Minha cabeça começa a latejar. Christian me olha pasmo por um átimo, surpreso com minha veemência. Ele estreita os olhos.
— Olha essa língua — vocifera. — Acalme-se e coma.
Olho para ele com ar hostil.
— Ana — repreende-me.
— Isso me magoou mais do que qualquer outra coisa, Christian — sussurro. — Quase tanto quanto você ter ido ver aquela mulher.
Ele inspira com força, como se eu tivesse lhe dado um tapa, e subitamente parece exausto. Fechando os olhos por um instante, balança a cabeça, resignado.
— Eu sei. — Ele solta um suspiro. — E estou muito arrependido. Mais do que você possa imaginar. — Seus olhos irradiam contrição. — Por favor, continue comendo. Enquanto a sopa ainda está quente. — Sua voz é suave, impelindo-me a comer, e faço o que ele pede. Ele suspira de alívio.
— Continue — murmuro, entre uma mordida e outra no ilícito pãozinho branco e fresco.
— Não sabíamos que a Mia tinha sido sequestrada. Achei que talvez ele estivesse chantageando você ou coisa parecida. Liguei para o seu celular, mas você não atendia. — Ele assume um ar zangado. — Deixei uma mensagem e liguei para o Sawyer. Taylor começou a rastrear o seu celular. Eu sabia que você estava no banco, então fomos direto para lá.
— Eu não sei como o Sawyer me encontrou. Ele também estava rastreando o meu celular?
— O Saab tem um dispositivo de rastreamento. Todos os nossos carros têm. Quando chegamos ao banco, você já estava partindo, e nós seguimos. Por que está rindo?
— No fundo eu sabia que você estaria me seguindo.
— E por que isso é engraçado? — pergunta ele.
— Jack me instruiu a me livrar do celular. Então, eu peguei o do Whelan emprestado, e foi esse que eu joguei fora. O meu, eu coloquei dentro de uma das sacolas de lona, para que você pudesse rastrear o seu dinheiro.
Christian suspira.
— Nosso dinheiro, Ana — diz ele com suavidade. — Coma.
Raspo a tigela de sopa com o último pedaço de pão e o enfio na boca. Pela primeira vez em muito tempo me sinto satisfeita, apesar de nossa conversa.
— Acabei.
— Boa menina.
Alguém bate à porta, e a enfermeira Nora entra novamente, trazendo um pequenino copo de papel. Christian retira meu prato e começa a pôr todos os itens de volta na caixa.
— Analgésico. — Nora sorri, mostrando-me o comprimido branco dentro do copo.
— Não tem problema tomar isso? Sabe… por causa do bebê?
— Não, Sra. Grey. É paracetamol com hidrocona; não vai afetar o bebê.
Aquiesço, aliviada. Minha cabeça está latejando. Engulo o comprimido com um gole d’água.
— A senhora deveria repousar, Sra. Grey. — A enfermeira olha incisivamente para Christian.
Ele concorda.
Não!
— Você vai embora? — exclamo, entrando em pânico. Não vá… mal começamos a conversar!
Christian bufa:
— Sra. Grey, se você pensou por um minuto que vou deixar você fora da minha vista, está muito enganada.
Nora parece ofendida, mas se aproxima de mim e arruma meus travesseiros para que eu possa me deitar.
— Boa noite, Sra. Grey — diz ela, e, lançando mais um olhar de censura para Christian, sai do quarto.
Ele levanta uma sobrancelha quando ela fecha a porta.
— Acho que a enfermeira Nora não gosta de mim.
Ele está de pé ao lado da cama, com aparência cansada, e, apesar de eu querer que ele fique, sei que preciso tentar convencê-lo a ir para casa.
— Você precisa descansar também, Christian. Vá para casa. Você parece exausto.
— Não vou deixar você. Posso dormir na poltrona.
Faço uma cara brava e então me viro de lado.
— Durma comigo.
Ele franze a testa.
— Não. Não posso.
— Por que não?
— Não quero machucar você.
— Você não vai me machucar. Por favor, Christian.
— Você está com o soro.
— Christian. Por favor.
Ele me fita, e percebo que está tentado.
— Por favor.
Levanto os cobertores, como um convite para que ele suba na cama.
— Que se foda.
Ele tira os sapatos e as meias e cautelosamente se acomoda ao meu lado. Ele me abraça com cuidado, e descanso a cabeça em seu peito. Ele beija meu cabelo.
— Acho que a enfermeira Nora não vai ficar muito feliz com isso — sussurra em tom conspiratório.
Dou uma risada, mas tenho que parar por causa da dor que atravessa meu peito.
— Não me faça rir, porque dói.
— Ah, mas eu adoro ouvir você rindo — diz ele com certa tristeza, em voz baixa. — Eu sinto muito, baby, sinto muito mesmo.
Ele beija meu cabelo de novo e inspira profundamente. Não sei por que está pedindo desculpas… por me fazer rir? Ou pela confusão em que nos metemos? Descanso a mão sobre seu coração e ele delicadamente a cobre com a sua. Ficamos ambos em silêncio por um momento.
— Por que você foi se encontrar com aquela mulher?
— Ah, Ana. — Ele solta um gemido. — Você quer discutir isso agora? Não podemos simplesmente esquecer? Eu me arrependi, caramba!
— Eu preciso saber.
— Amanhã eu explico — balbucia ele, irritado. — Ah, e o detetive Clark quer falar com você. Apenas rotina. Agora vá dormir.
Ele beija meu cabelo e eu suspiro alto. Preciso saber por quê. Pelo menos ele diz estar arrependido. Já é alguma coisa, admite meu inconsciente, que aparentemente está de bom humor hoje. Argh, o detetive Clark. Estremeço só de pensar em reviver os eventos de quinta-feira.
— Já descobriram por que o Jack estava fazendo isso tudo?
— Hmm — murmura Christian.
O movimento do seu peito, subindo e descendo devagar, me acalma, balançando minha cabeça de leve, me ninando à medida que sua respiração fica mais lenta. E, enquanto vou caindo no sono, tento dar sentido aos fragmentos de conversa que ouvi quando estava no limiar da consciência, mas eles fogem da minha mente, permanecendo completamente indefinidos, zombando de mim nos recônditos da minha memória. Ah, é tão frustrante e cansativo… e…
* * *
A ENFERMEIRA NORA tem a boca franzida e os braços cruzados em hostilidade. Levo o dedo aos lábios.
— Por favor, deixe-o dormir — sussurro, apertando os olhos ante a luz do início da manhã.
— Esta cama é da senhora, não dele — fala ela baixinho, mas num tom ríspido e severo.
— Eu dormi melhor porque ele estava aqui — insisto, em defesa do meu marido. Além do mais, é verdade. Christian se mexe, e tanto a enfermeira Nora quanto eu ficamos imóveis.
Ele resmunga adormecido.
— Não me toque. Nunca mais. Só a Ana.
Franzo a testa. Raramente ouço Christian falar durante o sono. É verdade que talvez seja porque ele dorme menos do que eu. Só ouvia algo quando ele tinha pesadelos. Seus braços em volta de mim me apertam com mais força, e eu estremeço.
— Sra. Grey… — A enfermeira me olha furiosa.
— Por favor — suplico.
Ela balança a cabeça, vira-se e sai; e eu me aconchego em Christian novamente.
* * *
QUANDO ACORDO, NÃO vejo Christian por perto. O sol brilha forte através da vidraça, e agora realmente me sinto bem no quarto. Ganhei flores! Não tinha reparado isso ontem à noite. Vários buquês. Quem será que enviou?
Uma leve batida à porta me distrai, e Carrick espia para dentro do quarto. Ele sorri feliz quando me vê acordada.
— Posso entrar? — pergunta ele.
— Claro.
Carrick entra no quarto a passos largos e se aproxima da cama, seus suaves e gentis olhos azuis me avaliando intensamente. Ele veste um terno escuro — deve estar no meio do expediente. E me surpreende ao se inclinar e beijar minha testa.
— Posso me sentar?
Faço um gesto de consentimento, ao que ele se acomoda na beirada da cama e pega minha não.