Olhando para a cena, Blake sentiu uma pontada na virilha.
- Como pode um ser humano fazer uma coisa dessas? - disse ele em voz alta. Não havia sinal de arma, mas seria feita uma busca completa.
O delegado Blake voltou à sala para conversar com o sindico.
- Você conhecia o falecido?
- Conhecia, sim. Ele morava aqui neste apartamento.
- Qual era o nome dele?
- Tibble. Dennis Tibble.
O delegado Blake tomou nota.
- Há quanto tempo ele morava aqui?
- Quase três anos.
- O que você pode me contar sobre ele?
- Nada de mais. Tibble era bastante recatado, sempre pagava o aluguel em dia. De vez em quando trazia alguma mulher aqui. Acho que eram, em geral, profissionais.
- Você sabe onde ele trabalhava?
- Ah, sim. Na Corporação Global de Computação Gráfica.
Ele era um desses gênios da informática.
O delegado Blake fez mais um apontamento.
- Quem encontrou o corpo?
- Uma das empregadas. Maria. Ontem foi feriado, de forma que ela só veio hoje de manhã.
- Eu quero falar com ela.
- Pois não. Vou chamar a moça.
Era uma brasileira negra de aproximadamente quarenta anos, estava nervosa e assustada.
- Você encontrou o corpo, Maria?
- Não fui eu que fiz isso. Eu lhe juro. - Ela estava à beira de um ataque histérico. - Vou precisar de um advogado?
- Não. Não vai precisar de um advogado. Basta me dizer o que aconteceu.
- Não aconteceu nada. Quero dizer... Eu entrei no apartamento hoje de manhã pra fazer a faxina, como sempre faço. Eu... Eu achei que ele já tinha saído. Ele sempre sai as sete da manhã. Aí eu arrumei a sala e... Porra!
- Maria, você se lembra de como estava a sala antes da sua arrumação?
- Como assim?
- Você tirou alguma coisa do lugar? Tirou alguma coisa daqui?
- Ué, tirei! Tinha uma garrafa de vinho quebrada no chão. Estava tudo grudento. Eu...
- O que você fez com a garrafa? - perguntou ele, agitado.
- Coloquei no compactador de lixo, pra triturar.
- E fez mais o quê?
- Ora, eu limpei o cinzeiro e...
- Havia alguma binga de cigarro dentro?
Ela parou, tentando se lembrar.
- Uma. Eu joguei na lata de lixo da cozinha.
- Vamos dar uma olhada. - Ele a seguiu até a cozinha, e ela apontou para uma lata de lixo. Dentro, havia uma binga de cigarro com batom na ponta. O delegado Blake recolheu-a, cuidadosamente, com um envelope de provas.
Ele a levou de volta para a sala de estar.
- Maria, você sabe se sumiu alguma coisa do apartamento? Por acaso, tem a impressão de que qualquer coisa de valor possa ter desaparecido?
Ela olhou ao redor.
- Acho que aquelas pequenas... O senhor Tibble gostava de colecionar estatuetas. Gastava um dinheirão com isso! Parece que estão todas aqui.
- Então o motivo não foi roubo. Drogas? Vingança? Um caso amoroso que deu errado?
- O que você fez depois de arrumar a sala, Maria?
- Aspirei o pó daqui, como sempre faço. E depois... - Sua voz falhou. - Eu entrei no quarto... E o vi. - Ela olhou para o delegado Blake. - Juro que não fui eu que fiz isso.
O legista e seus assistentes chegaram numa viatura do instituto, trazendo o material para ensacar o corpo.
Três horas depois, o delegado Sam Blake estava de volta à delegacia de polícia.
- O que você achou, Sam?
- Pouca coisa! - O delegado sentou-se em frente ao comissário Dowling. - Dennis Tibble trabalhava na Global. Pelo que parece, era um desses gênios da informática.
- Mas não foi gênio o suficiente para evitar o próprio assassinato.
- Ele não foi só assassinado, Matt. Foi trucidado. Você deveria ter visto o que fizeram ao corpo dele! Só pode ter sido algum maníaco!
- Nenhuma pista?
- Não temos certeza do tipo de arma que foi usada para o crime, estamos aguardando os resultados do laboratório, mas talvez tenha sido uma garrafa de vinho quebrada. A empregada a jogou no compactador de lixo. Parece que há uma impressão digital em um dos cacos de vidro que estão nas costas dele. Falei com os vizinhos. Nada que me ajudasse. Nenhum deles viu ninguém entrando ou saindo do apartamento da vítima. Nenhum barulho incomum. Aparentemente, Tibble era um cara que ficava muito na dele. Não era do tipo de fazer amizade com vizinhos. Uma coisa: Tibble fez sexo antes de morrer. Temos resquícios de secreção vaginal, pêlos pubianos, alguns outros vestígios e uma ponta de cigarro com batom. Vamos fazer o teste de DNA.
- Os jornais vão se fazer, Sam. Já estou vendo as manchetes; MANÍACO ATACA NO VALE DO SILICIO. - O comissário Dowling soltou um suspiro. - Vamos resolver este caso o mais rápido que pudermos.
- Já estou a caminho da Global.
Ashley levara uma hora inteira para se decidir se deveria ir para o escritório. Sua aparência estava horrível. Basta olhar para mim e todos vão saber que há algo errado. Mas se eu não for, vão querer saber por quê. A polícia provavelmente estará lá, fazendo perguntas. Se me perguntarem, terei de dizer a verdade. Vão me culpar pela morte de Dennis Tibble. Mas se acreditarem em mim, e eu contar que o meu pai sabia o que ele tinha feito comigo, vão botar a culpa nele.
Ela pensou no assassinato de Jim Cleary. Chegou a ouvir a voz de Florence: os pais de Jim chegaram em casa e encontraram o corpo. Ele foi morto a facadas... E castrado. Ashley fechou os olhos, bem apertados. Meu Deus, o que está acontecendo? O que está acontecendo?
O delegado Sam Blake entrou no andar, onde grupos de funcionários com ar taciturno conversavam baixinho. Blake podia imaginar qual era o assunto das conversas. Ashley o observava apreensivamente, enquanto ele se encaminhava para o escritório de Shane Miller.
Shane se levantou para cumprimentá-lo.
- Delegado Blake? Certo. - Os dois trocaram um aperto de mãos.
- Queira sentar-se, delegado.
Sam Blake sentou-se.
- Fui informado de que Dennis Tibble era um dos funcionários da casa.
- Correto. Um dos melhores. Que tragédia horrível!
- Ele trabalhava aqui fazia uns três anos?
- Isso. Era o nosso gênio. Não havia o que ele não fizesse com um computador.
- O que você sabe sobre a vida social dele?
Shane Miller balançou a cabeça.
- Não há muito que contar acho eu. Tibble era um tipo solitário.
- Você faz idéia se ele estava metido com drogas?
- Dennis? Não, de jeito algum. Ele era um maluco saudável.
- Jogava? Poderia estar devendo muito dinheiro para alguém?
- Não. Ele ganhava um salário muito bom, mas eu acho que era bastante controlado com dinheiro.
- E com mulheres? Tinha alguma namorada?
- As mulheres não sentiam muita atração por Tibble. - Ele pensou um instante. - Mas, ultimamente, ele andava por aí dizendo que tinha alguém com quem estava pensando em se casar.
- Por acaso ele mencionou o nome?
Miller balançou a cabeça.
- Não. Pelo menos, não para mim.
- Você se importaria se eu conversasse com alguns dos seus funcionários?
- De forma alguma. Fique à vontade. Eu não posso deixar de dizer que estão todos muito abalados.
Ficariam ainda mais abalados se tivessem visto o corpo dele, pensou Blake.
Os dois saíram do escritório e se dirigiram aos demais.
Shane Miller falou em voz bem alta:
- Pessoal, atenção, por favor! Este é o delegado Blake. Ele gostaria de fazer algumas perguntas.
Os funcionários haviam interrompido o que estavam fazendo para prestar atenção.
O delegado Blake falou:
- Estou certo de que todos vocês já sabem do que aconteceu com Dennis Tibble. Precisamos da ajuda de todos para descobrir quem o matou. Algum de vocês sabe de algum inimigo que ele pudesse ter? Alguém que o detestasse o suficiente para querer matá-lo? - Silêncio. Blake prosseguiu: - Havia uma mulher com quem ele estava querendo se casar. Ele discutiu isso com algum de vocês?