Eu também sorrio, apertando os olhos para retrucar:
— Tenho meus recursos.
— Ah, se tem — murmura ele, e solta minha mão para me puxar para si.
Christian me abraça, enterrando o nariz no meu cabelo. Retribuo, apertando-o com força, e sinto a tensão deixando seu corpo enquanto ele roça o rosto no meu.
— Estou perdoado?
— Eu estou?
Sinto seu sorriso.
— Está — responde ele.
— Idem.
Continuamos abraçados, minha irritação já esquecida. O cheiro que vem do seu corpo é muito bom, seja ele um adolescente ou não. Como posso resistir a esse homem?
— Está com fome? — pergunta ele depois de um tempo.
Estou de olhos fechados, minha cabeça recostada a seu peito.
— Sim. Faminta. Toda a nossa… hã… atividade abriu meu apetite. Mas não estou vestida para um jantar.
Tenho certeza de que minha calça de moletom e minha blusa de ficar em casa receberiam olhares de desaprovação na sala de jantar.
— Para mim você está ótima, Anastasia. Além disso, o barco é nosso esta semana. Podemos nos vestir como quisermos. Imagine que hoje é uma terça-feira casual na Côte D’Azur. De qualquer maneira, pensei em comermos no deque.
— É, seria bom.
Ele me beija — um fervoroso beijo de “desculpas” —, e então seguimos de mãos dadas até a proa, onde o gaspacho nos espera.
* * *
O GARÇOM SERVE nosso crème brulée e discretamente se retira.
— Por que você sempre faz uma trança no meu cabelo? — pergunto a Christian, por curiosidade.
Estamos à mesa, sentados um ao lado do outro, minha perna enroscada na dele. Prestes a pegar a colher de sobremesa, ele faz uma pausa e franze o cenho.
— Não quero que seu cabelo fique preso em alguma coisa — responde baixinho, e, por um momento, perde-se em pensamentos. — Hábito, eu acho — continua ele, absorto. E de repente franze o cenho, arregala os olhos, as pupilas dilatando em sinal de alarme.
Do que ele se lembrou? Algo doloroso, alguma recordação de infância, eu acho. Não quero que ele fique pensando nisso. Inclino-me para a frente e encosto o indicador nos seus lábios.
— Não, não importa. Não preciso saber. Só estava curiosa.
Dou um sorriso afetuoso e tranquilizador. Sua expressão é tensa; depois de um momento, porém, ele visivelmente baixa a guarda, demonstrando alívio. Eu me inclino para beijá-lo no cantinho da boca.
— Eu amo você — digo em um sussurro. Como resposta, ele abre aquele seu sorriso tímido de doer o coração; eu me derreto. — Sempre vou amar você, Christian.
— E eu, você — diz ele suavemente.
— Apesar da minha desobediência? — brinco, erguendo as sobrancelhas.
— Por causa da sua desobediência, Anastasia. — Ele dá uma risada.
Quebro a camada de açúcar queimado da minha sobremesa com a colher e balanço a cabeça. Será que algum dia vou entender esse homem? Hmm — o crème brulée está delicioso.
* * *
ASSIM QUE O GARÇOM retira nossos pratos, Christian pega a garrafa de vinho rosé e enche a minha taça. Verifico se estamos sozinhos e pergunto:
— Por que você me disse para não ir ao banheiro?
— Quer realmente saber? — Ele dá um meio-sorriso, os olhos iluminados por um brilho indecente.
— Será que eu quero? — Olho para ele com os olhos apertados, tomando um gole de vinho.
— Quanto mais cheia a sua bexiga, mais intenso o orgasmo, Ana.
Fico ruborizada.
— Ah, entendi.
Nossa, isso explica muita coisa.
Ele ri, com ar de sabe-tudo. Será que sempre estarei atrás do Sr. Especialista em Sexo em termos de conhecimento?
— Ah, sim. Bem…
Tento desesperadamente mudar de assunto. Ele vem em meu socorro:
— O que você quer fazer o resto da noite? — Ele inclina a cabeça para o lado e abre aquele seu sorrisinho torto.
O que você quiser, Christian. Testar sua teoria de novo? Dou de ombros.
— Eu sei o que eu quero fazer — murmura. E, pegando sua taça de vinho, ele se levanta e estende a mão para mim. — Venha.
Pego sua mão e sou conduzida ao salão principal.
Seu iPod está conectado ao alto-falante, sobre o aparador. Ele liga o aparelho e escolhe uma música.
— Dance comigo. — Ele me puxa para seus braços.
— Já que você insiste…
— Eu insisto, Sra. Grey.
Uma melodia provocante e cafona começa a tocar. É um ritmo latino? Christian sorri maliciosamente para mim e começa a se mover, fazendo meus pés deslizarem ao me guiar pelo salão.
Um homem com voz açucarada canta apaixonadamente. Eu conheço a música, mas não consigo reconhecer de onde. Christian me joga para trás, dou um gritinho de surpresa e rio. Ele sorri, os olhos transbordando bom humor. Então ele me levanta de volta e rodopia comigo nos braços.
— Você dança tão bem — digo. — Parece até que eu sei dançar também.
Ele me lança um sorriso enigmático, mas não diz uma palavra; fico me perguntando se é porque ele está pensando nela… na Mrs. Robinson, a mulher que o ensinou a dançar — e a fazer sexo. Eu não me lembrava dela havia algum tempo. Christian não a menciona desde seu aniversário e, pelo que eu saiba, a relação profissional deles já é águas passadas. Embora relutante, tenho que admitir: ela foi uma boa professora.
Ele me abaixa de novo e me dá um rápido beijo na boca.
— Eu sentiria falta do seu amor — murmuro, repetindo a letra da música.
— Eu sentiria mais do que falta do seu amor — diz ele, e me gira mais uma vez. Então canta suavemente no meu ouvido, deixando-me em êxtase.
A música acaba e Christian me fita, os olhos escuros e luminosos, sem mais traços de humor; subitamente fico sem fôlego.
— Vem para a cama comigo? — sussurra ele, em um pedido sincero que toca meu coração.
Christian, você me ouviu dizer “eu aceito” duas semanas e meia atrás: eu sou sua. Mas sei que essa é a sua maneira de pedir desculpas e ter certeza de que está tudo bem entre nós depois da briga.
* * *
QUANDO ACORDO, O brilho do sol entra pelas escotilhas e a água reflete desenhos tremeluzentes no teto da cabine. Christian não está aqui. Eu me espreguiço e sorrio. Hmm… Eu toparia mais uma sessão de sexo punitivo seguido de amor reconciliatório qualquer outro dia. Como é maravilhoso ir para a cama com dois homens diferentes — o Christian zangado e o Christian eu-quero-me-desculpar-com-você-de-qualquer-maneira. É difícil dizer de qual gosto mais.
Eu me levanto e vou ao banheiro. Quando abro a porta, encontro Christian lá dentro fazendo a barba. Nu, exceto por uma toalha enrolada na cintura. Ele se vira e sorri, sem se incomodar por eu tê-lo interrompido. Já descobri que Christian nunca vai trancar a porta se ele for a única pessoa no cômodo — ele tem um motivo razoável para agir assim, e não gosto de pensar no assunto.
— Bom dia, Sra. Grey — diz ele, irradiando bom humor.
— Bom dia.
Sorrio de volta, observando-o. Adoro vê-lo fazer a barba. Ele eleva o queixo e raspa embaixo, com movimentos longos e metódicos, e eu me pego inconscientemente imitando-o. Estico o lábio superior para baixo, assim como ele, para raspar entre o nariz e a boca. Ele se vira e sorri, metade do rosto ainda coberta de espuma de barbear.
— Aproveitando o espetáculo? — pergunta.
Ah, Christian, eu poderia passar horas olhando você.
— Um dos meus programas preferidos — murmuro, ao que ele se inclina e me dá um selinho, sujando meu rosto de espuma.
— Quer que eu faça de novo? — sussurra ele, maldosamente, segurando o barbeador.
Franzo os lábios para ele.
— Não — resmungo, fingindo estar zangada. — Vou depilar da próxima vez.