Christian franze o cenho mais uma vez.
— Você quer ser punida?
Como ele sabe?
— Depende — murmuro, ruborizada.
— Depende de quê? — Ele esconde um sorriso.
— Se você quer me machucar ou não.
Sua boca se aperta formando uma linha fina, o bom humor esquecido. Ele se inclina para a frente e beija minha testa.
— Anastasia, você é minha esposa, não minha submissa. Nunca vou querer machucar você. Você já deveria saber disso. Só não… não tire a roupa em público. Não quero você nua nos tabloides. Você também não quer, e tenho certeza de que sua mãe e Ray também não iriam gostar.
Ah! Ray. Merda, ele teria um ataque cardíaco. Onde eu estava com a cabeça? Fico me castigando mentalmente.
O camareiro surge com as bebidas e os aperitivos e os coloca em cima da mesa de teca.
— Sente-se — ordena Christian.
Obedeço, acomodando-me em uma cadeira de diretor. Christian senta-se em uma cadeira ao meu lado e me passa o gim-tônica.
— Saúde, Sra. Grey.
— Saúde, Sr. Grey.
Tomo um golinho. Está gelado e delicioso, e sacia a sede. Quando olho para Christian, ele está me observando atentamente, e seu humor é indecifrável. É muito frustrante… Não sei se ele ainda está zangado comigo. Armo minha técnica patenteada de distração.
— Quem é o dono deste barco? — pergunto.
— Um cavaleiro inglês. Sir Fulano ou Beltrano. O bisavô começou com uma mercearia e a filha é casada com um príncipe de algum país europeu.
Ah.
— Super-ricos?
Ele parece subitamente alerta.
— Sim.
— Como você — murmuro.
— Exatamente.
Ah.
— E você — sussurra Christian, e coloca uma azeitona na boca.
Eu pisco rapidamente… A visão dele de smoking e colete prateado vem à minha mente… Ele me encarando com seus olhos ardendo de sinceridade durante a nossa cerimônia de casamento.
— Tudo que é meu agora passa a ser seu também — diz ele, sua voz ressoando claramente, recitando os votos de memória.
Tudo meu?
— É estranho. Sair do nada para… — faço um gesto com as mãos para indicar a opulência ao nosso redor — para tudo.
— Você vai se acostumar.
— Acho que nunca vou me acostumar.
Taylor aparece no deque.
— Senhor, telefone.
Christian franze o cenho, mas pega o BlackBerry que lhe é oferecido.
— Grey — atende com rispidez, e se levanta, indo até a proa do iate.
Observo o mar ao longe, desligando-me da conversa dele com Ros — imagino —, seu braço direito. Eu sou rica… podre de rica. Não fiz nada para merecer esse dinheiro… apenas me casei com um homem rico. Fico arrepiada quando minha mente rememora nossa conversa sobre o acordo pré-nupcial. Era um domingo, na mesma semana do aniversário dele, e estávamos sentados à mesa da cozinha curtindo um café da manhã preguiçoso… todos nós. Elliot, Kate, Grace e eu debatíamos sobre os méritos do bacon em oposição à salsicha, enquanto Carrick e Christian liam o jornal de domingo…
— Vejam só isso — exclama Mia, colocando seu netbook sobre a mesa da cozinha à nossa frente. — Tem uma nota no site do Seattle Nooz sobre o seu noivado, Christian.
— Já? — exclama Grace, surpresa.
E então ela fecha a cara: algum pensamento obviamente desagradável cruza sua mente. Christian franze o cenho.
Mia lê alto a coluna:
— Ficamos sabendo aqui no Nooz que o solteiro mais cobiçado de Seattle, Christian Grey, finalmente foi laçado, e que os sinos de casamento estão prestes a badalar. Mas quem é essa moça sortuda? O Nooz está em seu encalço. Ela deve estar lendo um tremendo de um acordo pré-nupcial.
Mia ri, mas para abruptamente quando Christian lhe lança um olhar gelado. O silêncio se instala e a atmosfera na cozinha dos Grey cai a menos de zero.
Ah, não! Um acordo pré-nupcial? Isso nunca passou pela minha cabeça. Engulo em seco, sentindo o sangue sumir do meu rosto. Por favor, chão, me engula agora! Christian se mexe desconfortavelmente na cadeira quando eu olho para ele, apreensiva.
Ele balança a cabeça negativamente para mim.
— Christian… — diz Carrick, gentilmente.
— Não vou discutir isso de novo — diz ele rispidamente a Carrick, que me lança um olhar nervoso e abre a boca para dizer algo. — Nada de acordo! — Christian quase grita para ele, e, emburrado, volta a ler o jornal, ignorando todos na mesa.
Eles olham alternadamente para mim e para ele… e, em seguida, para qualquer outro ponto que não seja nós dois.
— Christian — murmuro —, eu assino qualquer coisa que você e o Sr. Grey queiram.
Ora essa, não seria a primeira vez que ele me faria assinar algo. Christian levanta a cabeça e me encara com ferocidade.
— Não! — diz rispidamente.
Fico pálida de novo.
— É para proteger você.
— Christian, Ana… acho que vocês deveriam discutir isso em particular — repreende-nos Grace.
Ela olha para Carrick e Mia. Ai, meu Deus, parece que eles também estão encrencados.
— Ana, isso não tem nada a ver com você — murmura Carrick, para me tranquilizar. — E, por favor, pode me chamar de Carrick.
Christian lança um olhar gelado para o pai, e meu coração se aperta. Caramba… Ele está mesmo furioso.
Todos começam uma conversa animada e Mia e Kate se levantam para arrumar a mesa.
— Eu definitivamente prefiro salsicha — exclama Elliot.
Olho para meus dedos entrelaçados. Droga. Espero que o Sr. e a Sra. Grey não pensem que estou querendo dar o golpe do baú. Christian se inclina para mais perto de mim e carinhosamente pega minhas mãos.
— Pode parar.
Como ele sabe em que eu estou pensando?
— Ignore meu pai — continua ele, sua voz tão baixa que somente eu posso ouvi-lo. — Ele ficou muito bravo por causa da Elena. Todas as repreensões são dirigidas a mim. Minha mãe deveria ter ficado de boca fechada.
Sei que Christian ainda está irritado por causa de sua “conversa” com Carrick, ontem à noite, sobre Elena.
— Ele tem certa razão, Christian. Você é muito rico, e eu não posso lhe oferecer nada além das dívidas que fiz para pagar a faculdade.
Christian me fita, os olhos tristes.
— Anastasia, se você me deixar, pode levar tudo que não vai ficar pior. Você já me deixou uma vez. Eu sei como é.
Puta merda!
— Aquilo foi diferente — sussurro, comovida com a intensidade dele. — Mas… pode ser que você queira me deixar. — Só de pensar nisso me sinto mal.
Ele bufa e balança a cabeça, fingindo desgosto de brincadeira.
— Christian, você sabe que eu posso fazer algo excepcionalmente estúpido… E você…
Olho para minhas mãos cruzadas no colo, a dor apertando minha garganta, e não consigo terminar a frase. Perder o Christian… cacete.
— Pare. Pare agora mesmo. Esse assunto está encerrado, Ana. Não vamos mais discutir isso. Nada de acordo pré-nupcial. Nem agora… nem nunca. — Ele me lança um olhar incisivo, que me silencia. Então se vira para Grace: — Mãe, podemos fazer o casamento aqui?
E ele nunca mais mencionou isso. Na verdade, tem aproveitado cada oportunidade para me reassegurar de sua riqueza… garantir que é minha também. Eu me arrepio toda ao recordar o insano festival de compras que Christian me mandou ir fazer com Caroline Acton — a personal shopper da Neiman Marcus — para a lua de mel. Só o biquíni custou quinhentos e quarenta dólares. Quer dizer, é bem bonito, mas sinceramente… é uma quantia ridícula para se gastar em quatro pedaços triangulares de tecido.