— Por favor.
— Ana — adverte Christian.
Novamente faço esforço para me levantar.
— Vou retirar o cateter. Sr. Grey, tenho certeza de que a sua esposa vai querer um pouco de privacidade. — Ela olha incisivamente para Christian.
— Não vou a lugar nenhum. — Ele a encara.
— Christian, por favor — murmuro, pegando sua mão. Ele aperta minha mão por um segundo e depois me fita exasperado. — Por favor — suplico.
— Tá bom! — Ele passa a mão pelo cabelo. — Você tem dois minutos — diz, ríspido, à enfermeira, depois se abaixa e beija minha testa antes de se virar e deixar o quarto.
* * *
CHRISTIAN IRROMPE DE volta no quarto dois minutos depois, no momento em que a enfermeira Nora está me ajudando a sair da cama. Estou vestindo uma fina camisola hospitalar. Não me lembro de terem tirado minha roupa.
— Deixe que eu a levo — diz ele, e vem apressado até nós.
— Sr. Grey, eu posso fazer isso — repreende-o a enfermeira Nora.
Ele lança um olhar hostil para ela.
— Mas que droga, ela é minha mulher. Eu é que vou levá-la — diz ele entredentes, e afasta do seu caminho o suporte para soro.
— Sr. Grey! — protesta a enfermeira.
Ele a ignora, abaixa-se e gentilmente me levanta da cama. Passo os braços ao redor do pescoço dele, sob protestos do meu corpo. Nossa, está doendo em tudo quanto é lugar. Ele me carrega até o banheiro enquanto a enfermeira Nora nos acompanha, empurrando o suporte do soro.
— Sra. Grey, você está muito leve — murmura ele em tom de reprovação, e me coloca de pé com cuidado.
Eu me desequilibro. Minhas pernas parecem gelatina. Christian aperta o interruptor e fico momentaneamente cega pela luz fluorescente que estala e treme, ganhando vida.
— Sente-se para não cair — diz ele como se me desse bronca, ainda me segurando.
Hesitante, sento-me no vaso sanitário.
— Saia. — Tento enxotá-lo.
— Não. Faça logo, Ana.
Que coisa mais constrangedora!
— Não consigo; não com você aqui.
— Você pode cair.
— Sr. Grey!
Ambos ignoramos a enfermeira.
— Por favor — suplico.
Ele levanta a mão, aceitando a derrota.
— Estou aqui fora, de porta aberta.
Ele dá alguns passos até se postar de pé logo após a porta, junto com a enfermeira irada.
— Vire de costas, por favor — peço.
Por que me sinto tão ridiculamente tímida com este homem? Ele revira os olhos, mas obedece. E quando ele me dá as costas… eu solto a bexiga, e me alivio.
Verifico meus ferimentos. A cabeça dói, o peito dói no lugar onde Jack me chutou, e a lateral do corpo lateja, no ponto em que caí no chão ao ser empurrada. Além disso, estou com sede e com fome. Minha nossa, muita fome. Eu termino, feliz de não ter que levantar para lavar as mãos, já que a pia é bem próxima. Simplesmente não tenho forças para me levantar.
— Pronto — chamo, secando as mãos na toalha.
Christian retorna, e, antes que eu possa perceber, estou em seus braços novamente. Como senti falta destes braços. Ele faz uma pausa e enterra o nariz no meu cabelo.
— Ah, eu estava com saudades, Sra. Grey — murmura ele, e, com a enfermeira Nora na sua cola, me deita de novo na cama e me solta; relutantemente, eu acho.
— Se o senhor já acabou, Sr. Grey, eu gostaria de verificar a condição da Sra. Grey agora. — A enfermeira Nora está irritadíssima.
Ele se afasta.
— Ela é toda sua — diz, em tom mais contido.
Ela olha irada para Christian e depois volta sua atenção para mim.
Ele é irritante, não é?
— Como se sente? — pergunta-me, a voz entremeada de afabilidade e um traço de irritação; provavelmente devido ao comportamento de Christian.
— Dolorida e com sede. Muita sede — murmuro.
— Vou buscar água depois que verificar seus sinais vitais e que a Dra. Bartley examinar a senhora.
Ela apanha um aparelho de medir a pressão e o envolve em meu braço. Olho ansiosa para Christian. Sua aparência é horrível — parece até um fantasma —, como se ele não dormisse há dias. O cabelo está desgrenhado, a barba não é feita há muito tempo e a camisa está toda amarrotada. Franzo a sobrancelha.
— Como você está se sentindo?
Ele ignora a enfermeira e se senta na ponta da cama.
— Confusa. Dolorida. Faminta.
— Faminta? — Ele pisca, surpreso.
Aquiesço.
— O que quer comer?
— Qualquer coisa. Sopa.
— Sr. Grey, precisamos ter o consentimento da médica antes de a Sra. Grey começar a se alimentar.
Ele a fita impassível por um minuto, depois tira o BlackBerry do bolso da calça e pressiona um número.
— Ana quer canja de galinha… Ótimo… Obrigado. — E desliga.
Dou uma espiada em Nora, que estreita os olhos para Christian.
— Taylor? — pergunto logo.
Christian confirma.
— Sua pressão está normal, Sra. Grey. Vou chamar a médica.
Ela retira a braçadeira e, sem mais nenhuma palavra, sai a passos largos do quarto, irradiando reprovação.
— Acho que você deixou a enfermeira Nora zangada.
— Eu tenho esse efeito sobre as mulheres. — Ele ri com sarcasmo.
Dou uma risada, mas paro subitamente porque a dor se propaga no meu peito.
— É verdade.
— Ah, Ana, adoro ouvir você rir.
Nora volta com uma jarra d’água. Ambos ficamos em silêncio, olhando um ao outro, enquanto ela enche um copo e me oferece.
— Pequenos goles por enquanto — avisa ela.
— Sim, senhora — murmuro, e tomo um delicioso gole de água fresca.
Meu Deus. Que delícia. Tomo outro gole, e Christian me observa intensamente.
— E a Mia? — pergunto.
— Sã e salva. Graças a você.
— Ela estava mesmo com eles?
— Estava.
Toda aquela loucura teve sua razão de ser. Sinto uma onda de alívio invadir meu corpo. Graças a Deus, graças a Deus, graças a Deus ela está bem. Franzo a testa.
— Como eles a capturaram?
— Elizabeth Morgan — responde ele, e diz apenas isso.
— Não!
Ele confirma.
— Ela pegou a Mia na academia.
Continuo sem entender.
— Ana, eu conto os detalhes mais tarde. Mia está bem, apesar de tudo. Ela foi dopada. Ainda está grogue e abalada, mas, por um milagre, não se machucou. — Christian retesa o queixo. — O que você fez — ele passa a mão no cabelo — foi incrivelmente corajoso e incrivelmente estúpido. Você podia ter morrido.
Seus olhos brilham num tom cinzento metálico, frio, e sei que ele está contendo a cólera.
— Eu não sabia mais o que fazer — murmuro.
— Você podia ter me contado! — diz ele com veemência, fechando os punhos no colo.
— Ele disse que mataria a Mia se eu contasse para alguém. Eu não podia correr esse risco.
Christian fecha os olhos, deixando transparecer o terror no rosto.
— Eu morri mil vezes desde quinta-feira.
Quinta-feira?
— Que dia é hoje?
— Quase sábado — diz ele, olhando o relógio de pulso. — Você ficou inconsciente por mais de vinte e quatro horas.
Ah.
— E quanto a Jack e Elizabeth?
— Sob custódia da polícia. Se bem que Hyde está aqui no hospital, sob escolta. Tiveram que remover a bala que você enfiou nele — diz Christian em tom amargo. — Felizmente não sei em que ala ele se encontra, ou era provável que eu mesmo matasse o canalha. — Seu rosto escurece.
Ah, merda. Jack está aqui?
Empalideço ao me lembrar de suas palavras: “Isso é pela SIP, sua piranha filha da puta!” Meu estômago vazio dá um nó, as lágrimas brotam nos meus olhos e um estremecimento percorre meu corpo.
— Ei. — Christian se aproxima, a voz cheia de preocupação. Ele tira o copo da minha mão e me envolve ternamente nos braços. — Agora você está a salvo — murmura ele por entre o meu cabelo, a voz embargada.