Ah, não.
Ela pega algo de dentro da gaveta da mesa.
— Você sabe o que fazer com isso. — Ela me entrega um pequeno frasco. — O banheiro fica logo na saída do consultório.
Eu me levanto em transe, meu corpo se movendo como se em piloto automático, e cambaleio até o banheiro.
Merda, merda, merda, merda, merda. Como pude deixar isso acontecer… de novo? Subitamente me sinto enjoada e começo a rezar em silêncio. Por favor, não. Por favor, não. Ainda é cedo demais, cedo demais, cedo demais.
Quando retorno ao consultório da Dra. Greene, ela me dá um breve sorriso e aponta para a cadeira em frente à sua mesa. Eu me sento e, sem dizer uma palavra, entrego-lhe o frasco. Ela mergulha nele um pequeno bastonete branco e observa. Então levanta as sobrancelhas quando a cor muda para azul-claro.
— O que significa o azul? — A tensão quase me sufoca.
Ela ergue o olhar para mim, um ar sério.
— Bem, Sra. Grey, significa que a senhora está grávida.
O quê? Não. Não. Não. Merda.
CAPÍTULO VINTE
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Fito, pasma, a Dra. Greene, o mundo ruindo ao meu redor. Um filho. Um filho. Eu não quero um filho… ainda não. Merda. E, bem no fundo, sei que Christian vai pirar.
— A senhora está muito pálida. Quer um copo d’água?
— Sim, por favor.
Mal se ouve minha voz. Minha cabeça está a mil. Grávida? Quando?
— Vejo que a senhora ficou surpresa.
Aquiesço sem pronunciar uma palavra enquanto a médica, atenciosa, me entrega o copo d’água que ela pegou de um bebedouro convenientemente próximo. Tomo um gole aliviador.
— Em choque — balbucio.
— Podemos fazer uma ultrassonografia para ver em que estágio está a sua gravidez. A julgar pela sua reação, suspeito de que seja recente: quatro ou cinco semanas de gravidez. Imagino também que não tenha percebido nenhum sintoma.
Balanço a cabeça em silêncio. Sintomas? Acho que não.
— Eu pensei… pensei que esse método anticoncepcional fosse confiável.
A Dra. Green ergue uma sobrancelha.
— Geralmente é, quando a pessoa se lembra de tomar a injeção — diz ela friamente.
— Devo ter perdido a noção do tempo.
Christian vai pirar. Tenho certeza disso.
— Teve algum sangramento?
— Não — respondo, franzindo a testa.
— Isso é normal com o Depo-Provera. Vamos fazer uma ultrassonografia, está bem? Eu tenho um tempo agora.
Concordo, desorientada, e a Dra. Greene me conduz até uma mesa de exames forrada de couro preto que fica atrás de um biombo.
— Peço que tire a saia e a roupa íntima e se cubra com o lençol que está sobre a mesa, para podermos começar — diz ela, em tom enérgico e eficiente.
Roupa íntima? Eu esperava uma ultrassonografia sobre a barriga. Por que eu preciso tirar a calcinha? Dou de ombros, consternada, e depois faço rapidamente o que ela mandou, deitando-me sob o macio lençol branco.
— Muito bem.
A Dra. Greene aparece na extremidade da mesa e puxa a máquina de ultrassom para mais perto. É uma pilha de computadores de última geração. Ela se senta, posicionando, a tela de modo que fique visível para nós duas, e move o trackball no teclado. A tela se acende.
— Por favor, levante os joelhos, depois flexione e afaste-os. — Ela é objetiva.
Franzo a testa, receosa.
— É uma ultrassonografia transvaginal. Se você estiver grávida há pouco tempo, vamos conseguir encontrar o bebê com isto aqui. — Ela ergue uma sonda comprida e branca.
Ah, a senhora deve estar brincando!
— Tudo bem — balbucio, aflita, e faço o que ela manda.
A médica cobre a sonda com uma camisinha e a lubrifica com gel transparente.
— Sra. Grey, por favor, relaxe.
Relaxar? Eu estou grávida, droga! Como você espera que eu relaxe? Fico vermelha e me esforço para me concentrar no meu local ideal de descanso e felicidade… que foi realocado para algum lugar perto do continente perdido de Atlântida.
Lenta e cuidadosamente, ela insere a sonda.
Puta merda!
Tudo o que enxergo na tela é o equivalente visual a um ruído branco — embora seja mais cor de sépia. A Dra. Green move a sonda dentro de mim, devagar, o que é muito perturbador.
— Olhe ali — murmura ela, pressionando um botão para congelar a imagem na tela e apontando para um pequenino ponto na tempestade sépia.
É só um pontinho. Há um ponto minúsculo dentro da minha barriga. Uau. Esqueço o desconforto e o encaro, pasma.
— Ainda é muito cedo para ver o coração, mas isso comprova que a senhora está realmente grávida. Quatro ou cinco semanas, eu diria. — Ela franze o cenho. — Parece que o anticoncepcional perdeu o efeito cedo. Bem, isso às vezes acontece.
Estou aturdida demais para dizer qualquer coisa. O diminuto ponto é um bebê. Um bebê de verdade. O bebê de Christian. O meu bebê. Minha nossa. Um bebê!
— Quer que eu imprima a imagem?
Aceito, ainda incapaz de falar, e a Dra. Greene aperta um botão. Depois ela remove a sonda delicadamente e me entrega papel toalha para eu me limpar.
— Parabéns, Sra. Grey — diz ela quando eu me sento. — Precisamos marcar outra consulta. Sugiro que seja daqui a quatro semanas. Aí já vamos poder determinar a idade exata do seu bebê e estabelecer uma data de nascimento provável. Pode se vestir agora.
— Está certo.
Meio cambaleante, visto-me apressada. Eu tenho um ponto pequenino, um pontinho. Quando saio de trás do biombo, a Dra. Greene já está de volta à sua mesa.
— Enquanto isso, gostaria que a senhora começasse a tomar ácido fólico e vitaminas pré-natais. Aqui está uma lista do que fazer e do que não fazer.
Ela me entrega algumas cartelas de comprimidos e um folheto e continua a falar, mas não estou mais ouvindo. Estou em choque. Perplexa. É claro que eu deveria ficar feliz. Mas eu poderia esperar até os trinta… pelo menos. Ainda é cedo — muito cedo. Tento reprimir uma crescente sensação de pânico.
Educadamente, despeço-me da Dra. Greene e me dirijo outra vez à saída, para a fresca tarde de outono. De repente, sou tomada por um frio arrepiante e um profundo mau pressentimento. Christian vai pirar, sei disso, mas não faço ideia de até que ponto nem por quanto tempo. As palavras dele me assombram. “Ainda não estou pronto para dividir você.” Aperto o casaco em volta do meu corpo, tentando afastar o frio.
Sawyer salta do SUV e abre a porta para mim. Ele franze o cenho quando repara em meu rosto, mas ignoro sua expressão preocupada.
— Para onde, Sra. Grey? — pergunta ele delicadamente.
— SIP.
Eu me acomodo no banco traseiro, fecho os olhos e recosto a cabeça no apoio do assento. Eu deveria estar feliz. Sei que deveria estar feliz. Mas não estou. Ainda é muito cedo. Cedo demais. E o meu trabalho? E a SIP? E minha vida com Christian? Não. Não. Não. Nós vamos ficar bem. Ele vai ficar bem. Ele adorava Mia quando ela era bebê — eu me lembro de Carrick contando isso —, e continua mimando a irmã. Talvez eu deva avisar ao Dr. Flynn… Talvez eu não deva contar a Christian. Talvez eu… talvez eu pudesse acabar com isso. Interrompo meus pensamentos quando eles se encaminham para essa estrada sombria, assustada com o rumo que vão tomando. Instintivamente, minha mão desce até a minha barriga, onde descansa de forma protetora. Não. Meu Pontinho. Lágrimas brotam nos meus olhos. O que eu vou fazer?
A visão de um menininho de cabelo acobreado e brilhante e olhos cinzentos na campina perto da nossa casa nova invade meus pensamentos, provocando-me e me atormentando com inúmeras possibilidades. Ele dá risadas e gritinhos de felicidade enquanto Christian e eu corremos atrás dele. Christian o balança nos braços, bem alto, e o carrega no colo ao retornarmos para dentro de casa, de mãos dadas.