— Ana — adverte ele quando percebe minha intenção. Eu me inclino para baixo e lhe dou um beijo.
— Ponha a cabeça para trás — sussurro.
Ele hesita.
— Olho por olho, Sr. Grey.
Ele me encara incrédulo e um tanto temeroso, mas está se divertindo.
— Você sabe o que está fazendo? — pergunta Christian, em voz baixa.
Balanço a cabeça em negativa, devagar e deliberadamente, tentando parecer o mais séria possível. Ele fecha os olhos e faz um gesto de lamentação, mas se rende e joga a cabeça para trás.
Puta merda, ele vai deixar que eu o barbeie. Vacilante, deslizo a mão para o cabelo úmido em sua testa, agarrando-o firmemente para mantê-lo imóvel. Ele aperta os olhos já fechados e entreabre a boca para inspirar. Muito delicadamente, passo a lâmina do pescoço até o queixo, revelando um caminho de pele embaixo da espuma. Christian solta o ar.
— Estava achando que eu ia machucar você?
— Eu nunca sei o que você vai fazer, Ana, mas não; pelo menos não intencionalmente.
Passo a lâmina pelo seu pescoço de novo, abrindo um caminho ainda maior na espuma.
— Eu nunca machucaria você de propósito, Christian.
Ele abre os olhos e me abraça, enquanto eu delicadamente passo o barbeador por sua face a partir da ponta da costeleta.
— Eu sei — diz ele, virando o rosto para que eu possa terminar a bochecha. Só mais duas vezes e acabo.
— Prontinho, e sem nenhuma gota de sangue.
Abro um sorriso orgulhoso.
Ele passa a mão pela minha perna, levantando minha camisola até minha coxa, e me puxa para seu colo de forma que eu fique montada sobre ele. Eu me apoio nos seus braços, bem abaixo dos ombros — ele é realmente muito musculoso.
— Posso levar você a um lugar hoje?
— Não vamos pegar sol? — Arqueio a sobrancelha sarcasticamente.
Ele umedece os lábios, nervoso.
— Não. Não vamos pegar sol hoje. Achei que você fosse preferir outra coisa.
— Bem, já que você me cobriu de marcas e liquidou esse assunto de vez, então, claro, por que não?
Ele sabiamente opta por ignorar meu tom.
— É um pouco longe, mas merece uma visita, pelo que eu li. Foi meu pai que nos recomendou. É uma vila no alto de um morro, chamada Saint-Paul-de-Vence. Tem algumas galerias por lá. Podemos escolher algumas pinturas ou esculturas para nossa nova casa, se acharmos algo que nos agrade.
Eu me inclino para trás e o encaro. Arte… Ele quer comprar obras de arte. Como eu posso comprar obras de arte?
— O que foi? — pergunta ele.
— Eu não entendo nada de arte, Christian.
Ele dá de ombros e sorri de maneira indulgente.
— Só vamos comprar o que acharmos bonito. Nada de pensar em investimento.
Investimento? Céus!
— O que foi? — pergunta ele de novo.
Balanço a cabeça.
— Olha, eu sei que a gente só viu os desenhos da arquiteta outro dia, mas não custa nada olhar. Fora que a cidade é uma área bem antiga, medieval.
Ah, a arquiteta. Ele tinha que me lembrar dela… Gia Matteo, uma amiga de Elliot que trabalhou na casa de Christian em Aspen. Durante as reuniões, ela não saía de cima do meu marido.
— O que foi agora? — exclama Christian. Balanço a cabeça, fingindo que não é nada. — Fale — insiste ele.
Como posso dizer que não gosto de Gia? Minha aversão a ela é irracional. Não quero parecer uma esposa ciumenta.
— Você ainda está com raiva pelo que eu fiz ontem? — Ele suspira e roça o nariz entre meus seios.
— Não. Estou com fome — murmuro, sabendo muito bem que isso vai desviá-lo desse tipo de pergunta.
— Por que não disse antes?
Ele me tira do seu colo e se levanta.
* * *
SAINT-PAUL-DE-VENCE É UM vilarejo medieval que fica no alto de um morro, todo fortificado. Um dos lugares mais pitorescos que eu já vi. Andamos abraçados, lado a lado, pelas estreitas ruas de pedra, minha mão no bolso traseiro da bermuda dele. Somos seguidos de perto por Taylor e Gaston ou Philippe — não consigo distingui-los. Passamos por um quarteirão arborizado onde três velhinhos, um deles usando uma boina tradicional apesar do calor, jogam bocha. A cidade está repleta de turistas, mas me sinto confortável atracada ao braço de Christian. Há muito o que ver — estreitas vielas e passagens que levam a pátios com intrincados chafarizes de pedra, esculturas antigas e modernas, além de fascinantes butiques e lojinhas.
Na primeira galeria, Christian olha distraidamente as fotografias eróticas à nossa frente, mordiscando a armação dos seus óculos de aviador. São os trabalhos de Florence D’elle — mulheres nuas em poses variadas.
— Não é bem o que eu tinha em mente — resmungo em desaprovação.
Elas me lembram a caixa de fotografias que achei no closet dele, no nosso closet. Será que ele chegou a de fato destruí-las?
— Nem eu — diz Christian, sorrindo ironicamente para mim.
Ele pega minha mão e continuamos nosso passeio até o próximo artista. Eu me pergunto, distraidamente, se não deveria deixá-lo tirar fotos de mim.
A exposição seguinte é de uma pintora especializada em natureza-morta: frutas e vegetais em superclose e em cores ricas e gloriosas.
— Gostei dessas. — Aponto para três pinturas de pimentas. — Elas me lembram você cortando legumes lá em casa.
Dou uma risadinha. Christian retorce a boca, tentando, em vão, disfarçar que achou graça.
— Achei que tinha me saído muito bem naquela tarefa — murmura. — Só um pouco devagar, mas… — ele me puxa para um abraço — …você estava me distraindo. Onde você colocaria?
— O quê?
Christian roça o nariz na minha orelha.
— As pinturas. Onde você colocaria?
Ele morde o lóbulo da minha orelha, e eu sinto na virilha.
— Na cozinha — murmuro.
— Hmm. Boa ideia, Sra. Grey.
Arregalo os olhos ao ver o preço. Cinco mil euros cada. Puta merda!
— São muito caras! — exclamo, quase engasgando.
— E daí? — Ele volta a roçar o nariz em mim. — Vá se acostumando, Ana.
Então me solta e vai até a mesa de uma jovem vestida inteiramente de branco, que está secando meu marido. Tenho vontade de revirar os olhos de raiva, mas volto minha atenção novamente para as pinturas. Cinco mil euros… Nossa.
* * *
ACABAMOS DE ALMOÇAR e estamos relaxando no hotel Le Saint Paul, tomando um café. A vista dos campos ao redor é deslumbrante. Os vinhedos e as plantações de girassóis formam um patchwork pela planície, salpicados aqui e ali de pequenas e graciosas casas de fazenda francesas. Está um dia tão claro e bonito que a vista alcança o mar, sua superfície reluzindo debilmente no horizonte. Christian interrompe meu devaneio:
— Você me perguntou por que eu sempre faço uma trança no seu cabelo — murmura.
Seu tom de voz me alarma. Ele parece… culpado.
— Perguntei. — Ih, lá vem.
— A prostituta drogada me deixava mexer no cabelo dela, eu acho. Não sei se é uma lembrança ou um sonho.
Caramba! A mãe biológica dele.
Ele me fita, a expressão indecifrável. Meu coração quase sai pela boca. O que dizer quando ele me fala essas coisas?
— Eu gosto que você brinque com o meu cabelo. — Minha voz é hesitante.
Ele me olha com incerteza.
— Mesmo?
— Sim. — É verdade. Pego na mão dele. — Eu acho que você amava sua mãe biológica, Christian.
Seus olhos se arregalam e ele me encara impassivelmente, sem dizer nada.
Merda. Será que fui longe demais? Diga algo, Christian — por favor. Mas ele permanece resolutamente mudo, encarando-me com olhos cinza impenetráveis enquanto o silêncio se prolonga entre nós. Parece perdido.