Выбрать главу

— Ah, querida — geme ele, sua voz revelando angústia e seus olhos destilando fúria.

— Eu estou bem.

Puxo sua cabeça e o beijo na boca. Ele hesita em retribuir o beijo, mas quando minha língua encontra a dele, seu corpo se mexe contra o meu.

— Não — murmura ele, ainda com os lábios próximos dos meus, e se afasta. — Vamos acabar o banho.

Seu rosto está sério. Droga… Ele realmente quer assim. Faço beicinho, e a atmosfera se desanuvia logo. Ele ri e me dá um beijo rápido.

— Quero você limpinha — diz ele. — Não suja.

— Eu gosto de coisas sujas.

— Eu também, Sra. Grey. Mas não agora, nem aqui.

Ele apanha o xampu e, antes que eu possa convencê-lo do contrário, começa a lavar meu cabelo.

* * *

TAMBÉM GOSTO DE coisas limpas. Sinto-me renovada e revigorada, e não sei se é por causa do banho, do choro ou da minha decisão de parar de discutir com Christian por qualquer coisa. Ele me envolve em uma enorme toalha e enrola uma outra no próprio quadril enquanto enxugo o cabelo com cuidado. Minha cabeça dói — uma dor maçante e persistente, porém perfeitamente suportável. A Dra. Singh me deu alguns analgésicos, mas pediu que eu só os tomasse em caso de real necessidade.

Quando estou penteando o cabelo, penso em Elizabeth.

— Ainda não entendo por que a Elizabeth se envolveu com o Jack.

— Eu entendo — balbucia Christian, numa voz sombria.

Isso é novidade. Franzo a testa para ele, mas me distraio: ele está secando o cabelo com uma toalha, o peito e os ombros ainda com gotas de água brilhando sob as lâmpadas halógenas. Ele faz uma pausa e abre um sorriso malicioso.

— Apreciando a vista?

— Como você sabe? — pergunto, tentando ignorar que fui flagrada admirando o meu próprio marido.

— Que você está apreciando a vista? — provoca ele.

— Não — retruco em tom de reprimenda. — Sobre a Elizabeth.

— O detetive Clark me deu uma pista.

Olho para ele com minha expressão de me-conte-mais, e me vem outra recordação desagradável do tempo em que fiquei inconsciente. Clark esteve no meu quarto. Queria me lembrar do que ele disse.

— Hyde tinha vídeos. Vídeos delas todas. Em diversos pen drives.

O quê? Arregalo os olhos, minha testa se enrugando toda.

— Vídeos dele trepando com ela e com todas as outras assistentes.

Ah!

— Exatamente. Material para chantagem. Ele gosta de sexo violento.

Christian franze o cenho, e percebo a confusão, depois o nojo, passarem pelo seu rosto. Ele empalidece à medida que o nojo se transforma em auto-ódio. É claro: ele também gosta de sexo violento.

— Não faça isso — falo antes de pensar duas vezes.

Sua testa se franze ainda mais.

— Isso o quê? — Ele fica parado e me olha apreensivo.

— Você não se parece em nada com ele.

Seu olhar endurece, mas ele não diz uma palavra, o que confirma que era exatamente isso o que ele estava pensando.

— Em nada mesmo. — Minha voz soa inflexível.

— Somos farinha do mesmo saco.

— Não são, não — retruco incisivamente, apesar de entender por que ele pensaria dessa forma.

“O pai dele morreu numa briga de bar. A mãe bebeu até perder a consciência. Ele passou a infância pulando de orfanato em orfanato… e de confusão em confusão também. A maioria por roubo de carros. Passou um tempo no reformatório.” Lembro-me das informações que Christian me revelou no avião para Aspen.

— Você dois têm passados atribulados e os dois nasceram em Detroit. A semelhança acaba aí, Christian. — Ponho as mãos na cintura.

— Ana, sua fé em mim é tocante, ainda mais diante do que aconteceu nos últimos dias. Vamos saber de mais coisas quando o Welch chegar. — Ele está fugindo do assunto.

— Christian…

Ele me interrompe com um beijo.

— Chega — diz ele baixinho, e eu me lembro da promessa que fiz a mim mesma de não pressioná-lo por informações. — E não faça beicinho — acrescenta. — Venha. Vou secar o seu cabelo.

E percebo que o assunto está encerrado.

* * *

DEPOIS DE VESTIR uma camiseta e uma calça de moletom, eu me sento entre as pernas de Christian e deixo que ele seque meu cabelo.

— Então o Clark disse algo mais enquanto eu estava inconsciente?

— Não que eu me lembre.

— Eu ouvi algumas conversas suas.

O secador de cabelos para de se mover.

— Ah, é? — pergunta ele, num tom indiferente.

— Sim. Com meu pai, seu pai, o detetive Clark… sua mãe.

— E a Kate?

— Kate esteve lá?

— Sim, rapidamente. Ela também está uma fera com você.

Eu me viro no colo dele.

— Vamos parar com essa chatice de Ana, todo mundo está bravo com você?

— Só estou dizendo a verdade — rebate Christian, confuso com a minha explosão.

— Eu sei, foi insensato, mas poxa, a sua irmã estava em perigo.

Seu rosto adquire um ar abatido.

— É verdade.

Ele desliga o secador e o coloca ao seu lado na cama. Então pega meu queixo.

— Obrigado — diz, para minha surpresa. — Mas chega de insensatez. Porque, da próxima vez, eu vou encher você de porrada.

Solto uma exclamação.

— Você não se atreveria!

— Atreveria, sim. — Ele fala sério. Puta merda. Sério mesmo. — Eu tenho a permissão do seu padrasto.

Ele sorri. Está me provocando! Ou será que não? Eu me jogo em cima dele, e ele se torce de modo que caio sobre a cama, em seus braços. Quando aterrisso, sinto uma forte dor nas costelas e estremeço.

Christian empalidece.

— Comporte-se! — ralha ele comigo, e por um momento fica irritado.

— Desculpe — balbucio, acariciando seu rosto.

Ele afaga minha mão e a beija com delicadeza.

— Francamente, Ana, você não tem nenhuma consideração com a sua própria segurança. — Ele levanta a minha camiseta e descansa os dedos na minha barriga. Paro de respirar. — Não se trata mais só de você — murmura ele, fazendo uma trilha com os dedos ao longo da cintura da minha calça, acariciando minha pele.

O desejo explode inesperadamente, surgindo quente e intenso no meu sangue. Solto um suspiro, e Christian enrijece o corpo, deixando os dedos descansarem sobre mim e me olhando fixamente. Ele levanta a mão e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.

— Não — murmura.

O quê?

— Não olhe para mim dessa forma. Eu vi os hematomas. E a resposta é não. — Sua voz é firme, e ele me beija na testa.

Eu me contorço.

— Christian… — gemo.

— Não. Já para a cama. — Ele se senta.

— Cama?

— Você precisa descansar.

— Eu preciso de você.

Ele fecha os olhos e balança a cabeça como se fizesse um grande esforço. Quando os abre novamente, percebo que seus olhos brilham, e ele está firme em sua resolução.

— Faça o que eu mandei, Ana.

Fico tentada a tirar a roupa, mas me lembro dos hematomas e vejo que não vou ganhá-lo por esse caminho.

Aquiesço relutante.

— Tudo bem — e deliberadamente faço um bico bem exagerado.

Ele sorri, achando graça.

— Vou lhe trazer o almoço.

— Você vai cozinhar? — Quase tenho uma síncope.

Ele se digna a rir.

— Vou esquentar alguma coisa. A Sra. Jones tem andado ocupada.

— Christian, eu faço. Estou bem. Puxa, se eu quero fazer sexo, com certeza posso cozinhar.

Eu me sento de uma maneira esquisita, tentando esconder o desconforto causado pelas minhas costelas doloridas.

— Cama! — Os olhos de Christian faíscam, e ele aponta para o travesseiro.

— Deite comigo — murmuro, desejando estar usando algo mais atraente do que calça de moletom e camiseta.

— Ana, vá para a cama. Agora.