CAPÍTULO VINTE E UM
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Fico pasma quando leio a mensagem, e olho para meu marido dormindo. Ele ficou fora até uma e meia da madrugada, bebendo — com ela! Christian ressona suavemente, dormindo o sono de um entorpecido e supostamente inofensivo bêbado. Parece tão sereno.
Ah, não, não, não. Sinto minhas pernas perderem a força e afundo lentamente na cadeira ao lado da cama, incrédula. Uma sensação de traição amarga, desleal e humilhante se abate sobre mim. Como ele pôde fazer isso? Como pôde procurar aquela mulher? Lágrimas de raiva descem queimando minhas faces. O medo e a cólera que ele sentiu, a necessidade de me agredir verbalmente — tudo isso eu posso entender e até perdoar. Mas isso… essa traição é demais para mim. Dobro os joelhos de encontro ao peito e abraço minhas pernas, protegendo a mim e ao meu Pontinho. Balanço o corpo para a frente e para trás, chorando silenciosamente.
O que eu esperava? Eu me casei depressa demais com este homem. Eu sabia… sabia que ia dar nisso. Por quê? Por quê? Por quê? Como ele pôde fazer isso comigo? Ele conhece meus sentimentos em relação a essa mulher. Como ele pôde correr logo para ela? Como? Sinto uma adaga se torcer lenta e dolorosamente dentro do meu coração, dilacerando-o. Será que vai ser sempre assim?
Através da cortina das minhas lágrimas, sua silhueta prostrada fica borrada e trêmula. Ah, Christian. Eu me casei com ele porque o amo, e lá no fundo sei que ele também me ama. Sei disso. O presente de aniversário que ele me deu, de uma ternura extrema, me vem à mente.
Por todas as nossas primeiras vezes, no seu primeiro aniversário como minha amada esposa. Bj, C.
Não, não, não… não posso acreditar que vai ser sempre assim, dois passos para a frente e três para trás. Mas é assim que tem sido com ele. Após cada obstáculo que nos faz recuar, caminhamos para a frente, centímetro por centímetro. Ele vai dar a volta por cima… sei que vai. Mas e eu? Será que vou me recuperar dessa… dessa traição? Penso em como ele se comportou nesse último fim de semana, que foi tão horrível quanto maravilhoso. A força silenciosa que ele me transmitiu enquanto meu padrasto jazia ferido e em coma na UTI… minha festa surpresa, a preocupação de trazer os amigos e parentes… a cena em frente ao hotel — me jogando para trás apoiada nos seus braços e me beijando na frente de todos. Ah, Christian, você leva minha confiança e minha fé ao limite… e eu amo você.
Agora, porém, não posso pensar só em mim mesma. Coloco a mão na barriga. Não, não vou deixar que ele faça isso comigo e com o nosso Pontinho. O Dr. Flynn disse que eu deveria lhe dar o benefício da dúvida… tudo bem, mas não dessa vez. Seco as lágrimas dos olhos e limpo o nariz com as costas da mão.
Christian se mexe e se vira, puxando as pernas que pendiam pela beirada da cama, e se aconchega debaixo do edredom. Estica uma das mãos, como se estivesse procurando alguma coisa, e depois balbucia algo ininteligível, franzindo as sobrancelhas, mas acaba por dormir novamente, o braço esticado.
Ah, meu Cinquenta Tons. O que é que eu vou fazer com você? E que diabo você estava fazendo com a Monstra Filha da Mãe? Preciso saber.
Olho mais uma vez para a ultrajante mensagem de texto e depressa traço um plano. Inspiro profundamente e encaminho a mensagem para o meu BlackBerry. Primeiro passo concluído. Em seguida, verifico as outras mensagens que ele recebeu recentemente, mas são todas minhas ou de Elliot, Andrea, Taylor e Ros. Nenhuma de Elena. Ótimo, eu acho. Saio da caixa de entrada, aliviada por ver que ele não tem se correspondido com ela, e neste momento meu coração quase sai pela boca. Meu Deus. O papel de parede do telefone dele é um conjunto de fotos minhas, um patchwork de pequenas Anastasias em várias poses: em nossa lua de mel, no fim de semana que passamos velejando e viajando, além de algumas tiradas por José. Quando foi que ele montou isso? Deve ter sido há pouquíssimo tempo.
Reparo no ícone do e-mail e sinto-me tentada por uma ideia que se insinua em minha mente… Eu podia ler os e-mails do Christian. Ver se ele tem se comunicado com ela. Será que devo? Vestida em seda verde-jade, a boca franzida e zangada, minha deusa interior concorda enfaticamente. Antes que eu possa pensar duas vezes, invado a privacidade dele.
Há centenas e centenas de e-mails. Parecem todos desinteressantes e normais… a maioria enviada por mim, por Ros e por Andrea, além de vários executivos da empresa. Nenhum da Monstra Filha da Mãe. Aproveitando, vejo que também não há nenhum de Leila — o que me deixa aliviada.
Um dos e-mails, porém, chama minha atenção. Foi enviado por Barney Sullivan, o sujeito responsável pela TI na empresa, e o assunto da mensagem é: Jack Hyde. Lanço um rápido olhar de culpa para Christian, mas ele continua ressonando suavemente. Eu nunca o tinha visto roncar. Abro o e-mail.
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De: Barney Sullivan
Assunto: Jack Hyde
Data: 13 de setembro de 2011 14:09
Para: Christian Grey
O rastreamento da caminhonete branca que conseguimos fazer pelas câmeras de segurança de Seattle só chegam até a Rua South Irving. Antes disso, não consigo encontrar nenhum rastro, então Hyde deve ter partido daquela área.
Como Welch já lhe disse, o carro do elemento foi alugado por uma mulher desconhecida com uma carteira falsa, mas nada liga o veículo à área da South Irving.
No arquivo anexado, seguem detalhes de funcionários conhecidos da GEH e da SIP que moram na área. Enviei o arquivo também para Welch.
No computador que Hyde usava na SIP não havia nada sobre suas ex-assistentes.
Só para lembrar, aqui vai uma lista do que foi obtido no computador de Hyde na SIP.
Endereços de residências dos Grey:
Cinco propriedades em Seattle
Duas propriedades em Detroit
Resumos detalhados das vidas de:
Carrick Grey
Elliot Grey
Christian Grey
Dra. Grace Trevelyan
Anastasia Steele
Mia Grey
Artigos de jornais impressos e digitais relacionados a:
Dra. Grace Trevelyan
Carrick Grey
Christian Grey
Elliot Grey
Fotografias:
Carrick Grey
Dra. Grace Trevelyan
Christian Grey
Elliot Grey
Mia Grey
Vou continuar investigando para ver se encontro mais alguma coisa.
B. Sullivan
Diretor de TI, Grey Enterprises Holdings Inc.
Esse e-mail estranho desvia minha atenção momentaneamente desta noite de infortúnio. Clico no anexo para verificar os nomes da lista, mas obviamente é imensa, extensa demais para ser aberta no BlackBerry.
O que eu estou fazendo? É tarde. Tive um dia desgastante. Não encontrei e-mails da Monstra Filha da Mãe ou de Leila Williams, o que já me deixa um pouco reconfortada. Olho para o relógio: já são pouco mais de duas da madrugada. Hoje foi um dia repleto de revelações. Vou ser mãe, e meu marido andou confraternizando com a inimiga. Bom, ele que arque com as consequências. Não vou ficar dormindo aqui com ele. Ele que acorde sozinho amanhã de manhã. Depois de deixar o BlackBerry dele na mesa de cabeceira, apanho minha bolsa, que está ao lado da cama, e, após um último olhar para o meu angelical Judas adormecido, saio do quarto.
A chave reserva do quarto de jogos está no local costumeiro, no armário da lavanderia. De posse da chave, corro lá para cima. Pego travesseiro, edredom e lençóis do armário de rouparia, depois destranco a porta do quarto de jogos e entro, ajustando a luz para uma iluminação suave. É esquisito eu achar o aroma e o ambiente desse cômodo reconfortantes, considerando que acabei usando a palavra de segurança na última vez que estive aqui. Tranco a porta após entrar, deixando a chave na fechadura. Sei que de manhã Christian vai ficar fora de si tentando me encontrar, e acho que ele não vai me procurar aqui se a porta estiver trancada. Bem-feito para ele.