— Massa.
— Espaguete, penne, fusilli? — Ela sorri.
— Espaguete, com o seu molho à bolonhesa.
— É pra já. E, Ana… você deveria ter visto como o Sr. Grey ficou transtornado hoje de manhã, quando ele achou que você tinha ido embora. Ficou fora de si. — Ela sorri amigavelmente.
Ah…
* * *
ÀS NOVE HORAS, ainda nada de Christian. Sentada à minha mesa na biblioteca, fico matutando onde ele pode estar. Telefono para ele.
— Ana — atende ele, a voz fria.
— Oi.
Ele inspira suavemente.
— Oi — diz ele, mais baixo.
— Você vem para casa?
— Mais tarde.
— Está no escritório?
— Claro. Onde mais eu estaria?
Com ela.
— Vou deixar você trabalhar, então.
Ambos continuamos na linha, o silêncio entre nós se alongando e se avolumando.
— Boa noite, Ana — diz ele, afinal.
— Boa noite, Christian.
Ele desliga.
Ah, merda. Fico olhando para o BlackBerry. Não sei o que ele espera que eu faça. Não vou deixar que passe por cima dos meus sentimentos. Sim, ele está zangado, ok. Eu também estou. Mas estamos neste barco juntos. Não fui eu que saí correndo com a língua solta atrás da minha ex-amante pedófila. Quero que ele reconheça que essa atitude não é aceitável.
Eu me recosto na cadeira, olhando para a mesa de sinuca da biblioteca, e me lembro de tempos divertidos jogando isso. Ponho a mão na barriga. Talvez ainda seja muito cedo. Talvez isso não deva acontecer… E, logo que penso nisso, meu inconsciente grita Não! Se eu interromper esta gravidez, nunca vou me perdoar — ou a Christian.
— Ah, Pontinho, o que você fez com a gente?
Não tenho ânimo para ligar para Kate. Não tenho ânimo para ligar para ninguém. Mando uma mensagem para ela, prometendo telefonar em breve.
Lá pelas onze horas, não consigo mais manter as pálpebras abertas. Resignada, vou para o meu antigo quarto. Encolho-me embaixo do edredom e não me contenho mais: soluço com a cabeça enfiada no travesseiro, grandes soluços de tristeza, sacudindo-me toda sem a menor classe feminina…
* * *
QUANDO ACORDO, sinto a cabeça pesada. Pelas grandes vidraças do quarto brilha a luz clara do outono. Olho para o radiorrelógio e descubro que já são sete e meia. Meu pensamento imediato é: Onde está Christian? Sento-me e jogo as pernas para fora da cama. Vejo jogada no chão a gravata prateada de Christian, a minha preferida. Isso não estava aqui quando fui dormir. Apanho-a e fico olhando para a gravata, acariciando o tecido sedoso entre o polegar e o indicador; depois a aperto contra o meu rosto. Ele esteve aqui, observando-me enquanto eu dormia. E um lampejo de esperança se acende dentro de mim.
* * *
QUANDO DESÇO, a Sra. Jones está ocupada em seus afazeres na cozinha.
— Bom dia — diz ela, radiante.
— Bom dia. E o Christian? — pergunto.
O rosto dela perde a vivacidade.
— Já saiu.
— Então ele veio para casa?
Preciso ter certeza, apesar da evidência da gravata.
— Veio, sim. — Ela faz uma pausa. — Ana, por favor, me perdoe por me intrometer, mas não desista dele. Ele é muito teimoso.
Faço um gesto de concordância e ela não insiste. Tenho certeza de que minha expressão deixa claro que não quero conversar sobre o meu malcomportado marido neste momento.
* * *
LOGO QUE CHEGO ao trabalho, verifico os e-mails. Meu coração quase salta do peito quando vejo uma mensagem de Christian.
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De: Christian Grey
Assunto: Portland
Data: 15 de setembro de 2011 06:45
Para: Anastasia Grey
Ana,
Vou a Portland hoje.
Tenho alguns negócios a fechar com a WSU.
Achei que você fosse querer saber.
Christian Grey
CEO, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Ah. As lágrimas brotam nos meus olhos. Só isso? Sinto um nó no estômago. Merda! Vou vomitar. Corro para o banheiro e chego justo a tempo de pôr todo o meu café da manhã para fora. Deixo-me cair no chão do cubículo e coloco as mãos na cabeça. Será que esse é o fundo do poço? Depois de um tempo, alguém bate delicadamente à porta.
— Ana? — É Hannah.
Merda.
— Sim?
— Você está bem?
— Já vou sair.
— Boyce Fox está aqui para falar com você.
Merda.
— Leve-o para a sala de reuniões. Chego lá em um minuto.
— Você quer chá?
— Sim, por favor.
* * *
DEPOIS DO ALMOÇO — mais um sanduíche de salmão com cream cheese, só que dessa vez consigo manter a comida no estômago —, fico sentada olhando distraída para o computador, procurando inspiração e matutando sobre como Christian e eu vamos resolver nosso imenso problema.
Dou um pulo de susto quando meu BlackBerry toca. Olho para a tela: é Mia. Minha nossa, é tudo o que eu queria agora: o entusiasmo desmedido de Mia. Hesito, considerando simplesmente ignorar, mas a boa educação prevalece.
— Mia — atendo com animação.
— Ora, ora, olá, Ana… há quanto tempo não nos falamos.
É uma voz masculina que me soa familiar. Puta que pariu!
Meu couro cabeludo começa a pinicar, e todos os pelos do meu corpo se eriçam — a adrenalina flui nas minhas veias e o mundo para de girar.
É Jack Hyde.
CAPÍTULO VINTE E DOIS
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—Jack.
Minha voz desapareceu, sufocada pelo medo. Como ele saiu da prisão? Como está com o telefone da Mia? O sangue se esvai do meu rosto, e me sinto tonta.
— Ah, então você se lembra de mim — diz ele, a voz suave. Posso imaginar seu sorriso amargo.
— É evidente. — Minha resposta é automática; minha cabeça está a mil.
— Você deve estar se perguntando por que resolvi telefonar.
— E estou.
Desligue.
— Não desligue. Eu andei batendo um papo com a sua cunhadinha.
O quê? Mia! Não!
— O que você fez? — murmuro, tentando conter meu pavor.
— Escute aqui, sua puta vendida e safada. Você fodeu com a minha vida. O Grey fodeu com a minha vida. Você me deve muito. Eu estou com a putinha aqui comigo agora. E você, aquele filho da puta do seu marido e toda a maldita família dele vão me pagar.
O desprezo e a cólera de Jack me chocam. A família dele? Que merda é essa?
— O que você quer?
— Eu quero o dinheiro dele. Quero a porra do dinheiro dele, ah, se quero. Se as coisas tivessem sido diferentes, podia ter sido eu. Então, você vai conseguir essa grana para mim. Quero cinco milhões de dólares, hoje.
— Jack, eu não tenho acesso a tanto dinheiro assim.
Jack destila seu menosprezo:
— Você tem duas horas para arrumar a grana. Só isso: duas horas. Não conte para ninguém, ou essa putinha aqui já era. Nem polícia, nem o sacana do seu marido. Nem o pessoal da segurança. Eu vou saber, está entendendo? — Ele faz uma pausa, e tento responder, mas o pânico e o temor fecharam minha garganta. — Você entendeu? — grita ele.
— Entendi — sussurro.
— Senão eu mato a putinha.
Minha respiração falha.
— Mantenha o telefone por perto. Não conte para ninguém, ou antes de matar a sua cunhadinha eu dou uma canseira nela. Você tem duas horas.
— Jack, eu preciso de mais tempo. Três horas. E como vou saber que ela está mesmo com você?
A ligação cai. Olho aterrorizada para o telefone, os lábios crispados com medo e, na boca, um horrível gosto metálico de pavor. Mia, ele está com a Mia. Será mesmo? Minha mente ferve diante da obscena possibilidade, e meu estômago fica embrulhado de novo. Acho que vou vomitar, mas respiro fundo, tentando apaziguar o pânico, e o enjoo passa. Rapidamente, considero as possibilidades. Contar a Christian? Contar a Taylor? Chamar a polícia? Como Jack vai saber? Será que ele realmente sequestrou Mia? Preciso de tempo, tempo para pensar — mas só vou conseguir isso se seguir as instruções dele. Pego a bolsa e corro até a porta.