— Certo. — Aonde ela quer chegar com isso?
— Ana, ele não quer sair comigo. — Ela faz beicinho.
— Ah. — Pisco para ela, surpresa, e penso, Talvez você não seja bem o tipo dele.
— Não, falei tudo errado. Ele não quer sair comigo porque a irmã dele está saindo com o meu irmão. Sabe, ele acha que é uma situação meio que incestuosa. Mas eu sei que ele gosta de mim. O que eu faço?
— Ah, entendi — balbucio, tentando ganhar tempo. O que eu posso dizer? — Será que não dá para seguir como amigos e dar um tempo a ele? Quero dizer, vocês acabaram de se conhecer.
Ela ergue uma sobrancelha.
— Olha, eu sei que eu também acabei de conhecer Christian, mas... — Faço uma careta para ela, sem saber bem o que quero dizer. — Mia, isso é uma coisa que você e Ethan vão ter que resolver juntos. Eu tentaria o caminho da amizade.
Mia sorri.
— Você aprendeu esse olhar com Christian.
Eu coro.
— Se você quer um conselho, pergunte a Kate. Ela pode ter alguma ideia sobre como o irmão se sente.
— Você acha? — pergunta Mia.
— Acho. — Sorrio, encorajando-a.
— Legal. Obrigada, Ana.
Ela me dá mais um abraço e deixa a sala de jantar, toda saltitante — o que, diga-se de passagem, com aqueles saltos, é algo impressionante —, sem dúvida indo direto perturbar Kate. Tomo mais um gole do martíni e estou prestes a sair atrás dela quando fico paralisada.
Elena adentra a sala devagar, o rosto tenso, com uma determinação sombria e raivosa. Ela fecha a porta silenciosamente atrás de si e fecha a cara para mim.
Ah, droga.
— Ana — rosna ela.
Tento reunir todo o meu autocontrole, ligeiramente zonza depois de dois copos de champanhe e o coquetel letal que tenho em mãos. Acho que o sangue me fugiu todo do rosto, mas convoco tanto o meu inconsciente quanto minha deusa interior para tentar parecer o mais calma e equilibrada possível.
— Elena. — Minha voz é baixa, mas firme, apesar de minha boca estar seca. Por que essa mulher me assusta tanto assim? E o que ela quer agora?
— Eu lhe daria meus sinceros parabéns, mas acho que seria inapropriado. — Seus penetrantes e gélidos olhos azuis se fixam nos meus, repletos de repugnância.
— Não quero os seus parabéns, nem preciso deles, Elena. Estou surpresa e decepcionada de vê-la aqui.
Ela arqueia uma sobrancelha. Acho que está impressionada.
— Não teria pensado em você como uma adversária à altura, Anastasia. Mas você me surpreende a cada instante.
— Eu simplesmente não pensei em você — minto, friamente. Christian ficaria orgulhoso. — Agora, se me dá licença, tenho coisas muito melhores a fazer do que perder meu tempo com você.
— Não tão rápido, mocinha — sussurra ela, recostando-se contra a porta e bloqueando minha saída. — Que diabo você pensa que está fazendo, concordando em se casar com Christian? Se você acha por um minuto que é capaz de fazê-lo feliz, está muito enganada.
— O que eu concordei em fazer com Christian não é da sua conta. — Sorrio com uma doçura sarcástica. Ela me ignora.
— Ele tem necessidades, necessidades que você não pode nem começar a satisfazer — ela gaba-se.
— O que você sabe das necessidades dele? — rosno. Meu sentido de indignação explode violento, queimando dentro de mim à medida que uma onda de adrenalina me atravessa o corpo. Como essa vagabunda de merda ousa passar sermão em mim? — Você não passa de uma doente que abusa de crianças, e, se dependesse de mim, eu jogava você no sétimo círculo do inferno e ia embora sorrindo. Agora saia da minha frente, ou vou ter que arrancar você?
— Você está cometendo um grande erro aqui, mocinha. — Ela balança o indicador longo e magro para mim, a unha muito bem-feita. — Como você se atreve a julgar o nosso estilo de vida? Você não sabe de nada, você não tem ideia de onde está se metendo. E se você acha que ele vai ser feliz com uma garotinha tímida e oportunista, que só pensa em dinheiro, feito você...
Já chega! Atiro o restante do meu martíni de limão na cara dela, deixando-a encharcada.
— Não ouse me dizer onde estou me metendo! — grito para ela. — Quando você vai aprender? Não é da sua conta!
Ela me encara embasbacada, o horror estampado no olhar, e limpa a bebida pegajosa do rosto. Acho que está prestes a avançar para cima de mim, mas é empurrada para o lado, de repente, quando a porta se abre.
De pé, junto à porta, está Christian. Ele leva um milésimo de segundo para avaliar a situação: eu, pálida e tremendo; ela, encharcada e lívida. Seu belo rosto escurece e se contorce de raiva enquanto ele se aproxima, parando entre nós duas.
— Que merda que você está fazendo, Elena? — diz.
Sua voz é glacial e repleta de ameaça.
Ela pisca para ele.
— Ela não é a pessoa certa para você, Christian — sussurra.
— O quê? — grita ele, assustando a nós duas. Não posso ver seu rosto, mas todo o seu corpo está tenso, e ele irradia animosidade. — E quem é você para saber o que é certo para mim?
— Você tem necessidades, Christian — diz ela, a voz mais suave.
— Já falei: isso não é da sua conta, porra! — ruge ele.
Merda: o Christian Muito Bravo deu as caras nada feias aliás. As pessoas vão acabar ouvindo.
— Qual é o seu problema? — Ele faz uma pausa, olhando para ela. — Você acha que é você? Você? Acha que você é a pessoa certa para mim? — Ele acalma a voz, mas ela está carregada de desprezo.
E, de repente, não quero estar aqui. Não quero testemunhar esse encontro íntimo. Sinto-me uma intrusa. Mas estou paralisada... meus membros incapazes de se mover.
Elena engole em seco e parece erguer o corpo. Sua postura muda sutilmente, tornando-se mais imponente, e ela dá um passo na direção dele.
— Eu fui a melhor coisa que já aconteceu na sua vida — rebate ela, arrogante. — Olhe só para você agora. Um dos empresários mais ricos e mais bem-sucedidos dos Estados Unidos, controlado, obstinado, você não precisa de nada. Você é o mestre do seu universo.
Ele dá um passo para trás, como se tivesse levado um golpe, e a encara, boquiaberto de descrença e indignação.
— Você adorava, Christian, não tente enganar a si mesmo. Você estava no caminho da autodestruição, e eu o salvei, salvei você de passar a vida atrás das grades. Acredite em mim, meu bem, é lá que você teria acabado. Eu ensinei a você tudo o que você sabe, tudo de que você precisa.
Christian fica branco, encarando-a horrorizado. Ao falar, sua voz é baixa e incrédula.
— Você me ensinou a foder, Elena. Mas isso é vazio, vazio como você. Não me admira que Linc tenha ido embora.
A bile me vem até a boca. Eu não deveria estar aqui. Mas estou congelada no mesmo ponto, morbidamente fascinada enquanto eles se atacam.
— Você nunca me abraçou — sussurra Christian. — Você nunca disse que me amava.
Ela estreita os olhos.
— O amor é para os tolos, Christian.
— Saia da minha casa. — A voz furiosa e implacável de Grace assusta a todos nós, e viramos a cabeça rapidamente para onde ela está, sob o umbral da porta. Está encarando Elena, que empalidece sob seu bronzeado de Saint-Tropez.
O tempo parece parar enquanto nós três respiramos fundo, e Grace entra, determinada, na sala. Seus olhos estão ardendo de raiva, sem se desviar de Elena, até que está diante dela. Elena arregala os olhos de susto, e Grace lhe dá um tapa com força no rosto, o som do impacto reverberando nas paredes da sala de jantar.
— Tire as patas imundas do meu filho, sua vadia, e saia da minha casa. Agora! — sussurra por entre os dentes.
Elena leva a mão até o rosto vermelho e encara Grace horrorizada, chocada, piscando para ela. Em seguida, corre para fora da sala, sem se preocupar em fechar a porta atrás de si.