Christian tira a roupa e também entra na banheira, sentando-se atrás de mim e me puxando para junto de seu peito. Eu me aninho entre as pernas dele e ficamos ali, felizes, aproveitando a água morna. Deslizo os dedos pelas suas pernas e ele brinca com a minha trança.
— Precisamos rever as plantas da casa nova. Pode ser hoje mais tarde?
— Claro.
Aquela mulher vem aqui novamente. Meu inconsciente desvia os olhos do volume três das Obras completas de Charles Dickens e me fuzila com o olhar. Concordo com o meu inconsciente. Suspiro. Infelizmente, as curvas de Gia Matteo são impressionantes.
— Tenho que organizar minhas coisas para voltar ao trabalho — sussurro.
Ele para tudo.
— Você sabe que não precisa voltar a trabalhar — diz ele.
Ah, não… de novo não.
— Christian, já discutimos isso. Por favor, não desenterre essa questão.
Ele puxa minha trança e meu rosto se ergue para trás.
— Só estou dizendo… — E me beija ternamente.
* * *
VISTO UMA CALÇA de moletom e uma camiseta de alça e resolvo ir pegar minhas roupas no quarto de jogos. Quando passo pelo corredor, ouço Christian aos brados no escritório. Paro na mesma hora.
— Onde é que você se meteu, porra?
Que merda. Ele está gritando com Sawyer. Meu corpo se tensiona e eu disparo para cima rumo ao quarto de jogos. Quero fugir dali para não ouvir o que Christian está dizendo a Sawyer — ainda acho assustador o Christian que grita. Coitado do Sawyer. Pelo menos eu posso gritar de volta.
Junto minhas roupas e o sapato de Christian e então reparo que a pequena tigela de porcelana com o plugue anal continua sobre a cômoda. Bem… Acho que devo limpar isso. Acrescento à pilha de coisas que eu já levava e desço as escadas de volta. Dou uma olhada nervosa para a sala, mas está tudo quieto. Graças a Deus.
Taylor deve voltar amanhã à noite; Christian geralmente fica mais calmo com ele por perto. Taylor foi passar os dias de hoje e amanhã com a filha. Será que algum dia vou conhecê-la?, pergunto-me distraidamente.
Dou com a Sra. Jones vindo da área de serviço. Nós duas levamos um susto.
— Sra. Grey, não tinha visto a senhora. — Ah, então agora sou a Sra. Grey!
— Olá, Sra. Jones.
— Bem-vinda, e meus parabéns. — Ela sorri.
— Por favor, me chame de Ana.
— Sra. Grey, eu não ficaria à vontade.
Ah! Por que tudo deve mudar apenas pelo fato de eu ter um anel no dedo?
— A senhora gostaria de conferir o cardápio para a semana? — pergunta ela, demonstrando certa expectativa.
Cardápio?
— Hmm… — Essa é uma pergunta que eu nunca imaginei ouvir.
Ela sorri.
— Quando comecei a trabalhar para o Sr. Grey, todo domingo à noite ele repassava comigo o cardápio para a semana e fazia uma lista do que eu teria que comprar no mercado.
— Entendo.
— Quer que eu leve isso para a senhora?
Ela estende as mãos para pegar as roupas.
— Ah… hum. Na verdade, ainda vou usar essas coisas.
E as roupas estão escondendo o potinho com o plugue! Fico vermelha. É impressionante que eu ainda possa encarar a Sra. Jones. Ela sabe o que fazemos — ela limpa o quarto de jogos. Credo, que esquisito não ter privacidade.
— Quando quiser, Sra. Grey. Vai ser ótimo repassar as coisas com a senhora.
— Obrigada.
Somos interrompidas por um Sawyer lívido, que sai do escritório de Christian e atravessa a sala a passos largos. Ele nos cumprimenta rapidamente, sem encarar a nenhuma de nós duas, e se refugia no escritório de Taylor. Fico aliviada com sua aparição, pois no momento não estou muito a fim de conversar sobre cardápios ou plugues anais com a Sra. Jones. Dando-lhe um breve sorriso, volto apressadamente para o quarto. Será que algum dia vou me acostumar a ter criados em casa à minha disposição? Balanço a cabeça… um dia, quem sabe.
Jogo os sapatos de Christian no chão e minhas roupas na cama, e levo para o banheiro o potinho com o plugue anal. Observo desconfiada o pequeno objeto. Parece inofensivo e surpreendentemente limpo. Para acabar logo com isso, lavo-o rapidamente com água e sabão. Será suficiente? Vou ter que perguntar ao Sr. Especialista em Sexo se deve ser esterilizado ou algo do gênero. Sinto um arrepio só de pensar.
* * *
GOSTEI DE CHRISTIAN ter deixado a biblioteca para o meu uso. Agora ela está mobiliada com uma bela escrivaninha de madeira branca onde posso trabalhar. Pego meu laptop e verifico as anotações que fiz sobre os cinco manuscritos que li durante nossa lua de mel.
Pronto, tenho tudo de que preciso. Uma parte de mim está apreensiva com a volta ao trabalho, mas jamais poderei confessar isso a Christian. Ele aproveitaria a oportunidade para me fazer sair de lá. Lembro-me da reação apoplética de Roach quando lhe contei que ia me casar e com quem, e também de que, pouco tempo depois, meu cargo foi confirmado. Percebo agora que era porque eu ia me casar com o chefe. Não é um pensamento bem-vindo. Não sou mais assistente — sou Anastasia Steele, editora.
Ainda não encontrei coragem para contar a Christian que não vou mudar meu nome no trabalho. Acho meus motivos consistentes. Preciso manter alguma distância dele, mas sei que vai dar briga quando ele finalmente descobrir. Talvez eu deva discutir isso com ele à noite.
Ajeitando-me na cadeira, dou início à minha última tarefa do dia. Verifico o relógio digital do laptop, que indica serem sete horas da noite. Christian ainda não saiu do escritório, então tenho algum tempo. Retiro o cartão de memória da câmera Nikon e o conecto ao laptop para transferir as fotos. Enquanto espero as fotos descarregarem, reflito sobre o que se passou no dia. Será que Ryan já voltou? Ou ainda está a caminho de Portland? Será que ele alcançou a tal mulher misteriosa? Será que Christian teve notícias dele? Queria algumas respostas. Não me importa que Christian esteja ocupado; quero saber o que está acontecendo, e subitamente me sinto um pouquinho ressentida por ele me manter no escuro. Então eu me levanto, com a intenção de confrontá-lo no seu escritório, mas justo nesse momento as fotos dos últimos dias de nossa lua de mel começam a surgir na tela.
Caramba!
Milhares de fotos minhas. Dormindo, muitas fotos em que estou dormindo, meu cabelo caído no rosto ou espalhado no travesseiro, os lábios entreabertos… droga — chupando o dedo. Não chupo o dedo há anos! Tantas fotos… Eu não tinha ideia de que ele tinha tirado isso tudo. Tem algumas sequências longas e meigas, entre elas uma em que estou debruçada sobre a amurada do iate, o olhar perdido à frente. Como eu não notei que estava sendo fotografada? Não contenho um sorriso quando me vejo enroscada por baixo dele, rindo — meu cabelo voando enquanto tento me desvencilhar dos seus dedos, que me atormentavam com as cócegas. E há uma outra de nós dois na cama da cabine, que ele mesmo tirou, esticando o braço. Estou aninhada em seu peito e ele olha para a câmera, um ar jovem, os olhos bem abertos… apaixonado. Sua outra mão está apoiada na minha cabeça, e eu sorrio como uma boba louca de amor, sem conseguir desviar os olhos de Christian. Ah, meu querido marido, o cabelo pós-foda todo despenteado, os olhos cinzentos brilhando, os lábios entreabertos e sorrindo. Meu lindo marido, que não suporta sentir cócegas, que não suportava ser tocado até pouco tempo mas que agora tolera meu toque. Tenho que lhe perguntar se ele gosta ou se me deixa tocá-lo não pelo seu próprio prazer, mas pelo meu.
Olho para sua imagem com as sobrancelhas franzidas, subitamente tomada pelos sentimentos que tenho por ele. Alguém em algum lugar tem a intenção de lhe fazer mal — primeiro o Charlie Tango, depois o incêndio na sede da empresa, e em seguida esse maldito carro nos perseguindo. Engulo em seco, levando a mão à boca quando um soluço involuntário me escapa. De um salto eu me levanto, abandonando o computador, e saio a procurá-lo — agora não mais para confrontá-lo, apenas para ter certeza de que ele está são e salvo.