Ele fecha os olhos, parecendo aliviado.
— Talvez pudéssemos ter evitado todo esse sofrimento — resmunga.
— Você parece bem. — Mais do que bem. Parece você.
— As aparências enganam — diz ele, baixinho. — Não estou nem um pouco bem. Eu sinto como se o Sol tivesse se posto e não tivesse nascido por cinco dias, Ana. Estou vivendo uma noite infinita.
Essa confissão me deixa sem fôlego. Ah, meu Deus, exatamente como eu.
— Você disse que nunca iria me deixar, mas foi só as coisas ficarem difíceis para que saísse porta afora.
— Quando foi que eu disse que nunca iria deixar você?
— Dormindo. Foi a coisa mais reconfortante que ouvi em muito tempo, Anastasia. Isso me fez relaxar.
Meu coração se comprime, e eu pego minha taça de vinho.
— Você disse que me amava — sussurra ele. — Isso ficou no passado? — Sua voz é baixa, repleta de ansiedade.
— Não, Christian, não ficou.
Ele me encara, e parece muito vulnerável ao soltar o ar.
— Que bom — murmura.
Fico chocada com a declaração dele. Ele mudou de ideia. Antes, quando eu disse que o amava, parecera horrorizado. O garçom está de volta. Rapidamente, coloca os pratos diante de nós e se afasta.
Ah, não. Comida.
— Coma — ordena ele.
No fundo, sei que estou com fome, mas nesse exato instante meu estômago está dando um nó. Estar sentada diante do único homem que amei em toda a minha vida, debatendo nosso futuro incerto, realmente não é algo que abra meu apetite. Olho em dúvida para meu prato.
— Eu juro, Anastasia, se você não comer, vou colocá-la de bruços no meu colo e dar umas palmadas em você aqui neste restaurante, e não vai ter nada a ver com a minha satisfação sexual. Coma!
Relaxe, Grey. Meu inconsciente me encara por sobre os óculos de leitura. E está em total acordo com meu Cinquenta Tons.
— Tudo bem, vou comer. Controle sua mão nervosa, por favor.
Ele não sorri, mas continua a me encarar. Relutante, ergo meus talheres e corto a carne. Ah, está uma delícia, de dar água na boca. Estou com fome, morta de fome. Mastigo, e ele relaxa visivelmente.
Jantamos em silêncio. A música mudou. Uma mulher de voz suave canta ao fundo, as palavras ecoando meus pensamentos. Nunca mais vou ser a mesma desde que ele apareceu em minha vida.
Olho para Christian. Ele está comendo e me observando. Fome, desejo e ansiedade combinados em um único e cálido olhar.
— Você sabe quem está cantando? — Faço uma tentativa de conversa normal.
Christian faz uma pausa e escuta.
— Não... mas a cantora é boa, quem quer que seja.
— Também gosto.
Por fim, ele abre seu sorriso enigmático. O que está planejando?
— O que foi? — pergunto.
Ele balança a cabeça.
— Coma — diz, suavemente.
Já comi metade do prato. Não posso engolir mais nada. Como vou negociar isso?
— Não consigo. Já comi o bastante para o senhor?
Ele me encara impassível, sem responder, e em seguida olha para o relógio.
— Estou satisfeita — acrescento, tomando um gole do delicioso vinho.
— Temos que ir daqui a pouco. Taylor chegou, e amanhã você tem que acordar cedo para trabalhar.
— Você também.
— Eu preciso de muito menos horas de sono do que você, Anastasia. Pelo menos você comeu alguma coisa.
— Não vamos voltar no Charlie Tango?
— Não, achei que eu talvez fosse beber. Taylor vai nos levar de volta. Além do mais, desse jeito, pelo menos tenho você no carro só para mim por algumas horas. O que podemos fazer, fora conversar?
Ah, então é esse o plano.
Christian chama o garçom e pede a conta, em seguida, pega o BlackBerry e faz uma ligação.
— Estamos no Le Picotin, Terceira Avenida, South West. — E desliga.
Continua seco ao telefone.
— Você é muito grosso com Taylor. Aliás, com a maioria das pessoas.
— Só vou direto ao ponto, Anastasia.
— Você ainda não foi direto ao ponto esta noite. Nada mudou, Christian.
— Tenho uma proposta para você.
— Tudo isso começou com uma proposta.
— Uma proposta diferente.
O garçom volta, e Christian lhe entrega o cartão sem sequer checar a conta. Ele me encara, contemplativo, enquanto o garçom passa o cartão. O telefone vibra, e ele dá uma olhada.
Então ele tem uma proposta? O que é agora? Visualizo duas situações: sequestro ou trabalhar para ele. Não, nada faz sentido. Christian termina de pagar.
— Vamos. Taylor está lá fora.
Nos levantamos, e ele pega minha mão.
— Não quero perder você, Anastasia. — Ele beija os nós de meus dedos com ternura, e o toque de seus lábios em minha pele ressoa por todo o meu corpo.
Lá fora, o Audi nos espera. Christian abre a porta. Entro no carro e afundo no estofamento de couro. Ele se aproxima da janela do motorista; Taylor salta do carro, e eles conversam brevemente. Isso não faz parte do protocolo habitual. Fico curiosa. Do que será que estão falando? Instantes depois, os dois entram no carro, e eu lanço um olhar para Christian que, com sua expressão impassível de sempre, permanece olhando para a frente.
Por um breve momento, permito-me analisar seu perficlass="underline" nariz reto, lábios carnudos e esculpidos, o cabelo caindo deliciosamente sobre a testa. Certamente este homem divino não foi feito para mim.
Uma música inunda a parte de trás do carro, uma peça orquestral que não conheço, e Taylor começa a dirigir em meio ao tráfego leve, em direção à Interestadual 5 e a Seattle.
Christian vira-se para mim.
— Como eu estava dizendo, Anastasia, tenho uma proposta para você.
Olho, nervosa, para Taylor.
— Ele não pode nos ouvir — Christian me tranquiliza.
— Como não?
— Taylor — chama Christian. Taylor não responde. Ele o chama de novo e, de novo, fica sem resposta. Christian se inclina e toca seu ombro. Taylor remove um fone de ouvido que eu não tinha notado.
— Sim, senhor?
— Obrigado, Taylor. Pode voltar para a sua música.
— Certo, senhor.
— Feliz, agora? Ele está ouvindo seu iPod. Puccini. Esqueça que ele está aqui. É o que eu faço.
— Você pediu a ele para fazer isso?
— Pedi.
Ah.
— Certo, e a sua proposta?
De repente, Christian parece determinado e metódico. Puta merda. Estamos negociando um acordo. Escuto com atenção.
— Primeiro preciso perguntar uma coisa. Você quer um relacionamento baunilha, sem nenhuma trepada sacana?
Fico boquiaberta.
— Trepada sacana? — sussurro.
— Trepada sacana.
— Não acredito que você falou isso.
— Bem, falei. Responda — diz ele calmamente.
Fico vermelha. Minha deusa interior está de joelhos, suplicando com as mãos unidas.
— Eu gosto de uma trepada sacana — murmuro.
— É o que eu achava. Então, do que você não gosta?
De não poder tocá-lo. Do fato de você gostar de me ver sentir dor, do calor do cinto...
— Da ameaça de punição cruel e incomum.
— Como assim?
— Bem, você tem todas aquelas varas, chicotes e outras coisas no seu quarto de jogos, e isso me assusta para cacete. Eu não quero que você use aquilo comigo.
— Certo, então nada de chicotes ou varas... nem de cintos — diz ele sarcasticamente.
Eu o encaro, perplexa.
— Você está tentando redefinir os limites rígidos?
— Não exatamente, só estou tentando entender você, formar uma imagem mais clara do que você gosta e do que não gosta.
— Basicamente, Christian, é difícil lidar com seu prazer em me infligir dor. E com a ideia de que você vai fazer isso porque eu cruzei alguma espécie de linha arbitrária.
— Mas não é arbitrária, as regras estão escritas.
— Não quero um conjunto de regras.