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Eu me aconchego no sofá Chesterfield, enrolo-me no edredom e tiro meu BlackBerry da bolsa. Encontro a mensagem de texto da diabólica Monstra Filha da Mãe que eu encaminhei do telefone de Christian para mim mesma. Aperto “encaminhar” e digito:

*VAI QUERER QUE A SRA. LINCOLN ESTEJA PRESENTE QUANDO DISCUTIRMOS ESTA MENSAGEM QUE ELA MANDOU PARA VOCÊ? ASSIM NÃO VAI PRECISAR CORRER ATÉ ELA DEPOIS. SUA ESPOSA*

Aperto “enviar” e coloco o celular no modo silencioso. Então me encolho embaixo do edredom. Apesar de minha suposta bravura, sinto-me esmagada pela enormidade da decepção que tive com Christian. Essa deveria ser uma ocasião feliz. Puxa, vamos ser pais. Por breves instantes revivo o momento em que contei a Christian que estou grávida e fantasio que ele cai de joelhos na minha frente de tanta alegria, abraçando-me e me dizendo o quanto ama a mim e ao nosso Pontinho.

No entanto, aqui estou eu, na fria solidão de um quarto de jogos repleto de fantasias BDSM. Subitamente me sinto velha, mais velha do que realmente sou. Lidar com Christian sempre foi um desafio, mas hoje ele se superou.

Onde estava com a cabeça? Bom, se o que ele quer é briga, é o que vou lhe dar. De jeito nenhum vou aceitar que ele se veja no direito de correr para aquela mulher monstruosa sempre que tivermos um problema. Ele vai ter que escolher — ou ela ou eu e nosso Pontinho. Fungo baixo, mas estou tão exausta que logo caio no sono.

* * *

ACORDO SOBRESSALTADA, momentaneamente desorientada… Ah, simestou no quarto de jogos. Como não há janelas, não faço ideia de que horas são. A maçaneta da porta chacoalha.

— Ana! — grita Christian lá de fora.

Congelo onde estou, mas ele não entra. Ouço vozes indistintas, mas depois se afastam. Solto o ar dos pulmões e vejo as horas no BlackBerry. São sete e meia, e há quatro chamadas perdidas e duas mensagens de voz. As chamadas são quase todas de Christian, mas tem também uma de Kate. Ah, não. Ele deve ter ligado para ela. Não tenho tempo para ouvir os recados. Não quero chegar atrasada no trabalho.

Eu me enrolo no edredom e pego minha bolsa antes de me dirigir à porta. Destranco-a devagar e espio do lado de fora. Ninguém à vista. Ah, merda… Talvez eu esteja sendo meio melodramática. Reviro os olhos para mim mesma, depois respiro fundo e desço as escadas.

Taylor, Sawyer, Ryan, a Sra. Jones e Christian estão todos parados à entrada da sala, Christian dando instruções a toque de caixa. Todos se viram ao mesmo tempo e me olham perplexos. Christian usa as mesmas roupas com que dormiu. Está desalinhado, pálido e lindo de morrer. Seus grandes olhos cinzentos estão arregalados, não sei se por medo ou raiva. É difícil dizer.

— Sawyer, vamos sair em uns vinte minutos — murmuro, enrolando-me mais ainda no edredom, como uma proteção.

Ele faz um gesto de aquiescência, e todos os olhares se viram para Christian, que ainda me fita intensamente.

— Gostaria de alguma coisa para o café, Sra. Grey? — pergunta a Sra. Jones.

Balanço a cabeça em negativa.

— Não estou com fome, obrigada.

Ela aperta os lábios, mas não diz mais nada.

— Onde você estava? — pergunta Christian, numa voz baixa e rouca.

De súbito, como se fossem ratos apavorados em um navio prestes a afundar, Sawyer, Taylor, Ryan e a Sra. Jones se dispersam, desaparecendo na direção do escritório de Taylor, do hall ou da cozinha.

Ignoro Christian e me encaminho para o quarto.

— Ana — ele me chama —, responda.

Ouço seus passos atrás de mim, seguindo-me até o quarto, mas me dirijo ao banheiro da suíte e rapidamente tranco a porta.

— Ana! — Christian começa a esmurrar a porta. Ligo o chuveiro. A porta sacode. — Ana, abra essa porra dessa porta.

— Vá embora!

— Não vou a lugar algum.

— Como quiser.

— Ana, por favor.

Entro no chuveiro, deixando-o lá fora. Ah, tão quentinho… A água revigorante cai sobre mim, lavando minha pele de toda a exaustão da noite passada. Nossa. Tão gostoso… Por um momento, por um breve momento, consigo fingir que está tudo bem. Lavo o cabelo e quando termino já me sinto melhor, mais forte, pronta para enfrentar o trator chamado Christian Grey. Enrolo o cabelo em uma toalha, enxugo-me rapidamente com outra e depois a enrolo no corpo.

Destranco a porta e, quando a abro, vejo Christian encostado na parede oposta, as mãos atrás do corpo. Ele tem uma expressão prudente, semelhante à de um predador sendo caçado. Passo rapidamente por ele e entro no closet.

— Você está me ignorando? — pergunta Christian, incrédulo, parado à porta do closet.

— Que perspicaz, você — murmuro distraidamente enquanto escolho o que vestir.

Ah, sim… meu vestido ameixa. Tiro-o do cabide, pego as botas pretas de cano longo e salto agulha e volto para o quarto. Paro por um momento, esperando que Christian saia do meu caminho, o que ele acaba fazendo — suas boas maneiras falam mais alto. Sinto seus olhos me atravessando enquanto cruzo o quarto até a cômoda e, pelo espelho, dou uma espiada nele, estático na porta, examinando-me. Em um ato digno de uma vencedora de Oscar, deixo a toalha cair no chão e finjo não me importar. Ouço seu suspiro contido e ignoro.

— Por que você está fazendo isso? — pergunta ele, em voz baixa.

— O que você acha? — Minha voz é suave como veludo. Enquanto isso vou pegando uma linda calcinha de renda preta da La Perla.

— Ana…

Ele para quando me vê vestir a calcinha.

— Vá perguntar à sua Mrs. Robinson. Tenho certeza de que ela vai lhe dar alguma explicação — sussurro, enquanto procuro o sutiã que forma o conjunto.

— Ana, eu já disse que ela não é minha…

— Não quero ouvir, Christian. — Faço um gesto de desdém com a mão. — A oportunidade de conversar foi ontem, mas, em vez disso, você preferiu se divertir e se embebedar com a mulher que abusou de você durante anos. Ligue para ela. Tenho certeza de que ela vai ter a maior boa vontade em escutar você.

Encontro o sutiã que procurava e o visto lentamente. Christian avança e coloca as mãos na cintura.

— Por que você estava me espionando? — pergunta ele.

Apesar da minha firmeza, fico vermelha.

— Essa não é a questão, Christian — retruco com rispidez. — O fato é que, quando as coisas complicam, você corre para ela.

Ele aperta a boca numa expressão severa.

— Não foi bem assim.

— Não estou interessada.

Pegando um par de meias sete oitavos pretas com barra rendada, vou até a cama. Então me sento, estico a ponta do pé e, delicadamente, cubro minha perna até a coxa com o leve tecido.

— Onde você estava? — pergunta ele, seus olhos seguindo minhas mãos ao longo das minhas pernas, mas continuo a ignorá-lo e passo para a outra meia.

Fico de pé e me curvo para secar meu cabelo com a toalha. Através das minhas coxas entreabertas, posso ver seus pés descalços e sentir seu olhar penetrante. Quando termino, volto a me levantar e vou até a cômoda para pegar o secador de cabelo.

— Responda. — Sua voz é baixa e ríspida.

Ligo o secador e não consigo mais ouvir sua voz. Pelo espelho, olho para ele de cabeça baixa enquanto seco o cabelo com os dedos. Ele me encara com olhos semicerrados e frios, gélidos até. Olho para o outro lado e foco na minha tarefa, tentando reprimir o calafrio que percorre meu corpo. Engulo em seco e me concentro em secar meu cabelo. Ele ainda está bravo. Ele sai com aquela filha da puta e está bravo comigo? Que ousadia! Quando meu cabelo parece rebelde e volumoso, paro. Sim… gostei. Desligo o secador.