— Sim — falo rispidamente com Andrea, como se a culpa fosse dela. Pelo menos posso fazer essa entrevista durar o mínimo possível.
— A Srta. Anastasia Steele está aqui para vê-lo, Sr. Grey.
— Steele? Eu estava esperando Katherine Kavanagh.
— É a Srta. Anastasia Steele que está aqui, senhor.
Faço cara feia. Odeio coisas inesperadas.
— Mande-a entrar — murmuro, sabendo que pareço um adolescente mal-humorado, mas não dou a mínima.
Ora, ora... A Srta. Kavanagh não está disponível. Conheço o pai dela, o proprietário da Kavanagh Media. Já fizemos negócios, e ele parece um empresário sagaz e um ser humano racional. Essa entrevista é um favor que estou prestando a ele — que vou cobrar mais tarde quando precisar. E devo admitir que fiquei vagamente curioso quanto à filha, interessado em ver se ela conseguiu fugir às feições do pai.
Uma agitação na porta me traz de volta à Terra quando um redemoinho de longos cabelos castanhos, braços pálidos e botas marrons mergulham de cabeça no meu escritório. Reviro os olhos e reprimo meu aborrecimento natural com tanta falta de jeito enquanto corro para a garota que aterrissou de quatro no chão. Segurando-a pelos ombros estreitos, ajudo-a a se levantar.
Olhos claros, de um azul brilhante, e constrangidos encontram os meus e me fazem parar. São de uma cor espetacular — um franco azul-claro —, e, por um horrível momento, acho que ela é capaz de ver dentro de mim. Eu me sinto... exposto. A sensação é desconcertante. Ela tem um rosto pequeno e meigo, que está corado agora, um inocente cor-de-rosa. Eu me pergunto rapidamente se toda a sua pele é desse jeito — perfeita — e como ficaria avermelhada e quente depois de um golpe de vara. Merda. Detenho meus pensamentos devaneadores, com medo da direção que estão tomando. O que é que você está pensando, Grey? Essa garota é muito nova. Ela me olha pasma, e quase reviro os olhos de novo. Isso, isso mesmo, é só um rosto, e a beleza é só do lado de fora. Quero afastar o olhar admirador e incauto desses grandes olhos azuis.
Hora do espetáculo, Grey. Vamos nos divertir.
— Srta. Kavanagh? Sou Christian Grey. Tudo bem? Gostaria de se sentar?
Lá vem de novo aquele rubor. No controle mais uma vez, eu a examino. Ela é atraente, de uma maneira estranha — frágil, pálida, com uma longa cabeleira cor de mogno mal contida por um elástico de cabelo. Sim, é atraente. Estendo a mão e ela gagueja o começo de um pedido de desculpas envergonhado e coloca sua pequena mão na minha. Sua pele é fria e macia, mas o aperto de mãos é surpreendentemente firme.
— A Srta. Kavanagh está indisposta, e me mandou no lugar dela. Espero que não se importe, Sr. Grey. — Sua voz é baixa e hesitante, e ela pisca erraticamente, os longos cílios vibrando sobre os grandes olhos azuis.
Incapaz de esconder o divertimento na minha voz, pois me lembro da sua entrada pouco elegante na minha sala, pergunto quem é ela.
— Anastasia Steele. Estudo Literatura Inglesa com Kate, hum... Katherine... hum... a Srta. Kavanagh, na WSU em Vancouver.
Um tipo nervoso, tímido e estudioso, hein? É o que parece; terrivelmente malvestida, escondendo sua estrutura pequena embaixo de um suéter disforme e uma saia evasé marrom. Minha nossa, ela não tem nenhum senso de moda? Ela olha nervosamente ao redor — para toda parte do meu escritório menos para mim, noto com ironia, achando graça.
Como essa jovem pode ser jornalista? Ela não tem um único osso assertivo no corpo. É charmosamente estabanada, meiga, suave... submissa. Balanço a cabeça, surpreso com a direção de meus pensamentos. Murmurando alguma banalidade, convido-a a se sentar, e então percebo que ela admira compenetrada os quadros da minha sala. Antes que eu possa me deter, forneço uma explicação sobre eles.
— Um artista local. Trouton.
— São lindos. Tornam extraordinário um objeto comum — diz ela sonhadoramente, perdida no belo e requintado trabalho artístico dos meus quadros. Seu perfil é delicado: nariz arrebitado, lábios macios e cheios, e nas suas palavras ela expressou exatamente os meus sentimentos. “Tornam extraordinário um objeto comum.” É uma observação perspicaz. A Srta. Steele é inteligente.
Balbucio algo em concordância e observo aquele rubor surgir devagar na sua pele, mais uma vez. Quando me sento do lado oposto ao dela, tento controlar meus pensamentos.
Ela pesca uma folha de papel amassada e um gravador digital da bolsa excessivamente grande. Gravador? Isso não acabou junto com as fitas VHS? Caramba — ela se atrapalha com os polegares, deixando aquela coisa cair duas vezes na minha mesinha Bauhaus. Fica óbvio que nunca fez isso antes, mas, por alguma razão que não consigo entender, acho engraçado. Normalmente esse tipo de falta de jeito me irrita muito, mas agora escondo meu sorriso sob o dedo indicador e resisto à vontade de eu mesmo ajeitar o gravador para ela.
Enquanto ela fica cada vez mais atrapalhada, ocorre-me que eu poderia aperfeiçoar sua coordenação motora com a ajuda de um chicote. Usado com eficiência, um chicote pode deixar até a mais nervosa das mulheres de joelhos. Esse pensamento me faz mudar de posição na cadeira, um tanto desconfortável. Ela olha para cima e morde o lábio inferior. Porra! Como eu não notei essa boca antes?
— Desculpe, não estou acostumada com isso.
Posso perceber — meu pensamento é irônico —, mas no momento não dou a mínima, porque não consigo parar de olhar para a sua boca.
— Não tenha pressa, Srta. Steele.
Preciso de um momento para controlar minha mente. Grey... pare com isso.
— O senhor se incomoda se eu gravar a entrevista? — pergunta ela, o rosto demonstrando franqueza e expectativa.
Tenho vontade de rir. Ah, pelo amor de Deus.
— Depois de todo esse esforço para configurar o gravador, é agora que me pergunta?
Ela pisca várias vezes, os olhos bem abertos e desnorteados por um instante, e sinto uma atípica pontada de culpa. Deixe de ser babaca, Grey.
— Não, não me importo — murmuro, tentando me livrar desse olhar.
— Kate, quer dizer, a Srta. Kavanagh... explicou-lhe para o que era a entrevista?
— Sim. Para sair na edição de formatura do jornal da faculdade, já que eu vou entregar os diplomas na cerimônia de graduação deste ano.
Por que eu fui concordar com isso, não sei. Sam, o RP, me disse que era uma honra, e que o Departamento de Ciências Ambientais de Vancouver precisava da publicidade a fim de atrair uma verba extra para igualar a doação que eu fiz para eles.
A Srta. Steele pisca seus grandes olhos azuis, como se minhas palavras fossem uma surpresa, e — merda — parece desaprovar o que eu disse! Será que ela não fez nenhuma pesquisa antes da entrevista? Ela deveria saber disso. Esse pensamento esfria o meu sangue. É... desagradável; não é o que eu espero dela nem de nenhuma outra pessoa a quem eu ceda meu tempo.
— Ótimo. Tenho algumas perguntas, Sr. Grey.
Ela prende uma mecha de cabelo atrás da orelha, distraindo-me do meu aborrecimento.
— Achei que poderia ter — murmuro secamente.
Vamos fazê-la se contorcer. Como se adivinhasse, ela se contorce, depois se recompõe, sentando-se ereta e ajeitando os ombros estreitos. Inclinando-se para a frente, ela pressiona o botão de “gravar” e franze o cenho quando olha para suas anotações amarrotadas.
— O senhor é muito jovem para ter construído um império deste porte. A que deve seu sucesso?
Ah, meu Deus! Será que ela não consegue fazer melhor do que isso? Que pergunta mais enfadonha, porra. Nem um pingo de originalidade. É decepcionante. Dou minha resposta habitual, de que tenho excelentes pessoas nos Estados Unidos trabalhando para mim. Pessoas em quem confio, presumindo que confio em alguém, e pago bem — blá-blá-blá... Mas, Srta. Steele, a verdade é que eu sou um puta de um gênio no que faço. Para mim, é tão fácil como roubar doce de criança. Comprar empresas mal administradas e com problemas e consertá-las ou, se estiverem realmente quebradas, separar seus ativos e vendê-los pela melhor oferta. É simplesmente uma questão de saber a diferença entre as duas coisas, e, invariavelmente, a questão se resume às pessoas que estão no comando dessas empresas. Para se ter sucesso nos negócios, você precisa de profissionais eficientes, e eu sei julgar bem as pessoas, melhor do que a maioria.