— Não importa. — Mas, diante de seu olhar de pedra, ela continua apressadamente: — Estava no bolso de um casaco, que imagino que seja seu, que encontrei atrás da porta do quarto de Ana.
Kate titubeia perante o olhar furioso de Christian, mas ela parece se recuperar e fecha a cara para ele.
Em seu vestido vermelho-vivo, ela é um mar de hostilidade. Está deslumbrante. Mas por que diabo andou revirando as minhas roupas? Normalmente sou eu que faço isso.
— Você contou para alguém? — A voz de Christian é como uma luva de seda.
— Não! Claro que não — revida Kate, afrontada.
Christian faz que sim com a cabeça e parece relaxar. Ele se vira e caminha até a lareira. Mudas, eu e Kate o observamos pegar um isqueiro e colocar fogo no e-mail, deixando-o cair lentamente sobre a lenha até desaparecer. O silêncio na sala chega a ser opressivo.
— Nem mesmo para Elliot? — pergunto, voltando a atenção para Kate.
— Ninguém — diz Kate enfaticamente, e pela primeira vez ela parece confusa e magoada. — Só quero saber se você está bem, Ana — sussurra.
— Estou bem, Kate. Mais do que bem. Por favor, Christian e eu estamos bem, muito bem, e isso aí é passado. Por favor, ignore.
— Ignorar? — pergunta. — Como poderia ignorar aquilo? O que ele fez com você? — Seus olhos verdes estão repletos de preocupação sincera.
— Ele não fez nada comigo, Kate. Falando sério, estou bem.
Ela pisca para mim.
— Mesmo? — pergunta.
Christian passa o braço em volta de mim e me puxa para perto de si, sem tirar os olhos de Kate.
— Ana aceitou se casar comigo, Katherine — diz, calmamente.
— Casar! — Kate solta um gritinho, os olhos arregalados, incrédula.
— Isso mesmo. Nós vamos anunciar o noivado hoje à noite — diz ele.
— Ah! — Kate me olha, boquiaberta. Está atordoada. — Eu deixo você sozinha por dezesseis dias, e é isso que acontece? É muito repentino. Então, ontem, quando eu disse... — Ela olha para mim, perdida. — E onde aquele e-mail entra nessa história?
— Não entra, Kate. Esqueça, por favor. Amo Christian, e ele me ama. Não faça isso. Não estrague a festa dele e a nossa noite — sussurro.
Ela pisca e, inesperadamente, seus olhos estão cheios de lágrimas.
— Não. Claro que não. Você está bem? — Ela quer ter certeza.
— Nunca estive tão feliz — sussurro.
Ela se aproxima e agarra a minha mão, apesar de Christian manter o braço ao meu redor.
— Bem mesmo? — pergunta, esperançosa.
— Estou. — Sorrio para ela, minha alegria retornando.
Ela está do meu lado de novo. E sorri para mim, minha felicidade refletindo-se em seu rosto. Saio do abraço de Christian, e ela me abraça de repente.
— Ah, Ana, eu fiquei tão preocupada quando li aquilo. Não sabia o que pensar. Você vai me explicar o que é? — sussurra.
— Um dia, não agora.
— Ótimo. Não vou contar a ninguém. Eu amo tanto você, Ana, como minha própria irmã. Eu só pensei... Eu não sabia o que pensar. Sinto muito. Se você está feliz, então eu estou feliz.
Ela olha diretamente para Christian e repete seu pedido de desculpas. Ele acena para ela, os olhos gélidos, e sua expressão não se altera. Ah, merda, ele ainda está com raiva.
— Eu realmente sinto muito. Você tem razão, não é da minha conta — sussurra ela para mim.
Ouvimos uma batida na porta, e Kate e eu saímos do nosso abraço. Grace enfia a cabeça pela porta.
— Tudo bem, querido? — pergunta a Christian.
— Tudo bem, Sra. Grey — responde Kate imediatamente.
— Tudo bem, mãe — diz Christian.
— Ótimo. — Grace entra. — Então vocês não vão se importar se eu der um abraço de aniversário no meu filho. — Ela sorri para nós, e ele se derrete no mesmo instante e a abraça com força. — Feliz aniversário, querido — diz ela baixinho, fechando os olhos em seu abraço. — Estou tão feliz que você ainda esteja entre nós.
— Mãe, estou bem. — Christian sorri para ela.
Ela se afasta e o olha bem de perto, então sorri.
— Estou tão feliz por você — diz, acariciando seu rosto.
Ele sorri para ela, seu sorriso de mil megawatts.
Ela sabe! Quando foi que ele contou?
— Bem, crianças, se vocês já tiverem terminado a conversa de vocês, tem uma multidão de pessoas aqui para se certificarem de que você está mesmo inteiro, Christian, e para lhe desejar um feliz aniversário.
— Já vou.
Grace olha ansiosa para Kate e para mim, e parece se tranquilizar ao ver nossos sorrisos. Ela dá uma piscadela para mim, mantendo a porta aberta para nós. Christian me estende a mão, e eu a seguro.
— Christian, eu sinto muito, mesmo — diz Kate humildemente. Kate agindo com humildade é algo realmente único. Christian faz que sim para ela, e saímos da sala.
No corredor, olho ansiosa para Christian.
— Sua mãe sabe?
— Sabe.
— Ah.
E pensar que a noite poderia ter sido arruinada pela tenaz Srta. Kavanagh. Tremo só de imaginar: as ramificações do estilo de vida de Christian reveladas a todo mundo.
— Bem, a noite já começou interessante. — Sorrio com gentileza para ele.
Ele se vira para mim, e lá está de novo, seu olhar divertido. Graças a Deus.
— Como sempre, Srta. Steele, você tem um dom para o eufemismo. — Ele leva minha mão aos lábios e beija meus dedos enquanto caminhamos até a sala de estar, onde nos deparamos com uma rodada de aplausos espontânea e ensurdecedora.
Merda. Quantas pessoas foram convidadas?
Corro os olhos pela sala de estar: todos os Grey; Ethan com Mia; Dr. Flynn e sua esposa, imagino; Mac, do barco; um homem bonito, negro e alto que me lembro de ter visto no escritório de Christian quando o conheci; Lily, a amiga chata de Mia; duas mulheres que não reconheço mesmo; e... ah, não. Meu coração afunda. Aquela mulher... A Mrs. Robinson.
Gretchen se materializa com uma bandeja de champanhe. Está usando um vestido decotado preto, o cabelo num penteado alto, em vez das maria-chiquinhas, o rosto corando e os cílios piscando para Christian. Os aplausos se dissipam, e Christian aperta minha mão quando todos os olhos se voltam para ele, em expectativa.
— Obrigado a todos. Parece que vou precisar de uma destas. — Ele pega duas taças da bandeja de Gretchen e lhe abre um breve sorriso. Acho que Gretchen vai ter um troço ou desmaiar.
Ele me entrega uma das taças e ergue a sua para o restante da sala. Imediatamente, todos se aproximam. Liderando o bando vem a malvada mulher de preto. Será que nunca usa outra cor?
— Christian, eu estava tão preocupada. — Elena lhe dá um abraço breve e dois beijinhos. Ele não me solta, apesar de eu tentar liberar minha mão.
— Estou bem, Elena — murmura Christian com frieza.
— Por que você não me ligou? — Sua súplica é desesperada, os olhos examinando os dele.
— Andei ocupado.
— Você não recebeu minhas mensagens?
Christian se move, desconfortável, e me puxa para junto de si, passando o braço ao redor de mim. Seu rosto permanece impassível enquanto ele segue fitando Elena. Ela não pode mais me ignorar, então acena com a cabeça educadamente em minha direção.
— Ana — ronrona. — Você está linda, querida.
— Elena — ronrono de volta. — Obrigada.
Encontro os olhos de Grace. Ela franze a testa, observando-nos.
— Elena, preciso fazer um anúncio — diz Christian, olhando para ela sem emoção.
Seus olhos azul-claros se cobrem, enevoados.
— Claro. — Ela abre um sorriso fingido e dá um passo para trás.
— Pessoal — chama Christian. Ele espera por um momento até que o burburinho na sala tenha se dissipado e todos os olhos estejam mais uma vez sobre ele. — Obrigado a todos por terem vindo. Devo dizer que estava esperando um jantar em família, então esta festa é uma agradável surpresa. — E olha incisivamente para Mia, que sorri e lhe dá um aceno breve.