente ao sair de trás do balcão, mas realmente estou me concentrando muito em não tropeçar em meus próprios pés. Minhas pernas de repente adquirem consistência de gelatina. Ainda bem que hoje de manhã resolvi usar minha melhor calça jeans.

— Estão na seção de artigos de eletricidade, corredor oito. — Minha voz está um pouco alegre demais. Olho para ele e me arrependo disso quase na mesma hora. Droga, ele é bonito.

— Vá na frente — murmura ele, indicando com um gesto de sua mão de dedos esguios muito bem-cuidada.

Com o coração quase me sufocando — porque está na minha garganta, tentando sair pela boca —, encaminho-me por um dos corredores em direção à seção de eletricidade. Por que ele está em Portland? Por que está aqui na Clayton’s? De uma pequena parte subutilizada do meu cérebro — provavelmente localizada na base do meu bulbo raquidiano, onde mora meu inconsciente — vem a ideia: Ele está aqui para ver você. Sem chance! Descarto o pensamento de imediato. Por que esse homem lindo, poderoso e bem-educado haveria de querer me ver? A ideia é absurda, e eu a expulso da cabeça.

— Está em Portland a trabalho? — pergunto, e minha voz está muito aguda, como se eu tivesse prendido o dedo na porta ou algo do tipo. Droga! Tente ficar calma, Ana!

— Eu estava visitando a divisão agrícola da WSU. Fica em Vancouver. No momento, estou financiando umas pesquisas em rotação de culturas e ciência do solo — diz ele, impassível.

Está vendo? Ele não está aqui para ver você, diz com desdém o meu inconsciente, alto e bom som, orgulhoso e amargo. Enrubesço diante de minhas tolas ideias impertinentes.

— Tudo parte do seu plano de alimentar o mundo? — provoco.

— Mais ou menos — reconhece ele, e seus lábios se contraem num breve sorriso.

Ele olha a seleção de braçadeiras que temos no estoque. Que diabo ele vai fazer com isso? Não consigo de jeito nenhum imaginá-lo como um praticante de bricolagem. Seus dedos passeiam por vários pacotes expostos e, por alguma razão inexplicável, preciso desviar o olhar. Ele se abaixa e escolhe um pacote.

— Estas vão servir — diz ele com aquele sorriso muito misterioso, e eu enrubesço.

— Mais alguma coisa?

— Eu gostaria de fita adesiva.

Fita adesiva?

— Está fazendo uma reforma? — As palavras saem antes que eu possa detê-las. Com certeza ele contrata operários ou tem gente para ajudá-lo na decoração.

— Não, não estou reformando — diz ele depressa, depois dá um sorriso forçado, e tenho a estranha sensação de que está rindo de mim.

Será que sou tão engraçada? Tenho uma cara engraçada?

Por aqui — murmuro, embaraçada. — As fitas adesivas ficam no corredor de decoração.

Olho para trás enquanto ele me segue.

— Trabalha aqui há muito tempo? — A voz dele é grave, e ele está me olhando, olhos cinzentos muito concentrados. Enrubesço mais ainda. Por que diabo ele me causa esse efeito? Sinto como se tivesse quatorze anos — canhestra, como sempre, e deslocada. Olhe para a frente, Steele!

— Quatro anos — murmuro quando chegamos ao nosso objetivo. Para me distrair, abaixo-me e escolho duas larguras de fita adesiva para pintura que temos em estoque.

— Vou levar essa — Grey diz em voz baixa apontando para a fita mais larga, que passo para ele.

Nossos dedos se encostam muito brevemente, e a corrente se manifesta de novo, percorrendo todo o meu corpo como se eu tivesse encostado num fio desencapado. Reprimo um grito involuntário, bem lá no fundo de mim, num lugar escuro e inexplorado. Desesperada, tateio em volta procurando me equilibrar.

— Mais alguma coisa? — Minha voz é rouca e arfante. Os olhos dele se arregalam ligeiramente.

— Um pedaço de corda, eu acho. — A voz dele espelha a minha, rouca.

— Por aqui. — Abaixo a cabeça para esconder meu rubor recorrente e sigo para o corredor.

— De que tipo procura? Temos cordas de fios naturais e sintéticos... barbantes... cabos... — Emudeço diante da expressão dele, de seus olhos ficando sombrios. Caramba.

— Vou levar quatro metros e meio de corda de fios naturais, por favor.

Rapidamente, com dedos trêmulos, meço quatro metros e meio com a régua fixa, consciente de que seu olhar quente e cinzento está sobre mim. Não ouso encará-lo. Nossa, será que eu poderia me sentir mais inibida? Pegando o estilete no bolso traseiro da minha calça, corto a corda e a enrolo antes de amarrá-la com um nó corrediço. Por algum milagre, consigo não amputar um dedo com o estilete.

— Você foi escoteira? — pergunta, os lábios esculturais e sensuais repuxados num sorriso. Não olhe para a boca dele!

— Atividades organizadas em grupo não são minha praia, Sr. Grey.

Ele ergue uma sobrancelha.

— Qual é a sua praia, Anastasia? — pergunta ele, de novo com aquela voz suave e o sorriso misterioso. Olho para ele incapaz de me expressar. Estou em placas tectônicas móveis. Tente ficar calma, Ana, implora de joelhos meu inconsciente torturado.

— Livros — murmuro, mas, no íntimo, meu inconsciente está gritando: Você! Você é a minha praia! Faço-o se calar instantaneamente, aflita com as aspirações exageradas que minha psique está tendo.

— Que tipo de livros? — Ele inclina a cabeça.

Por que está tão interessado?

— Ah, você sabe. O normal. Os clássicos. Literatura inglesa, principalmente.

Ele esfrega o queixo com seus esguios polegar e indicador ao contemplar minha resposta. Ou talvez só esteja muito entediado e esteja tentando disfarçar isso.

— Precisa de mais alguma coisa? — Tenho que me livrar desse assunto; seus dedos naquele rosto são muito sedutores.

— Não sei. O que mais você recomendaria?

O que eu recomendaria? Eu nem sei o que você está fazendo.

— Para um praticante de bricolagem?

Ele balança a cabeça, os olhos cheios de malícia. Enrubesço, e meu olhar desvia espontaneamente para sua calça justa.

— Macacões — respondo, e sei que já perdi o controle do que sai da minha boca.

Ele ergue uma sobrancelha, achando graça de novo.

— Você não ia querer estragar sua roupa. — Faço um gesto vago na direção da sua calça.

— Eu sempre poderia tirá-las. — Ele dá um sorriso afetado.

— Hum.

Sinto meu rosto ficar novamente vermelho. Devo estar da cor do Manifesto Comunista. Pare de falar. Pare de falar agora.

Vou levar uns macacões. Deus me livre de estragar qualquer roupa — diz ele, secamente.

Tento descartar a imagem inoportuna dele sem jeans.

— Precisa de mais alguma coisa? — dou um grunhido ao lhe entregar os macacões azuis.

Ele ignora minha pergunta.

— Como está o artigo?