Fechando meu colete salva-vidas, dou um sorriso radiante para Taylor. Ele estende a mão para me ajudar a subir no jet ski.
— Amarre o cordão da chave de ignição em volta do pulso, Sra. Grey. Se a senhora cair, o motor vai desligar automaticamente — explica ele.
— Tudo bem.
— Pronta?
Faço que sim, entusiasmada.
— Pressione a ignição quando estiver a mais de um metro do barco. Nós vamos seguindo a senhora.
— Ok.
Ele empurra o jet ski para longe da lancha, e o veículo sai flutuando suavemente em direção ao porto principal. Quando ele me dá o sinal, aperto o botão de ignição e o motor ganha vida com um rugido.
— Tudo bem, Sra. Grey, é melhor ir com calma! — grita Taylor.
Aperto o acelerador. O jet ski dá um salto para a frente e para. Droga! Como é que Christian consegue fazer isso parecer tão fácil? Tento de novo, e uma terceira vez, e ele para. Droga, droga, droga!
— É só manter uma pressão estável no acelerador, Sra. Grey — grita Taylor.
— Certo, certo, certo — balbucio.
Tento mais uma vez, pressionando a alavanca delicadamente, e o jet ski dá outro salto para a frente — mas dessa vez continua avançando. Eba! Avança mais um pouco. Ha ha! Continua indo! Quero gritar de empolgação, mas me contenho. Navego suavemente, afastando-me do iate rumo à área principal do porto. Atrás de mim ouço o motor gutural da lancha. Quando pressiono mais forte o acelerador, o jet ski dá uma guinada e sai patinando pela água. Com o vento quente no meu cabelo e um esguicho gostoso de água dos dois lados, eu me sinto livre. Isso é o máximo! Agora entendo por que Christian nunca me deixa dirigir.
Em vez de ir para a costa e abreviar a diversão, dou a volta para circundar o imponente Fair Lady — isso é tão divertido! Ignoro Taylor e os outros assistentes atrás de mim e acelero em volta do iate uma segunda vez. Quando estou completando o circuito, vejo Christian no deque. Acho que ele está boquiaberto, mas é difícil dizer. Corajosamente, levanto uma das mãos do guidom e aceno entusiasmadamente. Ele parece petrificado, mas finalmente levanta a mão em um aceno rígido. Não consigo decifrar sua expressão, e alguma coisa me diz que é melhor não fazê-lo; então vou até a marina cortando a água azul do Mediterrâneo, que cintila de leve à débil luz do sol da tardinha.
No cais, espero Taylor e deixo-o parar na minha frente. Sua expressão é sombria e meu coração se aperta, embora Gaston pareça vagamente divertido. Por um momento penso na possibilidade de ter acontecido algo para esfriar as relações franco-americanas, mas no fundo suspeito que o problema seja comigo. Gaston salta da lancha e a amarra ao ancoradouro, enquanto Taylor me guia para o lado. Muito delicadamente, deixo o jet ski na lateral da lancha e me alinho junto a ele. Sua expressão se ameniza um pouco.
— É só desligar a ignição, Sra. Grey — diz calmamente, pegando o guidom e estendendo a mão para me ajudar a subir na lancha.
Subo a bordo com agilidade, impressionada por não ter caído.
— Sra. Grey — diz Taylor, nervoso, as bochechas novamente rosadas —, o Sr. Grey não está totalmente à vontade em ver a senhora pilotando o jet ski.
Ele está quase se contorcendo de tanto constrangimento, e percebo que ele recebeu uma ligação irada de Christian. Ah, meu pobre marido, meu patologicamente superprotetor marido, o que eu faço com você?
Sorrio com serenidade para Taylor.
— Entendo. Bom, Taylor, o Sr. Grey não está aqui, e se ele não está totalmente à vontade, tenho certeza de que ele vai ter a cortesia de me falar isso pessoalmente quando eu voltar a bordo.
Taylor estremece.
— Muito bem, Sra. Grey — responde, baixinho, entregando-me minha bolsa.
Quando desço da lancha, vejo de relance seu sorriso relutante, o que me faz querer sorrir também. Tenho muito carinho por Taylor, mas não gosto que me repreenda — ele não é meu pai nem meu marido.
Suspiro. Christian está bravo — e ele já tem muito com que se preocupar no momento. Onde eu estava com a cabeça? Enquanto estou no cais esperando por Taylor, sinto meu BlackBerry vibrar na bolsa, e pego o aparelho para atender. “Your Love is King”, da Sade, é o toque que eu coloquei para Christian — e só para Christian.
— Oi — murmuro.
— Oi — diz ele.
— Vou voltar na lancha. Não fique zangado.
Ouço-o quase engasgar de surpresa.
— Hum…
— Mas foi divertido — sussurro.
Ele suspira.
— Bem, longe de mim cortar sua diversão, Sra. Grey. Apenas tome cuidado. Por favor.
Puxa! Ganhei permissão para me divertir!
— Pode deixar. Quer alguma coisa da cidade?
— Só quero que você volte inteira.
— Vou me esforçar para atender seu pedido, Sr. Grey.
— Fico feliz de ouvir isso, Sra. Grey.
— Nosso objetivo é satisfazer — respondo com uma risadinha.
Sua voz indica que ele está sorrindo.
— Estão me ligando. Até mais, baby.
— Até mais, Christian.
Christian desliga. Crise do jet ski abortada, eu acho. O carro está esperando, e Taylor abre a porta para mim. Pisco para ele ao entrar, e ele balança a cabeça, divertido.
No carro, abro o e-mail no BlackBerry.
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De: Anastasia Grey
Assunto: Obrigada
Data: 17 de agosto de 2011 16:55
Para: Christian Grey
Por não ficar muito irritado.
Sua esposa que te ama
Bjs
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De: Christian Grey
Assunto: Tentando manter a calma
Data: 17 de agosto de 2011 16:59
Para: Anastasia Grey
De nada.
Volte inteira.
Isso não é um pedido.
Bj,
Christian Grey
CEO e Marido Superprotetor, Grey Enterprises Holdings, Inc.
Sua resposta me faz sorrir. Meu maníaco por controle.
* * *
POR QUE EU QUIS fazer compras? Odeio fazer compras. Mas no fundo sei o motivo, e passo direto pela Chanel, pela Gucci, pela Dior e por outras butiques de marcas famosas para finalmente encontrar o antídoto para o que me aflige em uma lojinha para turistas abarrotada de bugiganga. É uma tornozeleira prateada com minúsculos pingentes em formato de coração e sino, que produzem um som gostoso. Custa cinco euros. Coloco-a assim que compro. Essa sou eu — é disso que eu gosto. Imediatamente me sinto mais confortável, não quero perder em mim a mulher que gosta disso, nunca. Bem no fundo, sei que não fico intimidada apenas com Christian em si, mas também com sua riqueza. Será que algum dia vou me acostumar?
Taylor e Gaston me seguem obedientemente em meio à multidão de gente que lota as ruas no fim de tarde, e logo esqueço que eles estão lá. Quero comprar alguma coisa para Christian, algo que distraia sua mente do que está acontecendo em Seattle. Mas o que comprar para o homem que tem tudo? Paro em uma pequena praça de estilo moderno rodeada de lojas, e olho uma de cada vez. Quando dou uma espiada numa loja de eletrônicos, relembro a galeria que fomos conhecer hoje mais cedo, e também nossa visita ao Louvre. Estávamos olhando a Vênus de Milo… As palavras de Christian ecoam na minha cabeça: “Todos podemos apreciar as formas femininas. Adoramos olhar, seja em mármore, óleo, cetim ou filme.”