* * *
O BANCO É MODERNO, agradável e de bom gosto. Há burburinho de vozes baixas, pisos que ecoam os passos das pessoas e vidro verde jateado para todo lado. Vou até o balcão de informações.
— Posso ajudá-la, madame?
A jovem me dá um sorriso largo e falso, e por um instante eu me arrependo de ter vestido calça jeans.
— Eu gostaria de retirar uma quantia considerável de dinheiro.
A Srta. Sorriso Falso arqueia uma sobrancelha ainda mais falsa.
— A senhora tem conta conosco? — Ela não consegue ocultar o sarcasmo.
— Tenho — falo rispidamente. — Meu marido e eu temos diversas contas aqui. O nome dele é Christian Grey.
Os olhos da moça se ampliam quase imperceptivelmente, e sua falsidade dá lugar ao choque. Ela me olha de alto a baixo mais uma vez, agora numa mistura de descrença e admiração.
— Por aqui, madame — murmura, e me conduz até uma sala pequena, com poucos móveis e paredes do mesmo vidro verde jateado. — Por favor, sente-se. — Ela aponta para uma cadeira de couro preto perto de uma mesa de vidro onde estão um computador de última geração e um telefone. — Quanto a senhora gostaria de sacar hoje, Sra. Grey? — pergunta ela amavelmente.
— Cinco milhões de dólares. — Eu a fito nos olhos, como se fosse uma quantia que eu retirasse diariamente.
Ela empalidece.
— Muito bem. Vou chamar o gerente. Ah, desculpe perguntar, mas a senhora trouxe algum documento de identificação?
— É claro. Mas eu gostaria de falar com o gerente.
— Certamente, Sra. Grey.
Ela sai depressa da saleta. Eu afundo na cadeira, com uma onda de enjoo ao sentir a arma pressionando a base das minhas costas. Agora não. Não posso vomitar aqui. Respiro fundo, e o enjoo passa. Consulto o relógio, nervosa. Duas e vinte e cinco.
Um senhor de meia-idade entra na saleta. Seu cabelo é escasso e ele veste um terno cor de carvão, caro e bem-cortado, e uma gravata do mesmo tom. Ele estende a mão.
— Sra. Grey. Meu nome é Troy Whelan. — Ele sorri, apertamos as mãos, e ele se senta do outro lado da mesa. — Fui informado de que a senhora gostaria de retirar uma grande quantia de dinheiro.
— É verdade. Cinco milhões de dólares.
Ele se vira para o impecável computador e digita alguns números.
— Normalmente solicitamos que nos avisem com antecedência em casos de retirada de valores tão altos. — Ele faz uma pausa e me lança um sorriso tranquilizador mas arrogante. — Felizmente, porém, nós dispomos da reserva de caixa para toda a região do noroeste do Pacífico — vangloria-se.
Meu Deus, será que ele está tentando me impressionar?
— Sr. Whelan, eu estou com pressa. O que preciso fazer? Trouxe minha carteira de motorista e o talão de cheques da nossa conta conjunta. É só eu preencher um cheque?
— Uma coisa de cada vez, Sra. Grey. Posso ver sua identidade? — Ele se transforma de jovial exibido para bancário eficiente.
— Aqui está. — Entrego-lhe o documento.
— Sra. Grey… aqui diz Anastasia Steele.
Ah, merda.
— Ah… é mesmo. Hmm.
— Vou ligar para o Sr. Grey.
— Ah, não, não vai ser necessário. — Merda! — Devo ter algum documento com o nome de casada. — Procuro dentro da bolsa. Que documento tem o meu nome de casada? Pego a carteira, abro-a e vejo uma fotografia minha e de Christian na cama, na cabine do Fair Lady. Não posso mostrar isso a ele! Pego o meu Amex preto. — Aqui está.
— Sra. Anastasia Grey — Whelan lê o nome impresso. — Acho que isso vai ser suficiente. — Ele franze o cenho. — Esse procedimento é bastante irregular, Sra. Grey.
— O senhor quer que eu diga ao meu marido que o seu banco não foi muito solícito comigo? — Empertigo os ombros e lanço-lhe meu olhar mais ameaçador.
Ele para por um instante, reavaliando-me, acho.
— A senhora vai ter que preencher um cheque, Sra. Grey.
— Claro. Desta conta? — Mostro o talão de cheques a ele, tentando controlar meu coração acelerado.
— Sim, está ótimo. Também vou precisar que a senhora preencha alguns papéis. Pode me dar licença um instante?
Faço um gesto de anuência, e ele se levanta e sai da sala com um porte arrogante. Novamente, solto o ar preso. Não imaginei que isso seria tão difícil. Desajeitada, abro o talão e tiro uma caneta da bolsa. Coloco ao portador? Não faço ideia. Com dedos trêmulos, escrevo: Cinco milhões de dólares. US$ 5.000.000,00.
Ah, meu Deus, tomara que eu esteja fazendo a coisa certa. Mia, pense em Mia. Não posso contar para ninguém.
As repugnantes e ameaçadoras palavras de Jack me assombram: “Não conte para ninguém, ou antes de matar a sua cunhadinha eu dou uma canseira nela.”
O Sr. Whelan retorna, o rosto pálido e encabulado.
— Sra. Grey? Seu marido quer falar com a senhora — murmura ele, e aponta para o telefone sobre a mesa de vidro.
O quê? Não.
— Ele está na linha um. É só apertar o botão. Vou esperar lá fora.
Ele pelo menos tem a dignidade de parecer constrangido. Judas perde para Whelan. Sinto o sangue fugir do meu rosto e fecho a cara para Whelan depois que ele sai da sala.
Merda! Merda! Merda! O que eu vou dizer a Christian? Ele vai saber. Vai intervir. Ele é um perigo para a irmã. Minha mão treme ao pegar o telefone. Levo-o à orelha, tentando acalmar minha respiração instável, e pressiono o botão para a linha um.
— Oi — murmuro, tentando inutilmente acalmar os nervos.
— Você está me deixando? — Suas palavras não passam de um sussurro ofegante e cheio de angústia.
O quê?
— Não!
Minha voz não parece muito diferente da dele. Ah, não. Ah, não. Ah, não — como ele pode pensar uma coisa dessas? Será o dinheiro? Ele acha que eu estou indo embora por causa do dinheiro? E, em um lampejo de terrível clareza, percebo que a única maneira de manter Christian afastado e longe do perigo, e também a única forma de salvar a irmã dele… é mentir.
— Sim — murmuro.
E uma dor lancinante me acomete, as lágrimas brotando nos olhos.
Ele engole em seco, quase um soluço.
— Ana, eu… — Ele não consegue terminar a frase.
Não! Aperto a boca com a mão na tentativa de conter as emoções.
— Christian, por favor. Não faça isso. — Luto contra as lágrimas.
— Você vai embora? — pergunta ele.
— Vou.
— Mas por que o dinheiro? Esse tempo todo foi só pelo dinheiro? — Sua voz angustiada é quase inaudível.
Não! As lágrimas descem pelo meu rosto.
— Não — sussurro.
— Cinco milhões de dólares basta?
Ah, por favor, pare!
— Basta.
— E o bebê? — Sua voz soa como um eco ofegante.
O quê? Minha mão desce da boca para a barriga.
— Vou tomar conta do bebê — murmuro. Meu Pontinho… nosso Pontinho.
— É isso o que você quer?
Não!
— É.
Ele inspira profundamente.
— Pode tirar tudo — fala com rispidez.
— Christian — digo entre soluços. — É para você. Para a sua família. Por favor. Não faça isso.