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Enfim, são cinco e meia; pego meu casaco e a bolsa, tentando acalmar meus nervos. Vou vê-lo!

— Vai sair com alguém hoje? — pergunta Jack ao passar por minha mesa a caminho da saída.

— Vou. Não. Não exatamente.

Ele ergue uma sobrancelha, seu interesse obviamente despertado.

— Namorado?

Fico vermelha.

— Não, um amigo. Ex-namorado.

— Talvez amanhã a gente pudesse tomar um drinque depois do trabalho. Você teve uma primeira semana fantástica, Ana. A gente devia comemorar. — Ele sorri e seu rosto é tomado por uma expressão estranha, inquietante, que me deixa desconfortável.

Com as mãos nos bolsos, ele passa pelas portas duplas. Faço uma careta ao vê-lo ir embora. Beber com o chefe, será que é uma boa ideia?

Balanço a cabeça. Primeiro preciso enfrentar uma noite com Christian Grey. Como vou fazer isso? Corro para o banheiro para os últimos retoques.

Dou uma olhada longa e severa no rosto do outro lado do grande espelho na parede. Sou eu, em meu estado pálido de sempre, olheiras escuras ao redor dos olhos grandes demais. Pareço magra e assustada. Queria muito saber usar maquiagem. Passo um pouco de rímel e delineador e belisco as bochechas, na esperança de que isso seja o suficiente para ressaltar um pouco a cor delas. Arrumo o cabelo para que ele caia graciosamente pelas minhas costas, e respiro fundo. É o melhor que consigo fazer.

Nervosa, atravesso o saguão de entrada com um sorriso e um aceno para Claire, na recepção. Acho que poderíamos nos tornar amigas. Jack está conversando com Elizabeth enquanto caminho na direção das portas. Com um largo sorriso, ele se apressa em abri-las para mim.

— Depois de você, Ana — murmura.

— Obrigada. — Sorrio envergonhada.

Lá fora, Taylor me espera junto da calçada. Ele abre a porta traseira do carro. Olho hesitante para Jack, que saiu depois de mim. Está encarando o Audi SUV, consternado.

Viro-me e entro no carro, e lá está ele, Christian Grey, em seu terno cinza, sem gravata, a camisa branca aberta no colarinho. Os olhos cinzentos brilhando.

Minha boca fica seca. Ele está lindo, só que está fazendo uma cara feia para mim. Por quê?

— Quando foi a última vez que você comeu? — pergunta, assim que Taylor fecha a porta atrás de mim.

Merda.

— Oi, Christian. Bom ver você também.

— Nada de bancar a espertinha. Responda. — Seus olhos estão em chamas.

Puta merda.

— Hum... Tomei um iogurte na hora do almoço. Ah, e comi uma banana.

— Quando foi a última vez que você fez uma refeição de verdade? — pergunta ele friamente.

Taylor se senta no banco do motorista, liga o carro e começa a dirigir.

Olho para fora e Jack está acenando para mim, embora eu não tenha ideia de como ele consegue me ver através dos vidros escuros. Aceno de volta.

— Quem é? — pergunta Christian.

— Meu chefe. — Dou uma olhada de relance no belo homem ao meu lado, e seus lábios estão contraídos, pressionados numa linha rígida.

— E então? Sua última refeição?

— Christian, isso não é da sua conta — murmuro, sentindo-me surpreendentemente corajosa.

— O que quer que você faça é da minha conta. Fale logo.

Não, não é. Solto um gemido de frustração, revirando os olhos. Christian faz uma careta. E pela primeira vez em muito tempo tenho vontade de rir. Esforço-me para sufocar o riso que ameaça brotar em mim. Christian suaviza o rosto, e tento manter uma expressão séria; vejo o esboço de um sorriso brotar em seus lábios maravilhosamente esculpidos.

— E então? — pergunta ele num tom mais suave.

Pasta alla vongole, sexta passada — sussurro.

Ele fecha os olhos; raiva e arrependimento, quem sabe, tomam conta de seu rosto.

— Entendo — diz ele, a voz inexpressiva. — Parece que, desde então, você perdeu pelo menos uns dois quilos, talvez mais. Por favor, Anastasia, volte a comer — ele me repreende.

Olho para baixo, para os dedos entrelaçados em meu colo. Por que ele sempre faz com que eu me sinta uma criança insolente?

Ele se ajeita no banco do carro, virando-se para mim.

— Como você está? — pergunta, a voz ainda suave.

Bem, eu estou uma merda... Engulo em seco.

— Se dissesse que estou bem, estaria mentindo.

Ele respira fundo.

— Eu também — murmura, e segura a minha mão. — Sinto sua falta — acrescenta.

Ah, não. Pele contra pele.

— Christian, eu...

— Ana, por favor. Nós precisamos conversar.

Eu vou chorar. Não.

— Christian, eu... por favor... Eu chorei muito — sussurro, tentando manter minhas emoções sob controle.

— Ah, baby, não. — Ele puxa minha mão, e antes que eu me dê conta, estou em seu colo. Ele passa os braços ao meu redor, seu nariz está em meu cabelo. — Tenho sentido tanto a sua falta, Anastasia. — Ele suspira.

Quero me soltar de seu abraço, manter a distância, mas os braços dele me envolvem. Ele me aperta contra o peito. Eu me derreto. Ah, é aqui que quero estar.

Descanso a cabeça nele, e ele beija meu cabelo várias vezes. Sinto-me em casa. Ele cheira a linho, amaciante de roupas, gel de banho e, meu cheiro favorito, Christian. Por um momento, permito-me ter a ilusão de que tudo vai ficar bem, e isso alivia minha alma devastada.

Alguns minutos depois, Taylor encosta o carro no meio-fio, embora ainda estejamos dentro da cidade.

— Vamos. — Christian me tira de seu colo. — Chegamos.

O quê?

— Heliporto, no alto deste edifício. — Ele lança um olhar de explicação em direção ao prédio.

Claro. Charlie Tango. Taylor abre a porta e eu salto do carro. Ele me lança um sorriso acolhedor e paternal que me transmite segurança. Sorrio de volta.

— Eu preciso devolver seu lenço.

— Fique com ele, Srta. Steele, com os meus melhores cumprimentos.

Fico vermelha enquanto Christian dá a volta no carro e pega minha mão. Ele olha, curioso, para Taylor, que o olha de volta impassível, sem revelar nada.

— Nove? — pergunta Christian.

— Sim, senhor.

Christian acena com a cabeça, vira-se e me conduz pelas portas duplas até o suntuoso saguão. Eu me deleito ao sentir a mão grande e os dedos longos e habilidosos entrelaçados aos meus. Sinto o puxão familiar — sou atraída como Ícaro é pelo Sol. Eu já me queimei antes, e ainda assim aqui estou de novo.

Chegamos aos elevadores, e ele aperta o botão. Olho para ele de relance, e ele está exibindo seu meio sorriso enigmático. Quando as portas se abrem, ele solta minha mão e me conduz para dentro.

As portas se fecham, e arrisco uma segunda olhadela. Ele me olha de volta, os olhos cinzentos vivos, e lá está de novo, no ar entre nós, aquela mesma eletricidade. Chega a ser palpável. Quase posso senti-la, pulsando entre nós, atraindo-nos um para o outro.

— Meu Deus... — arquejo, deleitando-me na intensidade dessa atração visceral e primitiva.

— Também posso sentir — diz ele, o olhar soturno e intenso.

O desejo se concentra, sombrio e mortal, em minha virilha. Ele aperta minha mão, roça meus dedos com o polegar, e, dentro de mim, todos os músculos se enrijecem deliciosamente.

Como ele ainda consegue causar esse efeito em mim?

— Por favor, Anastasia, não morda o lábio — sussurra.

Levanto o olhar para ele, soltando o lábio. Eu o quero. Aqui, agora, no elevador. Como poderia evitar?

— Você sabe como me deixa quando faz isso — murmura.