— Christian, me perdoe. — As lágrimas começam a cair.
— Shhh. — Ele acaricia meu cabelo e eu choro agarrada ao seu pescoço.
— Pelo que eu disse. Eu jamais ia abandonar você.
— Shhh, baby, eu sei.
— Você sabe? — Minhas lágrimas cessam.
— Eu deduzi. Depois de um tempo. Francamente, Ana, onde você estava com a cabeça? — Sua voz soa tensa.
— Você me pegou de surpresa — murmuro contra seu colarinho. — Quando a gente se falou no banco. Achando que eu ia deixar você. Pensei que você me conhecesse melhor. Eu já disse milhares de vezes que nunca vou deixar você.
— Mas depois da maneira horrível como eu me comportei… — Quase não consigo ouvi-lo, e seus braços me estreitam mais. — Por um curto tempo, cheguei a pensar que tinha perdido você.
— Não, Christian. Nunca. Eu não queria que você interferisse, para não pôr a vida da Mia em perigo.
Ele solta um suspiro, que não sei se vem da raiva, da irritação ou da mágoa.
— Como você deduziu? — apresso-me a perguntar, para desviá-lo para outros pensamentos.
Ele coloca meu cabelo atrás da orelha.
— Eu tinha acabado de aterrissar em Seattle quando o banco ligou. A última notícia que eu tinha era de que você estava doente e indo para casa.
— Então você estava em Portland quando o Sawyer telefonou do carro?
— Estávamos prestes a levantar voo. Fiquei preocupado com você — diz ele suavemente.
— Ficou?
Ele franze a testa.
— É claro que fiquei. — Ele passa o polegar no meu lábio inferior. — Eu só faço me preocupar com você. E você sabe muito bem disso.
Ah, Christian!
— Jack me ligou quando eu estava no trabalho — murmuro. — Ele me deu duas horas para conseguir o dinheiro. — Dou de ombros. — Eu tinha que ir embora, e essa me pareceu a melhor desculpa.
Christian comprime os lábios, que formam uma linha reta.
— E você passou a perna no Sawyer. Ele também está bravo com você.
— Também?
— Também; assim como eu.
Hesitante, toco seu rosto e passo os dedos pela sua barba por fazer. Ele fecha os olhos, inclinando-se na direção dos meus dedos.
— Por favor, não fique bravo comigo — sussurro.
— Estou muito bravo com você. O que você fez foi de uma estupidez monumental. No limite da insanidade.
— Já falei, eu não sabia o que fazer.
— Você não parece ter nenhuma consideração com a sua segurança pessoal. E agora não é só você — acrescenta, irritado.
Meus lábios tremem. Ele está pensando no nosso Pontinho.
A porta se abre, e levamos um susto. Uma jovem negra vestindo um jaleco branco sobre um traje cinza de médico entra no quarto.
— Boa noite, Sra. Grey. Sou a Dra. Bartley.
Ela começa a me examinar minuciosamente, acendendo uma lanterna nos meus olhos, me fazendo tocar seus dedos e depois meu nariz com um dos olhos fechados, primeiro o esquerdo e depois o direito, verificando todos os meus reflexos. Mas sua voz é suave e seu toque, agradável; ela é gentil. A enfermeira Nora a assiste, e Christian vai para um canto do quarto e dá alguns telefonemas enquanto as duas cuidam de mim. É difícil me concentrar na Dra. Bartley, na enfermeira Nora e em Christian simultaneamente, mas noto que ele ligou para o pai dele, para minha mãe e para Kate, com o intuito de contar que acordei. Finalmente, ele deixa uma mensagem para Ray.
Ray. Ah, merda… Tenho uma vaga lembrança de ouvir a voz dele. Ele esteve aqui… sim, enquanto eu ainda estava inconsciente.
A Dra. Bartley examina minhas costelas, apertando delicada mas firmemente.
Eu me retraio.
— A senhora bateu com as costelas, mas não vejo sinais de fissura ou fratura. Teve muita sorte, Sra. Grey.
Faço uma careta. Sorte? Não é exatamente a palavra que eu usaria. Christian também faz cara feia para a médica. Ele mexe os lábios, dizendo-me alguma coisa em silêncio. Acho que é bobagem, mas não tenho certeza.
— Vou lhe receitar alguns analgésicos. A senhora vai precisar tomar não só para a dor nas costelas, mas também para a dor de cabeça que deve estar sentindo. Mas parece estar tudo no lugar, Sra. Grey. Sugiro que durma um pouco. Dependendo de como se sentir amanhã de manhã, podemos tentar lhe dar alta. A Dra. Singh vai examinar a senhora amanhã.
— Obrigada.
Alguém bate à porta, e Taylor entra trazendo uma caixa de papelão com a marca Fairmont Olympic escrita em cor creme.
Puta merda!
— Comida? — pergunta a Dra. Bartley, surpresa.
— A Sra. Grey está com fome — retruca Christian. — É canja de galinha.
A Dra. Bartley sorri.
— Pode tomar, mas só o caldo. Nada pesado. — Ela olha fixamente para nós dois e sai do quarto com a enfermeira Nora.
Christian empurra a bandeja com rodinhas na minha direção e Taylor coloca a caixa em cima.
— Bem-vinda de volta, Sra. Grey.
— Olá, Taylor. Obrigada.
— A senhora é muito bem-vinda, madame. — Acho que ele quer dizer mais alguma coisa, mas se contém.
Christian abre a caixa e retira de dentro uma garrafa térmica, uma tigela para sopa, um prato auxiliar, guardanapo de linho, colher de sopa, uma pequena cesta com pãezinhos, saleiro e pimenteira de prata… O Olympic veio inteiro ao hospital.
— Isso está maravilhoso, Taylor.
Meu estômago ronca. Estou faminta.
— Mais alguma coisa? — pergunta ele.
— Não, obrigado — responde Christian, liberando-o.
Taylor faz um gesto de aquiescência.
— Obrigada, Taylor.
— A senhora não quer mais nada, Sra. Grey?
Olho para Christian.
— Apenas roupa limpa para o meu marido.
Taylor sorri.
— Sim, senhora.
Christian olha para a própria camisa, confuso.
— Há quanto tempo você está com essa camisa? — pergunto.
— Desde quinta de manhã. — Ele me dá um sorriso meio torto.
Taylor sai do quarto.
— Ele também está bravo com você — acrescenta Christian, amuado, desenroscando a tampa da garrafa térmica e vertendo uma cremosa canja de galinha na tigela.
Taylor também! Mas não penso nisso, pois estou concentrada na minha sopa. O cheiro é delicioso, e uma fumaça sobe da tigela convidativamente. Provo um pouco: o sabor é exatamente o que prometia ser.
— Está bom? — pergunta Christian, empoleirando-se novamente na cama.
Confirmo com entusiasmo e não paro de comer. Estou com uma fome de leão. Só interrompo para limpar a boca com o guardanapo.
— Conte o que aconteceu depois que você percebeu o que estava havendo.
Christian passa a mão pelo cabelo e balança a cabeça.
— Ah, Ana, como é bom ver você comer.
— Estou com fome. Conte.
Ele franze o cenho.
— Bom, depois que me ligaram do banco, e que eu pensei que o mundo inteiro tinha desmoronado… — Ele não consegue ocultar a dor na voz.
Paro de comer. Ah, merda.
— Não pare de comer, ou eu vou parar de falar — sussurra ele, num tom de voz bem rígido, encarando-me com censura.
Continuo a tomar a sopa. Certo, certo… Caramba, que gostoso. Christian suaviza o olhar e, após um instante, continua o relato:
— Enfim: depois que falei com você e desliguei, Taylor me informou que o Hyde tinha sido solto sob fiança. Como ele conseguiu, eu não sei, pois achei que tivéssemos impedido qualquer tentativa nesse sentido. Mas isso me fez parar para pensar no que você tinha dito… e então eu percebi que havia alguma coisa muito errada.
— Nunca foi pelo dinheiro — disparo repentinamente, sentindo uma onda inesperada de raiva atravessar meu ventre. Minha voz se eleva. — Como você pôde pensar isso? Nunca me interessei pelo seu maldito dinheiro de merda!