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Ele finalmente me faz uma pergunta normal, sem insinuações e fora da confusa conversa sem pé nem cabeça... uma pergunta à qual posso responder. Agarro-a com unhas e dentes como se fosse uma tábua de salvação, e escolho a honestidade.

— Não o estou redigindo, Katherine é que está. A Srta. Kavanagh. A moça com quem divido a casa, ela é a redatora. Está muito feliz com ele. É a editora do jornal, e ficou arrasada por não ter podido fazer a entrevista pessoalmente. — Sinto como se tivesse subido para respirar. Finalmente, uma conversa normal. — A única preocupação dela é que não tem nenhuma fotografia sua.

— Que tipo de fotografia ela quer?

Tudo bem. Eu não contava com essa resposta. Balanço a cabeça, porque simplesmente não sei.

— Bem, estou por aí. Amanhã, talvez...

— Estaria disposto a fazer uma sessão de fotos?

Minha voz está de novo estridente. Kate ficará no sétimo céu se eu conseguir isso. E você poderia vê-lo de novo amanhã, aquele lugar escuro na base do meu cérebro murmura sedutoramente para mim. Descarto a ideia. Que bobagem, é ridículo...

— Kate vai ficar encantada, se a gente conseguir encontrar um fotógrafo.

Estou tão satisfeita que abro um largo sorriso para ele. Ele entreabre os lábios, como se estivesse sugando o ar com força para os pulmões, e pisca. Por uma fração de segundo, ele parece de alguma forma perdido, e a terra se desloca ligeiramente em seu eixo, as placas tectônicas deslizando para uma posição nova.

Minha nossa. Christian Grey parece perdido.

— Fale comigo amanhã. — Enfiando a mão no bolso traseiro, ele saca a carteira. — Meu cartão. O número do meu celular está aí. Você vai precisar ligar antes das dez da manhã.

— Tudo bem. Sorrio para ele. Kate vai ficar elétrica.

Ana!

Paul surgiu na outra ponta do corredor. Ele é o irmão caçula do Sr. Clayton. Eu tinha ouvido dizer que ele tinha chegado de Princeton, mas não esperava vê-lo hoje.

— Hum... com licença um instante, Sr. Grey.

Grey franze a testa quando me afasto dele.

Paul sempre foi um amigão, e nesse momento estranho que estou tendo com o rico, poderoso, excepcionalmente atraente e maníaco por controle Sr. Grey, é ótimo falar com alguém normal. Paul me dá um abraço apertado e me pega de surpresa.

— Oi, Ana, é muito bom ver você! — derrete-se.

— Olá, Paul, como vai? Veio para o aniversário do seu irmão?

— É. Você está ótima, Ana, ótima mesmo. — Ele sorri enquanto me examina, tomando distância. Então ele me solta, mas mantém um braço possessivo pendurado em meu ombro. Fico trocando de pé, encabulada. É bom ver Paul, mas ele sempre foi muito exagerado.

Quando olho para Christian Grey, ele está nos observando feito um falcão, olhos entreabertos e especulativos, a boca contraída formando uma linha rígida, impassível. Do cliente estranhamente atencioso, ele se transformou em outra pessoa — alguém frio e distante.

— Paul, estou com um cliente. Uma pessoa que você precisa conhecer — digo, tentando desarmar o antagonismo presente na expressão de Grey. Arrasto Paul para conhecê-lo, e eles se avaliam mutuamente. A atmosfera de repente está glacial.

— Ah, Paul, este é Christian Grey. Sr. Grey, este é Paul Clayton. O irmão dele é o proprietário da loja.

E, por alguma razão irracional, sinto que devo explicar melhor.

— Conheço Paul desde que comecei a trabalhar aqui, embora a gente não se veja muito. Ele voltou de Princeton, onde estuda administração de empresas. — Estou balbuciando... Pare já!

— Sr. Clayton — Grey estende a mão, o olhar inescrutável.

— Sr. Grey. — Paul retribui o cumprimento. — Espera aí, não é o Christian Grey? Da Grey Enterprises Holdings? — Paul passa da arrogância ao assombro numa fração de segundo. Grey lhe dá um sorriso educado, do qual seus olhos não participam.

— Nossa! Há alguma coisa que eu possa lhe trazer?

— Anastasia já me atendeu, Sr. Clayton. Foi muito atenciosa. — A expressão dele é impassível, mas as palavras... é como se ele estivesse dizendo uma coisa totalmente diferente. É desconcertante.

— Legal — responde Paul. — Depois a gente se fala, Ana.

— Claro, Paul. — Vejo-o desaparecer no estoque. — Mais alguma coisa, Sr. Grey?

— Só isso.

Seu tom é entrecortado e frio. Droga... será que eu o ofendi? Respirando fundo, viro as costas e me encaminho para o caixa. Qual é o problema dele?

Registro a corda, os macacões, a fita adesiva e as braçadeiras.

— São quarenta e três dólares, por favor. — Olho para Grey, e queria não ter olhado. Ele está me observando com muita atenção. É enervante.

— Quer uma sacola? — pergunto ao pegar seu cartão de crédito.

— Por favor, Anastasia. — Sua língua acaricia meu nome, e meu coração mais uma vez dispara. Mal posso respirar. Apressadamente, coloco suas compras em uma sacola plástica.

— Você me telefona se quiser que eu pose para as fotos? — Ele está sendo profissional de novo. Faço que sim, mais uma vez sem fala, e devolvo seu cartão de crédito.

— Ótimo. Até amanhã, talvez. — Ele se vira para ir embora, depois para. — Ah... e Anastasia, ainda bem que a Srta. Kavanagh não pôde fazer a entrevista. — Sorri, depois sai da loja a passos largos com uma determinação renovada, pendurando a sacola plástica no ombro, deixando-me como uma massa trêmula de hormônios femininos em fúria.

Antes de voltar ao planeta Terra, passo vários minutos contemplando a porta por onde ele acabou de sair.

Tudo bem — gosto dele. Pronto. Confessei a mim mesma. Não posso mais fugir dos meus sentimentos. Nunca me senti assim antes. Acho-o atraente, muito atraente. Mas isso não tem futuro, eu sei, e suspiro com um sentimento de pena entre doce e amargo. Foi só uma coincidência a vinda dele aqui. Mas mesmo assim, posso admirá-lo de longe, com certeza. Não tem mal nenhum. E se eu encontrar um fotógrafo, posso admirá-lo bastante amanhã. Mordo o lábio antevendo isso e me pego rindo como uma colegial. Preciso telefonar para Kate e organizar a sessão de fotos.

CAPÍTULO TRÊS

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Kate está em êxtase.

— Mas o que ele estava fazendo na Clayton’s? — Sua curiosidade escapa pelo telefone. Estou enfurnada no estoque, tentando manter minha voz num tom normal.

— Ele estava pela área.

— Isso é uma coincidência enorme, Ana. Você não acha que ele foi aí para ver você?

Meu coração palpita com essa perspectiva, mas é uma alegria que dura pouco. A triste e decepcionante realidade é que ele estava aqui a trabalho.

— Ele estava visitando o departamento de agricultura da WSU. Está financiando uma pesquisa — murmuro.

— Ah, sim. Ele doou dois milhões e meio de dólares ao departamento.

Uau.

— Como você sabe disso?

— Ana, eu sou jornalista, e escrevi um perfil do cara. É meu trabalho saber disso.

— Tudo bem, senhora jornalista, não arranque os cabelos. Então, você quer as fotos?

— Claro que quero. A questão é quem vai fazê-las, e onde.

— Podíamos perguntar onde ele prefere. Disse que estará hospedado na região.

— Você pode entrar em contato com ele?

— Tenho o número do celular dele.

Kate suprime um grito.

— O solteiro mais rico, mais esquivo, mais enigmático do estado de Washington simplesmente deu a você o número do celular dele?

— Hum... deu.

— Ana! Ele gosta de você. Não tenho a menor dúvida. — Seu tom é enfático.

— Kate, ele só estava tentando ser simpático.

No momento em que faço a afirmação, porém, sei que ela não é verdadeira. Christian Grey não faz o tipo simpático. Educado, talvez. E uma vozinha murmura dentro de mim: Talvez Kate tenha razão. Meu couro cabeludo se arrepia com a ideia de que, talvez, apenas talvez, quem sabe, ele goste de mim. Afinal, ele disse que tinha achado bom o fato de Kate não ter feito a entrevista. Abraço-me numa alegria silenciosa, balançando para um lado e para o outro, considerando a possibilidade de ele talvez gostar de mim. Kate me traz de volta ao presente.