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— Não sei quem vamos chamar para fazer as fotos. Levi, nosso fotógrafo de sempre, não pode. Está passando o fim de semana em Idaho Falls. E vai ficar furioso por ter perdido a oportunidade de fotografar um dos principais empresários dos Estados Unidos.

— Hum... Que tal José?

— Grande ideia! Peça a ele, ele faz qualquer coisa por você. Depois ligue para Grey e descubra onde ele prefere nos encontrar.

É irritante como Kate faz pouco de José.

— Acho que você devia ligar para ele.

— Para quem? Para José? — zomba Kate.

— Não, para Grey.

— Ana, é você que tem relação com ele.

— Relação? — dou um chiado, subindo o tom de voz. — Eu mal conheço o cara.

— Pelo menos já esteve com ele — diz ela com amargura. — E parece que ele quer conhecê-la melhor. Ligue para ele, Ana — diz, decidida, e desliga.

Ela é muito autoritária às vezes. Olho de cara feia e mostro a língua para o celular.

Estou deixando um recado para José quando Paul entra no estoque procurando por lixas.

— Estamos meio ocupados aqui, Ana — diz ele sem aspereza.

— Eu sei, desculpe — murmuro, dando meia volta para sair.

— Então, de onde você conhece Christian Grey?

A voz despreocupada de Paul não convence.

— Tive que entrevistá-lo para o jornal da faculdade. Kate não estava passando bem.

Dou de ombros, tentando soar descontraída, e acabo não me saindo melhor que ele.

— Christian Grey na Clayton’s. Imagine só. — Paul bufa, achando graça. Balança a cabeça, como se quisesse clarear as ideias. — Enfim, quer sair para beber ou fazer alguma coisa hoje à noite?

Sempre que está por aqui, Paul me convida para sair, e eu sempre digo não. É um ritual. Nunca considerei uma boa ideia sair com o irmão do patrão e, além do mais, Paul é uma graça com seu jeito de garoto comum, mas não é nenhum príncipe encantado, por mais que a gente tente imaginar. Grey é?, pergunta o meu inconsciente, a sobrancelha metaforicamente arqueada. Faço-o calar a boca.

— Você não tem um jantar de família ou algo assim com seu irmão?

— É amanhã.

— Talvez outra hora, Paul. Preciso estudar hoje à noite. As provas finais são na semana que vem.

— Ana, um dia desses você vai aceitar. — Ele sorri enquanto corro para a loja.

* * *

— MAS EU fotografo paisagens, Ana, não pessoas — reclama José.

— José, por favor? — imploro. Ando de um lado para o outro na sala do nosso apartamento, agarrada ao celular, observando pela janela a luz do dia que vai morrendo.

— Dá aqui esse telefone.

Kate toma o aparelho de mim, jogando o sedoso cabelo louro-avermelhado por cima do ombro.

— Escute aqui, José Rodriguez, se quiser que o nosso jornal faça a cobertura da inauguração da sua exposição, você vai ter que tirar essas fotos para a gente amanhã, capiche? — Kate pode ser assombrosamente severa. — Ótimo. Ana vai ligar dizendo o local e a hora da sessão. Vemos você amanhã.

Ela desliga o meu celular.

— Pronto. Tudo que precisamos fazer agora é decidir o local e o horário. Ligue para ele. — Ela me estende o telefone. Meu estômago revira. — Ligue para Grey, agora!

Olho de cara feia para ela e pego o cartão dele no bolso. Respiro fundo, acalmando-me e, com dedos trêmulos, teclo o número.

Ele atende no segundo toque. Seu tom é seco, calmo e frio.

— Grey.

— Hum... Sr. Grey? É Anastasia Steele.

Não reconheço minha própria voz. Estou muito nervosa. Há uma breve pausa. Estou tremendo por dentro.

— Srta. Steele. Que bom falar com você.

O tom de voz dele mudou. Está surpreso, eu acho, e parece muito... caloroso — sedutor até. Minha respiração fica entalada, e enrubesço. De repente, tomo consciência de que Katherine Kavanagh está me olhando boquiaberta, e corro para a cozinha para evitar sua indesejada avaliação.

— Hum... nós gostaríamos de combinar a sessão de fotos para o artigo. — Respire, Ana, respire. Encho um pouco os pulmões, a respiração entrecortada. — Amanhã, se possível. Onde seria conveniente para o senhor?

Quase consigo ouvir seu sorriso enigmático pelo telefone.

— Estou no Heathman, em Portland. Pode ser amanhã às nove e meia da manhã?

— Tudo bem, nos vemos lá. — Meu tom é completamente efusivo e ofegante. Pareço uma criança, não uma mulher adulta que pode votar e beber legalmente no estado de Washington.

— Estou ansioso para isso, Srta. Steele.

Visualizo o brilho malicioso em seus olhos. Como ele pode fazer uma promessa tão tentadora com apenas seis palavrinhas? Desligo. Kate está na cozinha e me encara com um olhar de total e absoluta consternação.

— Anastasia Rose Steele. Você gosta dele! Nunca vi nem ouvi você tão... tão encantada com alguém antes. Está até vermelha.

— Ah, Kate, você sabe que eu vivo corando. É um risco ocupacional comigo. Não seja ridícula — digo secamente.

Ela pisca para mim, surpresa. É muito raro eu dar um chilique, e por um momento acabo cedendo.

— Só acho esse homem... intimidador, só isso.

— Heathman, é claro — murmura Kate. — Vou ligar para o gerente e negociar um espaço para a sessão de fotos.

— Vou fazer o jantar. Depois, preciso estudar.

Não consigo disfarçar minha irritação quando abro um dos armários para preparar a refeição.

* * *

TENHO UMA NOITE agitada, revirando-me na cama, sonhando com olhos cinzentos, macacões, pernas compridas, dedos longos e lugares sinistros e inexplorados. Acordo duas vezes, o coração acelerado. Ah, vou estar com uma cara ótima amanhã se dormir tão pouco, repreendo a mim mesma. Soco o travesseiro e tento sossegar.

* * *

O HEATHMAN FICA na parte central de Portland. O impressionante prédio de pedra marrom foi concluído bem a tempo para a quebra da bolsa de valores no fim dos anos 1920. José, Travis e eu vamos no meu Fusca, e Kate está na Mercedes dela, já que não cabemos todos no meu carro. Travis é amigo de José e também seu assistente, e veio para ajudar com a iluminação. Kate conseguiu que o Heathman cedesse um quarto na parte da manhã em troca de mencionar o hotel nos créditos do artigo. Quando ela informa na recepção que estamos aqui para fotografar Christian Grey, CEO, imediatamente nos dão um upgrade para uma suíte melhor. Uma suíte padrão, no entanto, pois aparentemente o Sr. Grey já está ocupando a maior do prédio. Um executivo de marketing exageradamente solícito nos leva até o local — ele é incrivelmente jovem e, por alguma razão, está muito nervoso. Desconfio que a beleza e o jeito autoritário de Kate o desarmem, porque ela faz o que quer com ele. Os quartos são elegantes, sóbrios e equipados com móveis de luxo.

São nove horas. Temos meia hora para nos preparar. Kate está toda animada.

— José, acho que vamos fotografar na frente daquela parede, concorda? — Ela não espera pela resposta. — Travis, tire as cadeiras. Ana, você poderia pedir à camareira para trazer uns refrigerantes? E avise a Grey onde estamos.

Sim, mestra. Ela é muito autoritária. Reviro os olhos, mas faço o que ela manda.

Meia hora depois, Christian Grey aparece na nossa suíte.

Cacete! Ele está usando uma camisa branca aberta no colarinho e calça de flanela cinza de cintura baixa. Seu cabelo bagunçado ainda está molhado do banho. Fico com a boca seca só de olhá-lo... ele é absurdamente gostoso. Grey entra na suíte acompanhado por um homem de uns trinta e poucos anos, com a cabeça raspada e a barba por fazer, de terno escuro e gravata, que fica quieto parado no canto. Seus olhos cor de avelã nos observam impassíveis.