— Minha querida maluca corajosa, não sei como agradecer pelo que você fez pela minha filha. Você salvou a vida de Mia. Minha dívida será eterna. — Sua voz vacila, repleta de gratidão e compaixão.
Ah… Não sei o que dizer. Aperto sua mão, mas permaneço muda.
— Como está se sentindo?
— Melhor. Dolorida. — Opto pela sinceridade.
— Eles lhe deram alguma coisa para a dor?
— Hidro… alguma coisa.
— Ótimo. Cadê o Christian?
— Não sei. Quando acordei, ele já tinha saído.
— Não deve estar longe, aposto. Ele não saiu do seu lado enquanto você esteve inconsciente.
— Eu sei.
— Ele está um pouco bravo com você, o que é compreensível.
Carrick dá um sorriso irônico. Ah, então foi com ele que Christian aprendeu.
— Ele vive bravo comigo.
— É mesmo?
Carrick sorri, satisfeito — como se fosse uma coisa boa. Seu sorriso é contagioso.
— Como vai a Mia?
Seus olhos então se anuviam, e o sorriso desaparece.
— Melhor. Com raiva de Deus e do mundo. Acho que a raiva é uma reação saudável para o que ela passou.
— Ela está internada aqui?
— Não, já voltou para casa. Acho que a Grace não vai tirar os olhos dela nunca mais.
— Sei como é.
— Você também precisa de vigilância — repreende-me ele. — Não quero nunca mais vê-la colocar em risco a sua vida e a do meu neto por bobagem.
Fico vermelha. Ele sabe!
— Grace leu o seu prontuário. Ela me contou. Parabéns.
— Hmm… obrigada.
Ele me fita e seus olhos tornam-se mais suaves, embora franza a testa ao notar minha expressão.
— O Christian vai se acostumar — diz gentilmente. — Vai ser ótimo para ele. É só… lhe dar um pouco de tempo.
Aquiesço. Ah… Eles conversaram.
— Acho que é melhor eu ir. Estão me esperando no tribunal. — Ele sorri e se levanta. — Venho ver você mais tarde. Grace fala muito bem da Dra. Singh e da Dra. Bartley. Elas sabem o que estão fazendo.
Ele se curva para me beijar novamente.
— Eu falei de coração, Ana. Não tenho como retribuir o que você fez por nós. Muito obrigado.
Ergo o olhar para ele, piscando bastante para segurar as lágrimas, pois subitamente me sinto emocionada, e ele afaga minha face com ternura. Depois se vira e sai.
Puxa vida. Fico tocada com a gratidão dele. Talvez agora eu consiga parar de pensar no fiasco do acordo pré-nupcial. Meu inconsciente sabiamente faz um gesto de anuência, mais uma vez concordando comigo. Balanço a cabeça e saio da cama com cautela. É um alívio ver que estou muito mais firme sobre as pernas do que ontem. Apesar de Christian ter dividido a pequena cama comigo, dormi bem e me sinto revigorada. Minha cabeça ainda dói, porém é mais um incômodo, nada comparado ao latejar de ontem. Estou meio dura e dolorida, mas preciso apenas de um banho: sinto-me encardida. Então, me dirijo ao banheiro.
* * *
— ANA! — GRITA CHRISTIAN.
— Estou no banheiro — respondo enquanto termino de escovar os dentes.
Bem melhor. Ignoro meu reflexo no espelho. Droga, estou horrível. Quando abro a porta, Christian está junto à cama segurando uma bandeja de comida. Ele é outra pessoa. Inteiramente de preto, está barbeado, limpo e com ar descansado.
— Bom dia, Sra. Grey — diz ele com vivacidade. — Trouxe o café da manhã. — Ele parece um garotinho, e tão feliz!
Uau. Ao subir na cama, dou um imenso sorriso. Ele puxa a bandeja com rodinhas e abre a tampa para mostrar o café da manhã: mingau de aveia com frutas secas, panquecas com calda de bordo, bacon, suco de laranja e chá Twinings. Fico com água na boca; estou morrendo de fome. Acabo com o suco de laranja em apenas alguns goles e devoro o mingau. Christian se senta na beirada da cama para observar. Ele ri.
— O que foi? — pergunto, de boca cheia.
— Gosto de ver você comer — responde ele. Mas não creio que seja por isso. — Como está se sentindo hoje?
— Melhor — murmuro entre uma garfada e outra.
— Nunca vi você comer assim.
Olho para ele, e meu coração se contrai. Temos que parar de ignorar esse minúsculo elefante branco.
— É porque eu estou grávida, Christian.
Ele solta um resmungo e torce a boca num sorriso irônico.
— Se eu soubesse que assim você ia comer, eu a teria engravidado antes.
— Christian Grey! — exclamo, e largo o prato de mingau.
— Não pare de comer — adverte ele.
— Christian, precisamos falar sobre isso.
Ele fica imóvel.
— Falar o quê? Vamos ser pais.
Ele dá de ombros, tentando desesperadamente parecer indiferente, mas tudo que vejo é o seu medo. Afastando a bandeja, desço da cama e pego as mãos dele entre as minhas.
— Você está com medo — sussurro. — Eu sei disso.
Ele me fita impassível, os olhos bem abertos; sua expressão de menino se foi.
— Eu também estou. É normal — digo.
— Que tipo de pai eu posso pensar em ser? — Sua voz está rouca, quase inaudível.
— Ah, Christian. — Contenho um soluço. — Um pai que dá o melhor de si. É tudo o que podemos fazer.
— Ana… Não sei se eu consigo…
— É claro que consegue. Você é amoroso, é engraçado, é forte, você vai estabelecer os limites. Não vai faltar nada ao nosso filho.
Ele permanece estático, me olhando, a dúvida estampada em seu lindo rosto.
— Sim, o ideal teria sido esperar mais. Ter mais tempo só para nós dois. Mas agora vamos ser nós três, e vamos todos crescer juntos. Seremos uma família. Nossa própria família. E o seu filho vai amar você incondicionalmente, como eu. — Sinto as lágrimas brotando nos olhos.
— Ah, Ana — sussurra Christian, a voz angustiada e aflita. — Eu pensei que tinha perdido você. Depois pensei que tinha perdido você de novo. Vê-la caída no chão, pálida, fria, inconsciente… vi meus piores medos transformados em realidade. E agora você está aqui, forte e corajosa… me transmitindo esperança. E me amando depois de tudo o que eu fiz.
— É verdade, eu amo você, Christian, desesperadamente. Vou amar você para sempre.
Ele segura minha cabeça com delicadeza e limpa minhas lágrimas com os polegares. Nossos olhares se encontram, e capto seu medo, sua admiração, seu amor.
— Eu também amo você — fala ele, baixinho. E me beija com ternura e afeição, como um homem que adora a esposa. — Vou tentar ser um bom pai — acrescenta, seus lábios contra os meus.
— Vai tentar, vai conseguir. E verdade seja dita: você não tem opção, porque o Pontinho e eu não vamos a lugar algum.
— Pontinho?
— Pontinho.
Ele levanta as sobrancelhas.
— Eu tinha pensado em Júnior.
— Que seja Júnior, então.
— Mas eu gostei de Pontinho.
Ele sorri timidamente e me beija mais uma vez.
CAPÍTULO VINTE E QUATRO
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—Por mais que eu queira passar o dia todo beijando você, o seu café da manhã está esfriando — murmura Christian, com os lábios grudados nos meus. Ele me fita, achando graça, mas seus olhos ficam mais escuros e sensuais. Puta merda, ele mudou de novo. Meu Sr. Instável. — Coma — ordena ele, com voz suave.
Engulo em seco diante do seu olhar provocante, e volto para a cama, com cuidado para não puxar o tubo do soro. Ele empurra a bandeja para mim. O mingau de aveia esfriou, mas as panquecas, ainda cobertas, estão boas — na verdade, são de dar água na boca.
— Você sabe — falo entre uma garfada e outra — que o Pontinho pode ser uma menina, não sabe?
Christian passa a mão no cabelo.
— Duas mulheres, hein? — Seu rosto revela sobressalto, e o olhar sedutor desaparece.