Clark ergue as sobrancelhas, surpreso.
— A senhora o derrubou?
— Meu pai foi do Exército. O Hyde… ele… hã… me tocou, e eu sei como me defender.
Christian me fita com um breve olhar orgulhoso.
— Entendo.
Clark se recosta no sofá, suspirando pesadamente.
— O senhor falou com alguma das ex-assistentes de Hyde? — É uma pergunta inteligente de Christian.
— Falamos, sim. Mas a verdade é que não conseguimos fazer com que nenhuma delas nos conte nada. Todas dizem que ele era um patrão exemplar, embora nenhuma tenha durado mais do que três meses no cargo.
— Também tivemos esse problema — murmura Christian.
Hein? Olho perplexa para Christian, assim como o detetive Clark.
— O meu chefe de segurança. Ele entrevistou cinco ex-assistentes do Hyde.
— E posso saber por quê?
Christian lhe dirige um olhar glacial.
— Porque minha mulher trabalhou para ele, e eu faço uma verificação de segurança com todo mundo com quem minha mulher trabalha.
O detetive Clark fica vermelho. Dou de ombros, como se pedindo desculpas, e abro um sorriso amarelo do tipo “bem-vindo ao meu mundo”.
— Entendo — murmura Clark. — Acho que essa história esconde mais do que parece à primeira vista, Sr. Grey. Amanhã vamos realizar uma busca mais completa no apartamento dele. Talvez surja algo. Embora já faça um tempo que ele não aparece por lá, pelo que nos disseram.
— Vocês já fizeram uma busca?
— Já. Vamos fazer de novo. Nos mínimos detalhes dessa vez.
— Ainda não o acusaram de tentativa de homicídio contra mim e Ros Bailey? — pergunta Christian em voz baixa.
O quê?
— Esperamos encontrar mais provas com relação à sabotagem de sua aeronave, Sr. Grey. Precisamos de mais do que uma impressão digital parcial, e podemos fundamentar o caso enquanto ele está detido.
— Era só isso que o senhor queria conosco?
Clark se irrita.
— Era, Sr. Grey, a não ser que o senhor tenha mais alguma coisa a acrescentar sobre o bilhete.
Bilhete? Que bilhete?
— Não. Já lhe disse. Para mim, não significa nada. — Christian não consegue ocultar sua exasperação. — E não vejo por que não podíamos ter discutido isso por telefone.
— Acho que já lhe disse que prefiro uma abordagem presencial. E aproveito para visitar minha tia-avó, que mora em Portland, então são dois coelhos… com uma cajadada só.
Clark permanece impassível e não se abala com o mau humor do meu marido.
— Bom, então, se isso é tudo, tenho trabalho a fazer.
Christian se levanta e o detetive Clark segue a deixa.
— Perdão por tomar o seu tempo, Sra. Grey — diz ele, educadamente.
Respondo apenas com um aceno de cabeça.
— Sr. Grey.
Christian abre a porta, e Clark sai.
Só então eu relaxo o corpo no sofá.
— Dá para acreditar nesse babaca? — explode Christian.
— O Clark?
— Não. Aquele filho da puta, o Hyde.
— Não, não dá para acreditar.
— O que é que o merdinha pretende? — murmura Christian, rangendo os dentes.
— Não sei. Você acha que o Clark acreditou em mim?
— É claro que sim. Ele sabe que o Hyde é um babaca de merda.
— Você está muito xingão.
— Xingão? — Christian força o riso. — E essa palavra existe?
— Agora existe.
Inesperadamente, ele abre um largo sorriso e senta-se ao meu lado, puxando-me para seus braços.
— Não pense naquele babaca. Vamos ver seu pai e tentar providenciar a transferência amanhã.
— Ele estava inflexíveclass="underline" queria porque queria ficar em Portland e não se tornar um estorvo.
— Vou falar com ele.
— Eu quero ir com ele.
Christian me olha, e, por um momento, acho que vai negar meu pedido.
— Está bem. Vou com vocês. Sawyer e Taylor podem levar os carros. E deixo o Sawyer dirigir o seu R8 hoje à noite.
No dia seguinte, Ray está examinando seu novo ambiente: um quarto claro e arejado no centro de reabilitação do hospital Northwest, em Seattle. É meio-dia, e ele parece sonolento. A viagem de helicóptero o deixou exausto.
— Diga ao Christian que eu agradeço — fala ele, baixinho.
— Pode dizer você mesmo. Ele vem aqui hoje à noite.
— Você não vai trabalhar?
— Provavelmente. Só quero ter certeza de que você está bem instalado aqui.
— Vá cuidar da sua vida. Não precisa se preocupar comigo.
— Eu gosto de me preocupar com você.
Meu BlackBerry vibra. Verifico o número — e não reconheço.
— Não vai atender? — pergunta Ray.
— Não. Não sei quem é. Seja quem for, pode deixar uma mensagem de voz. Eu trouxe umas coisinhas para você ler.
Aponto para a pilha de revistas de esportes na mesinha ao lado da cama.
— Obrigado, Annie.
— Você está cansado, não está?
Ele admite.
— Vou deixar você dormir um pouco. — Beijo sua testa. — Até mais, papai — murmuro.
— Vejo você mais tarde, querida. E obrigado. — Ray pega minha mão e a aperta carinhosamente. — Eu gosto quando você me chama de papai. Me faz voltar no tempo.
Ah, papai. Retribuo seu aperto de mão.
* * *
QUANDO ATRAVESSO AS portas da entrada em direção ao SUV onde Sawyer me espera, ouço alguém me chamar:
— Sra. Grey! Sra. Grey!
Ao me virar, vejo a Dra. Greene correndo na minha direção. Ela está, como sempre, impecável, embora um pouco agitada.
— Sra. Grey, como vai? Recebeu minha mensagem? Telefonei hoje mais cedo.
— Não. — Meu couro cabeludo começa a formigar.
— Bom, eu estava me perguntando por que a senhora tinha desmarcado quatro consultas.
Quatro consultas? Olho para ela, perplexa. Eu faltei a quatro consultas! Como?
— Talvez seja melhor conversarmos no meu consultório. Eu ia sair para almoçar; a senhora tem um tempinho agora?
Aquiesço sem discutir.
— Claro. Eu…
As palavras não me vêm à cabeça. Faltei quatro consultas? Atrasei minha injeção de anticoncepcional. Merda.
Meio entorpecida, sigo-a até o hospital e o consultório. Como fui perder quatro consultas? Eu me lembro vagamente de remarcar uma delas — Hannah mencionou —, mas quatro? Como fui me esquecer de quatro?
O consultório da Dra. Greene é espaçoso, minimalista e bem aparelhado.
— Que bom que a senhora me encontrou antes de eu ir embora — gaguejo, ainda chocada. — Meu pai sofreu um acidente de carro, e nós acabamos de providenciar a remoção dele, de Portland para cá.
— Puxa, lamento muito. Como ele está passando?
— Está bem, obrigada. Ainda se recuperando.
— Que bom. E isso explica por que você desmarcou na sexta-feira.
A Dra. Greene mexe com o mouse na sua mesa, e o computador ganha vida.
— Bem… já tem mais de treze semanas. Está bem no limite. Acho melhor fazermos um teste antes de aplicar outra injeção.
— Um teste? — sussurro, sentindo o sangue fugir da minha cabeça.
— Um teste de gravidez.