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Por um instante ele me observa com um orgulho paterno mal disfarçado.

— Ainda bem que você sabe atirar direito — diz ele, com a voz áspera. — Agora, vá para casa e descanse um pouco.

— Você está com uma aparência boa, pai. — Tento mudar de assunto.

— Você está pálida.

O medo está estampado em seu rosto. Sua expressão é a mesma de Christian ontem à noite. Seguro sua mão.

— Eu estou bem. Prometo que não vou mais fazer uma coisa dessas.

Ele aperta minha mão e me puxa para um abraço.

— Se acontecesse alguma coisa com você… — sussurra ele, numa voz rouca e baixa.

Meus olhos se enchem de lágrimas. Não estou habituada a ver meu padrasto fazendo demonstrações abertas de afeto.

— Pai, eu estou bem. Nada que um bom banho quente não cure.

* * *

SAÍMOS PELA PORTA dos fundos do hospital, para evitar os paparazzi amontoados na entrada principal. Taylor nos conduz ao SUV que está à nossa espera.

Christian fica calado durante o caminho para casa. Constrangida, procuro evitar o olhar de Sawyer pelo retrovisor, já que a última vez que o vi foi quando o despistei no banco. Ligo para minha mãe, que está aos prantos. Durante todo o percurso do hospital para casa eu tento acalmá-la, mas afinal acabo conseguindo, sob a promessa de que vou visitá-la em breve. Enquanto estou ao telefone, Christian fica segurando minha mão, acariciando-a com o polegar. Ele está nervoso… aconteceu alguma coisa.

— O que foi? — pergunto quando finalmente me livro da minha mãe.

— O Welch quer me ver.

— O Welch? Por quê?

— Ele descobriu alguma coisa sobre aquele filho da mãe do Hyde. — Seus lábios se dobram em fúria; uma onda de medo atravessa meu corpo. — Não quis me contar o que era pelo telefone.

— Ah.

— Ele vem de Detroit hoje à tarde.

— Você acha que ele descobriu alguma ligação?

Ele assente.

— O que acha que é?

— Não faço ideia. — E suas sobrancelhas se enrugam em perplexidade.

Taylor entra na garagem do Escala e, antes de estacionar, para junto ao elevador para sairmos. Ali dentro podemos evitar a atenção dos fotógrafos de plantão. Christian me ajuda a descer. Com o braço em volta da minha cintura, me leva até o elevador.

— Feliz de chegar em casa? — pergunta ele.

— Sim — sussurro.

Porém, quando me vejo no ambiente familiar do elevador, a enormidade daquilo por que passei me faz desabar e começo a tremer.

— Ei… — Christian me envolve em seus braços e me puxa para si. — Você está em casa. Está tudo bem — diz, beijando meu cabelo.

— Ah, Christian.

Começo a soluçar, liberando uma represa de lágrimas que eu nem sabia que estava prestes a se romper.

— Shhh — sussurra Christian, aninhando minha cabeça contra seu peito.

Mas é tarde demais. Completamente abalada pelas minhas emoções, choro na camiseta dele, lembrando-me do ataque cruel de Jack (“Isso é pela SIP, sua piranha filha da puta!”), das minhas palavras ao dizer a Christian que o estava deixando (“Você vai embora?”) e de meu temor, meu temor visceral por Mia, por mim mesma e pelo meu Pontinho.

Quando as portas do elevador se abrem, Christian me pega como se eu fosse uma criança e me carrega pelo hall. Enrosco as mãos em seu pescoço e me agarro nele, chorando em silêncio.

Ele me carrega até o banheiro e me coloca delicadamente na cadeira.

— Quer tomar um banho de banheira? — pergunta.

Balanço a cabeça. Não… não… não como a Leila.

— Uma chuveirada? — Sua voz está engasgada de preocupação.

Por entre as lágrimas, faço um gesto de anuência. Quero me lavar da sensação de sujeira dos últimos dias, me livrar da lembrança da agressão de Jack. “Sua puta vendida.” Continuo a soluçar, o rosto entre as mãos, enquanto o som da água caindo do chuveiro ecoa nas paredes.

— Ei — sussurra Christian, ajoelhando-se na minha frente.

Ele tira as minhas mãos do meu rosto banhado de lágrimas e o segura em suas mãos. Eu o fito, piscando para afastar as lágrimas.

— Você está a salvo. Vocês dois — murmura ele.

Eu e o Pontinho. Meus olhos novamente se enchem de lágrimas.

— Agora pare. Não suporto ver você chorar. — Sua voz está rouca. Seus polegares limpam minha face, mas as lágrimas teimam em cair.

— Eu sinto muito, Christian. Por tudo. Por fazer você ficar preocupado, por arriscar tudo… pelo que eu disse.

— Não fale mais, querida, por favor. — Ele beija minha testa. — Também sinto muito. Também errei muito, Ana. — Ele me dá um sorriso torto. — Eu disse e fiz coisas das quais não me orgulho. — Seus olhos cinzentos estão desolados, arrependidos. — Vou tirar sua roupa — diz ele, com a voz suave. Limpo o nariz com as costas da mão, e ele beija minha testa mais uma vez.

Christian tira minha roupa com agilidade, sendo especialmente cuidadoso ao passar a camiseta pela minha cabeça. Mas já não sinto tanta dor de cabeça. Ele me conduz até o chuveiro e tira a própria roupa em tempo recorde, para então entrar comigo embaixo da água tão quente e agradável. Christian me puxa para si e me abraça por um longo tempo, enquanto a água cai sobre nós dois, confortando-nos.

Ele me deixa chorar colada ao seu peito. De vez em quando beija minha cabeça, mas não me solta, apenas me balança suavemente sob a água morna. É tão bom sentir sua pele contra a minha, os pelos do seu peito no meu rosto… o homem que amo, este homem belo e inseguro, o homem que eu poderia ter perdido por causa da minha irresponsabilidade. Sinto-me vazia e angustiada diante desse pensamento, mas ao mesmo tempo aliviada por ele estar aqui, ainda aqui — apesar de tudo o que aconteceu.

Ainda me deve explicações, mas no momento quero aproveitar a sensação dos seus braços protetores e reconfortantes ao redor do meu corpo. E é então que me ocorre: quaisquer explicações têm que vir dele próprio. Não posso forçá-lo a nada… é preciso que ele queira me contar. Não vou passar pela esposa resmungona, que vive tentando adular o marido em troca de informações. É exaustivo. Eu sei que ele me ama. Sei que ele me ama mais do que jamais amou qualquer outra pessoa; por enquanto, isso basta. Essas conclusões me trazem uma sensação de libertação. Paro de chorar e dou um passo para trás.

— Está melhor? — pergunta ele.

Faço que sim.

— Ótimo. Agora me deixe dar uma olhada em você — diz ele, e por um segundo não entendo o que quer.

Mas ele pega minha mão e examina o braço sobre o qual caí quando Jack me bateu. Há hematomas no meu ombro e arranhões no cotovelo e no pulso. Ele beija cada uma dessas partes. Então, pegando uma esponja e gel de banho, o doce e conhecido aroma de jasmim chega até as minhas narinas.

— Vire-se.

Delicadamente, ele começa a lavar meu braço machucado, meu pescoço, meus ombros, minhas costas e meu outro braço. Ele me gira de lado e passa os dedos compridos pela lateral do meu corpo, e quando alcança o enorme hematoma no meu quadril, eu me retraio. Seus olhos se endurecem, seus lábios se estreitam. É perceptível sua raiva quando ele assobia por entre os dentes.

— Não está doendo — murmuro, para tranquilizá-lo.

Olhos cinzentos em brasas encontram os meus.

— Quero matar aquele homem. Quase o matei — murmura ele misteriosamente.

Franzo o cenho e estremeço diante de sua expressão sombria. Ele derrama mais gel de banho na esponja e, com gestos suaves e extremamente ternos, lava a lateral do meu corpo e a parte de trás. Depois, se ajoelha e passa para as minhas pernas. Faz uma pausa para examinar meu joelho. Roça os lábios sobre o machucado antes de voltar a me lavar, dessa vez meus pés e pernas. Abaixando-me um pouco, acaricio sua cabeça, passando os dedos pelo seu cabelo molhado. Ele se põe de pé e, com os dedos, traça o contorno do hematoma sobre as minhas costelas, onde Jack me chutou.