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— Ah, é?

Merda! O que será que eu falei?

— Você está preocupada — acrescenta ele, os olhos cheios de inquietação.

Será que não há nada que eu consiga esconder de Christian? Ele se inclina e me beija entre as sobrancelhas.

— Quando você franze a testa, um pequeno V se forma bem aqui. É macio de beijar. Não se preocupe, baby, vou cuidar de você.

— Não é comigo que eu estou preocupada, é com você — resmungo. — Quem vai cuidar de você?

Ele sorri sem se importar muito com meu tom de voz.

— Já sou bem crescido e bem mau para cuidar de mim mesmo. Venha. Levante-se. Quero fazer uma coisa antes de irmos para casa.

Ele sorri para mim, um sorriso travesso do tipo sim-eu-tenho-apenas-vinte-e-oito-anos, e me dá uma palmada no bumbum. Solto um ganido, surpresa, e percebo que hoje é o dia em que vamos voltar para Seattle; então minha melancolia desperta. Não quero ir embora. Foi tão delicioso ficar com ele vinte e quatro horas por dia… Não estou pronta para dividi-lo com sua empresa e sua família. Tivemos uma lua de mel gloriosa. Com alguns altos e baixos, admito, mas isso deve ser normal para os recém-casados, não é mesmo?

Christian, porém, não consegue conter seu entusiasmo de garoto, e, mesmo com meus pensamentos sombrios, acabo sendo contagiada. Quando ele se levanta animado da cama, eu vou atrás, intrigada. O que será que ele está planejando?

* * *

CHRISTIAN AMARRA a chave no meu pulso.

— Quer que eu pilote?

— Quero. — Ele sorri. — Está muito apertado?

— Está bom. É por isso que você está usando um colete salva-vidas? — Levanto a sobrancelha.

— É.

Não consigo deixar de dar uma risadinha.

— Quanta confiança nas minhas habilidades como piloto, Sr. Grey.

— Mais do que nunca, Sra. Grey.

— Bom, não me passe um sermão.

Ele levanta as mãos em um gesto defensivo, mas está sorrindo.

— Longe de mim!

— Até parece. Você sempre me passa sermões. Mas aqui não podemos parar o motor e discutir na calçada.

— Bom argumento, Sra. Grey. Vamos ficar aqui na plataforma o dia inteiro discutindo sobre a sua destreza na direção ou vamos nos divertir um pouco?

— Bom argumento, Sr. Grey.

Agarro a direção do jet ski e subo nele. Christian sobe atrás e, com o pé, nos impulsiona para longe do iate. Taylor e dois homens da tripulação se divertem observando-nos. Deslizando para a frente, Christian passa os braços ao redor de mim e encosta as coxas nas minhas. Ah, é disso que eu gosto nesse tipo de transporte! Insiro a chave de ignição e aperto o botão de partida, e o motor acorda rugindo.

— Pronto? — grito para Christian, para ser ouvida acima do barulho do motor.

— Prontíssimo — responde ele, a boca junto ao meu ouvido.

Suavemente eu puxo a alavanca, e o jet ski se afasta do Fair Lady, muito vagarosamente para o meu gosto. Christian me aperta com mais força. Acelero um pouco mais, fazendo o jet ski disparar para a frente, e fico feliz da vida quando o motor não morre.

— Caramba! — grita Christian atrás de mim, mas o contentamento em sua voz é visível.

Passo veloz pelo Fair Lady em direção ao mar aberto. Estamos ancorados perto de Saint-Laurent-du-Var, e é possível avistar o aeroporto de Nice Côte d’Azur a certa distância, bem no meio do Mediterrâneo — ou pelo menos é o que parece. Tenho ouvido a assustadora aterrissagem dos aviões desde a noite passada, quando chegamos. Decido dar uma olhada mais de perto.

Seguimos para o aeroporto, saltando rapidamente sobre as ondas. Adoro isso, e estou vibrando porque Christian me deixou pilotar. Todas as preocupações dos dois últimos dias se dissipam à medida que deslizamos pela água.

— Da próxima vez que fizermos isso, vamos precisar de dois jet skis — grita Christian. Sorrio, porque a ideia de apostar corrida com ele é emocionante.

Estamos indo disparados pelo mar azul e gelado em direção ao que parece ser o final da pista quando o ronco atordoante de um jato bem acima de nossas cabeças preparando-se para aterrissar me pega de surpresa. O barulho é tão ensurdecedor que entro em pânico, faço um desvio e ao mesmo tempo bato no acelerador, confundindo-o com o freio.

— Ana! — grita Christian.

Mas é tarde demais. Sou catapultada para fora do jet ski, braços e pernas pelos ares, levando Christian comigo em um tombo espetacular.

Gritando, mergulho no mar azul cristalino e engulo uma porção considerável do nada saboroso Mediterrâneo. Tão longe assim da costa, a água é gelada, mas em poucos segundos subo novamente à tona, graças ao meu solícito colete salva-vidas. Tossindo e cuspindo, esfrego os olhos para tirar a água salgada e olho ao redor procurando por Christian. Ele já está nadando na minha direção. O jet ski flutua inofensivo a alguns metros de distância, o motor em silêncio.

— Você está bem? — Quando ele me alcança, seus olhos estão em pânico.

— Estou — balbucio, mas não consigo conter meu júbilo: Está vendo, Christian? É o pior que pode acontecer com um jet ski!

Ele me puxa para um abraço e depois segura minha cabeça entre as mãos, examinando meu rosto mais de perto.

— Viu? Não foi tão ruim assim! — Sorrio, nós dois ainda dentro da água.

Por fim ele força um sorriso, obviamente aliviado.

— Não, não foi. Só que agora eu estou molhado — reclama, mas seu tom de voz é brincalhão.

— Também fiquei molhada.

— Eu gosto de você molhadinha. — Ele me olha com malícia.

— Christian! — repreendo-o, fingindo-me de ofendida.

Ele sorri, lindo, e se inclina para me beijar com força. Quando se afasta, estou sem fôlego.

— Venha. Vamos voltar. Precisamos tomar um banho. Eu piloto.

Estamos descansando na sala VIP da primeira classe da British Airways, no Aeroporto de Heathrow, arredores de Londres, enquanto esperamos nosso voo de conexão para Seattle. Christian está entretido com o Financial Times. Pego da bolsa a câmera que lhe dei; quero tirar algumas fotos do meu marido. Ele está muito sexy de camisa branca de linho e calça jeans — sua marca registrada —, os óculos escuros modelo aviador pendurados no V da gola da camisa. O flash o distrai da leitura. Ele ergue os olhos para mim, piscando, e sorri timidamente.

— Como vai, Sra. Grey? — pergunta.

— Triste em voltar para casa — digo baixinho. — Gosto de ter você só para mim.

Ele pega minha mão, leva-a até os lábios e beija docemente os nós dos meus dedos.

— Eu também.

— Mas? — pergunto, pois, apesar de não pronunciada, ouvi essa palavrinha no final da frase dele.

Ele franze o cenho.

— Mas? — repete, de forma dissimulada. Inclino a cabeça para o lado, encarando-o com aquela expressão de Conte para mim que venho aperfeiçoando nos últimos dias. Ele suspira, deixando o jornal de lado. — Quero esse criminoso preso e fora de nossas vidas.

— Ah.

Uma preocupação bastante justa, mas fico surpresa com sua sinceridade.

— Vou servir as bolas do Welch numa bandeja se ele deixar uma coisa dessas acontecer de novo.

Um calafrio perpassa minha espinha ao ouvir seu tom de ameaça. Ele me olha impassível, e não sei se está me desafiando a ser petulante ou algo parecido. Faço a única coisa que me passa pela cabeça para atenuar a súbita tensão entre nós dois: ergo a câmera e tiro outra foto.

— Oi, dorminhoca, chegamos — sussurra Christian.

— Hmm — resmungo, relutante em abandonar o irresistível sonho em que Christian e eu fazíamos piquenique em Kew Gardens.

Estou exausta! Viajar é cansativo, mesmo na primeira classe. Estamos voando há mais de dezoito horas, eu acho — já perdi a conta por causa do cansaço. Ouço a porta ao meu lado se abrir, e Christian está inclinado sobre mim. Ele desprende o cinto de segurança e me ergue nos braços, acordando-me.