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Então Grace me distrai ao pegar minhas mãos e depois me abraçar.

— Ah, minha querida menina! Obrigada, obrigada — sussurra ela, de modo que só eu possa escutar. Sinto um nó na garganta.

— Hm…

Retribuo seu abraço, sem saber direito pelo que ela está me agradecendo. Grace sorri, os olhos brilhantes, e beija meu rosto. O que foi que eu fiz?

— Vou preparar um chá — diz ela, a voz rouca de quem está segurando as lágrimas.

Vou lentamente até Christian, que agora está de pé junto às portas francesas, olhando lá para fora.

— Oi — murmuro.

— Oi.

Ele passa o braço pela minha cintura, puxando-me para si, e eu enfio a mão no bolso traseiro da sua calça jeans. Ficamos olhando a chuva.

— Está se sentindo melhor?

Faço um gesto afirmativo com a cabeça.

— Que bom.

— Você sabe como atrair as atenções.

— Faço isso o tempo todo — diz ele, e sorri para mim.

— No trabalho, sim, mas não aqui.

— É verdade, aqui não.

— Ninguém nunca tinha ouvido você cantar? Nunca?

— Pelo visto, não — diz ele, secamente. — Podemos ir?

Olho para ele, tentando avaliar seu estado de espírito. Seus olhos estão doces e ternos e ligeiramente bem-humorados. Decido mudar de assunto:

— Você vai me bater? — sussurro, e de repente sinto um frio na barriga. Talvez eu precise justamente disso… é disso que estou sentindo falta.

Ele me fita, e seus olhos começam a escurecer.

— Não quero machucar você, mas ficaria muito feliz em brincar.

Dou uma olhadela nervosa ao redor, mas estamos longe dos ouvidos alheios.

— Só se você não se comportar direitinho, Sra. Grey — sussurra ele em meu ouvido.

Como é possível haver tantas promessas sensuais em tão poucas palavras?

— Vou ver o que eu posso fazer. — Sorrio.

* * *

DEPOIS DE NOS despedirmos de todos, caminhamos até o carro.

— Aqui. — Christian me joga as chaves do R8. — Não amasse — acrescenta, com a cara mais séria do mundo —, ou eu vou ficar muito irritado.

Minha boca fica seca. Ele está me deixando dirigir o carro dele? Minha deusa interior vibra em suas luvas de direção de couro e seus sapatos sem salto. Uhul!, exclama ela.

— Tem certeza? — balbucio, perplexa.

— Tenho. Mas logo posso mudar de ideia.

Acho que nunca antes disso dei um sorriso tão descarado. Ele faz uma cara de desdém e abre a porta do motorista para eu entrar. Dou a partida antes mesmo de ele se sentar ao meu lado, e ele pula para dentro.

— Ansiosa, Sra. Grey? — pergunta-me, com um sorriso oblíquo.

— Muito.

Dou marcha a ré lentamente e manobro pela entrada para carros da casa. Consigo não deixar o carro morrer, o que me surpreende. Nossa, o pedal da embreagem é tão sensível! Percorrendo com cuidado a entrada, olho pelo retrovisor e vejo Sawyer e Ryan entrando no Audi SUV. Eu não fazia ideia de que os seguranças tinham vindo atrás de nós. Faço uma pausa antes de entrar na rua.

— Você tem certeza sobre isso?

— Tenho — diz Christian, tenso, e percebo que ele não tem certeza alguma.

Ah, meu pobre e querido Cinquenta Tons. Quero rir dele e de mim também, porque estou nervosa e empolgada. Um pedacinho de mim quer fazer Sawyer e Ryan nos perderem de vista só de brincadeira. Verifico se algum carro está vindo e entro na rua bem devagar. Christian fica todo tenso, e eu não consigo resistir. A rua está vazia. Enfio o pé no acelerador e disparamos para a frente.

— Ahhhh! Ana! — grita Christian. — Mais devagar! Assim você vai acabar matando a nós dois.

Imediatamente diminuo a pressão no acelerador. Nossa, esse carro realmente corre!

— Desculpe — resmungo, tentando parecer arrependida… mas sem sucesso algum. Christian me dá um sorriso amarelo, acho que para esconder seu alívio.

— Bom, isso conta como mau comportamento — diz ele como quem não quer nada, e eu desacelero imediatamente.

Olho pelo retrovisor. Nenhum sinal do Audi; há apenas um automóvel com vidros escuros atrás de nós. Imagino que Sawyer e Ryan estejam alvoroçados, loucos para nos alcançar, e por algum motivo esse pensamento me empolga. Contudo, sem querer contribuir para um problema coronário em meu querido marido, decido me comportar, portanto conduzo com calma e cada vez mais confiante em direção à ponte 520.

De repente Christian solta um palavrão e se contorce para pegar o BlackBerry do bolso da calça.

— O que foi? — atende ele, ríspido, para quem quer que esteja do outro lado da linha. — Não — diz ele, e olha para trás. — Sim. Ela.

Olho pelo retrovisor rapidamente, mas não percebo nada de estranho, apenas alguns carros atrás de nós. Identifico o SUV atrás de quatro automóveis, e estamos todos seguindo em um ritmo tranquilo.

— Entendi.

Christian solta um demorado e forte suspiro. Esfrega a testa com os dedos, exalando tensão. Tem alguma coisa errada.

— Certo… Não sei. — Ele me olha de relance e abaixa o aparelho para falar comigo, calmamente: — Está tudo bem. Continue.

Ele sorri, mas seus olhos permanecem tensos. Merda! Meu corpo lança uma dose de adrenalina em meu sangue. Ele ergue o telefone de novo para o ouvido.

— Certo, na 520. Assim que chegarmos lá… Isso… Pode deixar.

Ele coloca o aparelho no suporte, deixando-o em viva-voz.

— O que houve, Christian?

— Preste atenção ao caminho, querida — diz ele, suavemente.

Estou a caminho da rampa da 520, sentido Seattle. Quando olho para Christian, seu olhar está fixo à sua frente.

— Não quero que você entre em pânico — diz ele, com calma —, mas logo que entrarmos na 520, quero que você pise fundo. Estamos sendo seguidos.

Seguidos! Puta merda. Meu coração quase sai pela boca, aos pulos, meu couro cabeludo começa a pinicar e minha garganta se fecha, em pânico. Seguidos por quem? Meus olhos correm para o retrovisor: evidentemente, o carro preto que vi mais cedo ainda está atrás de nós. Merda! Então é isso? Tento ver, através do para-brisa escuro, quem está ao volante, mas não consigo enxergar.

— Mantenha os olhos na estrada, baby — diz Christian, com cuidado, e não com o tom truculento que ele normalmente assume em relação ao meu modo de dirigir.

Controle os nervos! Mentalmente, dou um tapa em meu rosto para espantar o terror que está ameaçando se apossar de mim. E se a pessoa que nos segue estiver armada? Armada e perseguindo Christian! Merda! Uma onda de náusea passa pelo meu corpo.

— Como você sabe que estamos sendo seguidos? — Minha voz sai num sussurro ofegante e esganiçado.

— A placa do Dodge atrás de nós é falsa.

Como é que ele sabe?

Estamos nos aproximando da 520 pela rampa e eu furo o sinal. É final de tarde e, embora a chuva tenha passado, a pista está molhada. Felizmente, o tráfego está razoavelmente tranquilo.

Em minha mente ecoa a voz de Ray, em uma de suas muitas aulas de autodefesa: É o pânico que vai matar você ou deixá-la gravemente ferida, Annie. Eu respiro fundo, tentando controlar minha respiração. A pessoa que nos segue está atrás de Christian. Enquanto respiro fundo mais uma vez, minha mente começa a desanuviar e o frio na barriga desaparece. Tenho que proteger Christian. Eu queria dirigir o carro, e queria dirigir em alta velocidade. Bom, eis aí a minha oportunidade. Agarro o volante e dou uma última olhada pelo retrovisor. O Dodge está se aproximando.