Isso me dá uma ideia, uma ideia ousada. Só preciso de ajuda para escolher o item certo, e apenas uma pessoa pode me ajudar. Procuro meu BlackBerry na bolsa e ligo para José.
— Quem…? — resmunga ele, sonolento.
— José, aqui é a Ana.
— Ana, oi! Onde você está? Tudo bem? — Ele parece mais alerta agora, preocupado.
— Estou em Cannes, no sul da França, está tudo bem.
— Sul da França, hein? Em um hotel chique?
— Hmm… Não. Estamos hospedados em um barco.
— Um barco?
— Um barco grande — esclareço, suspirando.
— Sei.
Seu tom esfria… Merda, eu não deveria ter ligado para ele. Não preciso disso agora.
— José, preciso de um conselho seu.
— Um conselho meu? — Ele parece surpreso. — Claro — diz, e dessa vez soa bem mais amigável.
Conto meu plano a ele.
* * *
DUAS HORAS DEPOIS, Taylor me ajuda a sair da lancha e a subir a escada para o deque. Gaston está auxiliando um marinheiro com o jet ski. Christian não está por perto, e eu corro até nossa cabine para embrulhar o presente, animada como uma criança.
— Você saiu já faz um tempo.
É Christian, que me surpreende quando estou colando o último pedaço de fita adesiva. Viro-me e o vejo parado à porta da cabine, observando-me atentamente. Ainda estou encrencada por causa do jet ski? Ou é o incêndio no escritório?
— Tudo sob controle na empresa? — pergunto, hesitante.
— Mais ou menos — responde ele, uma expressão de aborrecimento passando pelo rosto.
— Fiz umas comprinhas — murmuro, na esperança de fazê-lo se sentir mais leve, e torcendo para que seu aborrecimento não seja por minha causa. Ele sorri calorosamente, e sei que estamos bem.
— O que você comprou?
— Isso.
Coloco o pé na cama e mostro minha tornozeleira.
— Muito bonita — diz ele.
Christian se aproxima e brinca com os sininhos, que tilintam de leve em volta do meu tornozelo. Mas então franze a sobrancelha de novo ao passar os dedos suavemente na marca vermelha; minha perna fica arrepiada.
— E isso.
Ofereço-lhe a caixa, esperando distraí-lo.
— Para mim? — pergunta ele, surpreso.
Eu confirmo timidamente. Ele pega a caixa e a sacode com cuidado. Então, com um sorriso de menino maravilhado, senta-se na cama ao meu lado e, inclinando-se, pega meu queixo para me beijar.
— Obrigado — diz, com um deleite tímido.
— Você ainda não abriu.
— Eu vou adorar, seja lá o que for. — Ele me fita com os olhos brilhando. — Não costumo ganhar muitos presentes.
— É difícil comprar alguma coisa para você. Você tem tudo.
— Eu tenho você.
— É verdade, você tem.
Abro um sorriso. Ah, você tem mesmo, Christian.
Ele desembrulha rápido a caixa.
— Uma Nikon? — E me olha intrigado.
— Sei que você tem uma câmera digital compacta, mas essa é para… Humm… retratos e coisas parecidas. Vem com duas lentes.
Ele continua me olhando sem entender.
— Hoje na galeria você gostou das fotografias de Florence D’elle. E eu me lembrei do que você comentou no Louvre. E, claro, tinha aquelas suas fotografias. — Engulo em seco, me esforçando para não me lembrar das imagens que vi em seu closet.
Ele para de respirar, os olhos se arregalando quando começa a perceber minha intenção, e continuo depressa, antes que fique muito nervosa:
— Pensei que você poderia, hmm… gostar de tirar fotos de… de mim.
— Fotos? De você? — Ele me olha embasbacado, ignorando a caixa em seu colo.
Aquiesço, tentando desesperadamente avaliar sua reação. Finalmente, ele olha de novo para a caixa, os dedos contornando a ilustração da câmera na frente da embalagem com um respeito fascinante.
O que ele está pensando? Ah, essa não era a reação que eu esperava, e meu inconsciente me fuzila com os olhos como se eu fosse um animal dócil de fazenda. Christian nunca reage da maneira como espero. Ele volta a erguer o olhar para mim, a expressão em seu rosto cheia de… não sei… dor?
— Por que você acha que eu quero fazer isso? — pergunta ele, confuso.
Não, não, não! Você disse que adorava…
— Você não quer? — pergunto, recusando-me a dar ouvidos ao meu inconsciente, que está questionando por que alguém iria querer fotos eróticas minhas.
Christian engole em seco e passa a mão pelo cabelo. Parece tão perdido, tão confuso… Ele respira fundo.
— Para mim, fotos assim sempre foram uma apólice de seguro, Ana. Sei que tratei as mulheres como objeto por muito tempo — diz ele, e depois faz uma pausa constrangedora.
— E você acha que tirar fotos de mim seria… me tratar como um objeto?
Eu me sinto sem ar, e o sangue some do meu rosto.
Ele aperta os olhos.
— Estou tão confuso — sussurra ele.
Quando abre os olhos de novo, estão arregalados e atentos, cheios de alguma emoção crua.
Merda. É culpa minha? Minhas perguntas mais cedo sobre sua mãe biológica? O incêndio no escritório?
— Por que está dizendo isso? — pergunto, o pânico crescendo na minha garganta.
Pensei que ele estivesse feliz. Pensei que nós estivéssemos felizes. Pensei que eu o fizesse feliz. Não quero confundi-lo. Ou será que quero? Minha mente vira um turbilhão. Ele não vê Flynn há quase três semanas. Será que é isso? É essa a explicação? Merda, será que devo ligar para Flynn? E em um momento possivelmente único de clareza e profundidade extraordinárias, tudo fica claro — o incêndio, Charlie Tango, o jet ski… Ele está com medo, está com medo por mim, e ver essas marcas na minha pele deve trazer isso à tona. Passou o dia inteiro incomodado com isso, e fica confuso porque não está acostumado a se sentir desconfortável por infligir dor a alguém. O pensamento faz meu sangue gelar.
Ele dá de ombros, e mais uma vez seu olhar pousa em meu pulso, onde estava a pulseira que ele comprou hoje mais cedo. Bingo!
— Christian, isso não importa. — Levanto o pulso, mostrando a marca descorada. — Você me deu uma palavra de segurança. Caramba: ontem foi divertido! Eu gostei. Pare de remoer isso. Eu gosto de sexo bruto, já lhe disse antes. — Fico bem vermelha à medida que tento conter meu pânico, que só aumenta.
Ele me fita absorto, e não tenho ideia do que passa pela sua mente. Talvez esteja avaliando minhas palavras. Continuo, meio atrapalhada:
— É por causa do incêndio? Você acha que tem alguma ligação com o Charlie Tango? É por isso que está preocupado? Fale comigo, Christian… por favor.
Ele me olha fixamente, sem dizer nada, e o silêncio se expande entre nós de novo, como aconteceu hoje à tarde. Puta merda! Ele não vai falar comigo, já sei.
— Não pense demais nisso, Christian — repreendo-o com carinho.
As palavras ecoam, perturbando a lembrança de um passado recente — o que ele me disse sobre seu estúpido contrato. Pego a caixa do seu colo e a abro. Ele me observa passivamente, como se eu fosse um alienígena fascinante. Sabendo que o superprestativo vendedor da loja deixou a câmera já pronta para usar, pesco-a da caixa e tiro a tampa da lente. Aponto-a para ele até enquadrar seu lindo rosto, todo tenso. Pressiono o botão e seguro, e logo dez fotos da expressão preocupada de Christian são capturadas digitalmente para a posteridade.
— Agora você é um objeto para mim — murmuro, apertando o obturador mais uma vez.
Na última foto, seus lábios se torcem quase imperceptivelmente. Tiro mais uma, e dessa vez ele sorri… um sorriso breve, mas ainda assim um sorriso. Aperto uma vez mais o botão e o vejo relaxar fisicamente na minha frente e fazer beicinho, chupando as bochechas — um beicinho exagerado, posado, ridículo —, o que me faz rir. Ah, graças a Deus. O Sr. Inconstante está de volta — e eu nunca fiquei tão feliz em vê-lo.