— Eu lhe prometo ser fiel, na saúde e na doença, na alegria e na tristeza — murmuro.
Ele se retesa. Seu único movimento é arregalar os impenetráveis olhos e me fitar à medida que continuo com meus votos de casamento:
— Eu prometo amá-lo incondicionalmente, apoiá-lo nos seus objetivos e sonhos, honrá-lo e respeitá-lo, rir e chorar com você, dividir com você minhas esperanças e sonhos e lhe dar conforto quando necessário.
Faço uma pausa, esperando que ele fale comigo. Ele me observa, os lábios entreabertos, mas não diz nada.
— E tratá-lo com carinho por todos os dias da nossa vida.
Suspiro.
— Ah, Ana — sussurra ele, e muda de posição de novo, quebrando o precioso contato de nossos corpos para ficarmos deitados lado a lado. Ele acaricia meu rosto com as costas da mão.
— Eu prometo ser seu porto seguro e guardar no fundo do meu coração nossa união e você — sussurra ele, a voz rouca. — Prometo amá-la fielmente, renunciando a todas as outras, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, não importa o rumo que nossa vida tomar. Eu a protegerei e a respeitarei, e confiarei em você. Partilharei das suas alegrias e tristezas, e a confortarei quando preciso. Prometo cuidar de você, apoiar suas esperanças e seus sonhos e mantê-la segura a meu lado. Tudo o que é meu agora passa a ser também seu. Dou-lhe minha mão, meu coração e meu amor a partir deste momento, até que a morte nos separe.
As lágrimas enchem meus olhos. Vejo seu rosto se suavizar enquanto ele me olha.
— Não chore — murmura, e, com o polegar, seca uma lágrima que escorre.
— Por que você não fala comigo? Por favor, Christian.
Ele fecha os olhos como se sentisse dor.
— Eu prometi que lhe daria conforto quando preciso. Por favor, não me deixe quebrar minha promessa — rogo.
Ele suspira e abre os olhos, a expressão triste.
— Foi incêndio criminoso — diz simplesmente, e de repente parece muito jovem e vulnerável.
Ah, merda.
— E minha maior preocupação é de que estejam atrás de mim. E se estão atrás de mim… — Ele para, incapaz de continuar.
— …podem me pegar — completo, num sussurro.
Ele fica lívido, e sei que finalmente descobri a raiz da sua tensão. Acaricio seu rosto.
— Obrigada — digo.
Ele franze a sobrancelha.
— Pelo quê?
— Por me contar.
Ele balança a cabeça, e um sorriso pálido aparece em seus lábios.
— Você pode ser muito persuasiva, Sra. Grey.
— E você fica remoendo e internalizando todos os seus sentimentos, morrendo de preocupação. Vai acabar tendo um infarto fulminante antes dos quarenta anos, e eu quero você por perto durante muito mais tempo.
— Você é que é fulminante. Quando vi você no jet ski… quase tive um infarto, de verdade.
Ele se deixa cair de costas na cama pesadamente e cobre os olhos com a mão; sinto-o estremecer.
— Christian, é um jet ski. Até crianças pilotam jet skis. Imagine como você vai ficar quando formos visitar a sua casa em Aspen e eu esquiar pela primeira vez?
Ele inspira o ar com força e se vira para me encarar; tenho vontade de rir do terror estampado em seu rosto.
— Nossa casa — diz, após uns instantes.
Eu o ignoro.
— Sou uma mulher adulta, Christian, e muito mais forte do que aparento. Quando você vai aprender isso?
Ele dá de ombros e aperta a boca. Decido mudar de assunto:
— Então, o incêndio. A polícia sabe que foi criminoso?
— Sabe. — Ele está sério.
— Ótimo.
— A segurança vai ser reforçada — diz ele, sem demonstrar qualquer emoção.
— Entendo.
Olho para seu corpo. Ele ainda está de bermuda e camisa, e eu de camiseta. Puxa! Isso é que é rapidinha… Pensar nisso me faz rir.
— O que foi? — pergunta Christian, sem entender.
— Você.
— Eu?
— É. Você. Ainda vestido.
— Ah.
Ele baixa o olhar para si mesmo e depois volta a me fitar, abrindo um enorme sorriso.
— Ah, você sabe como é difícil manter as mãos longe de você, Sra. Grey. Ainda mais quando eu a vejo rindo como uma garotinha.
Ah, sim… as cócegas. Ha! As cócegas. Com um movimento rápido, eu monto nele, mas, percebendo minhas más intenções, ele imediatamente agarra meus pulsos.
— Não — diz, e está falando sério.
Faço charminho, mas vejo que ele não está no clima para isso.
— Por favor, não — sussurra ele. — Eu não aguentaria. Nunca me fizeram cócegas quando criança.
Ele faz uma pausa; eu desisto, para que ele não precise me conter.
— Eu via Carrick brincando com Elliot e Mia, fazendo cócegas neles, e parecia tão divertido, mas eu… eu…
Encosto o indicador nos seus lábios.
— Shh, eu sei — sussurro, e deposito um beijinho em seus lábios, onde meu dedo estava um segundo atrás, depois me aninho em seu peito.
Aquela dor familiar se avoluma dentro de mim e a tristeza profunda que sinto pela infância de Christian toma conta do meu coração mais uma vez. Sei que eu faria qualquer coisa por esse homem, pois o amo tanto!
Ele coloca os braços ao redor de mim e cheira meu cabelo, respirando fundo enquanto delicadamente acaricia minhas costas. Não sei por quanto tempo ficamos deitados ali, mas finalmente quebro o confortável silêncio entre nós:
— Qual o máximo de tempo que você passou sem ver o Dr. Flynn?
— Duas semanas. Por quê? Você não está se aguentando de vontade de me fazer cócegas?
— Não. — Dou uma risada. — Acho que ele ajuda você.
Christian bufa.
— E deve; eu pago muito bem a ele.
Christian puxa meu cabelo delicadamente, virando meu rosto para si. Levanto a cabeça e encontro seus olhos.
— Está preocupada com o meu bem-estar, Sra. Grey? — pergunta suavemente.
— Toda boa esposa se preocupa com o bem-estar do marido amado, Sr. Grey — respondo, provocando-o.
— Amado? — sussurra ele, e é uma pergunta intensa pairando entre nós.
— Muito amado.
Eu ergo o corpo bem rápido para beijá-lo, e ele abre seu sorriso tímido.
— Quer ir comer em terra?
— Quero comer em qualquer lugar em que você esteja feliz.
— Ótimo. — Ele abre um sorriso. — A bordo é onde eu consigo manter você segura. Obrigado pelo presente.
Ele se inclina para pegar a câmera e, estendendo o braço, tira uma foto de nós dois no nosso abraço pós-cócegas, pós-coito e pós-confissão.
— O prazer é todo meu.
Sorrio e seus olhos se iluminam.
Passeamos pelo opulento e dourado esplendor oitocentista do Palácio de Versalhes. No início apenas um humilde alojamento para comitivas de caça, foi transformado pelo Rei Sol em uma majestosa e exagerada sede do poder; porém, antes mesmo de o século XVIII terminar, ele testemunhou a queda do último dos monarcas absolutistas.
A sala mais impressionante é sem dúvida a Galeria dos Espelhos. A luz do início da tarde penetra pelas janelas a oeste, reluzindo nos espelhos que se alinham na parede leste e iluminando a decoração de folhas douradas e os enormes lustres de cristal. É de tirar o fôlego.
— Interessante ver o que acontece com um déspota megalomaníaco que se isola em tamanho esplendor — cochicho para Christian, de pé ao meu lado.
Ele olha para mim e pende a cabeça para o lado, achando graça no meu comentário.
— O que quer dizer com isso, Sra. Grey?
— Ah, foi só uma observação, Sr. Grey. — E gesticulo com as mãos, indicando o cenário que nos cerca.
Sorrindo com afetação, ele me segue até o centro da sala, onde paro e olho estupefata para a vista: os espetaculares jardins refletidos nos espelhos e o espetacular Christian Grey, meu marido, refletido atrás de mim, seu olhar brilhante e incisivo.
— Eu construiria isso para você — sussurra ele. — Só para ver a luz incidindo no seu cabelo como agora, bem aqui. — Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha. — Você parece um anjo. — Ele me beija bem embaixo do lóbulo da orelha, pega minha mão e sussurra: — Nós, déspotas, fazemos isso pelas mulheres que amamos.