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Ashley estava sentindo dificuldade para respirar. Era hora de falar. Era hora de contar ao delegado o que Tibble havia feito com ela. Mas Ashley se lembrou do olhar do pai quando lhe falara sobre isso. Decerto todos iriam achar que a culpa era dele.

Seu pai não seria capaz de matar ninguém.

Era um médico.

Era um cirurgião.

Dennis Tibble fora castrado.

O delegado Blake estava dizendo:

-... E nenhum de vocês o viu depois que ele saiu daqui na sexta-feira?

Toni Prescott pensou: Vamos. Conte a ele, Maria Certinha.

Conte que você foi ao apartamento dele. Por que não confessa?

O delegado Blake ficou parado um momento, tentando ocultar sua decepção.

- Bem, caso algum de vocês se lembre de qualquer coisa que possa ser útil, eu ficarei agradecido se me telefonar. O Sr. Miller está com o número do meu telefone. Obrigado!

Todos o observaram, enquanto ele se dirigia para a saída, acompanhado por Shane.

Ashley sentiu-se enfraquecer de alívio.

Blake se virou para Shane.

- Havia alguém aqui a quem ele fosse particularmente mais chegado?

- Não, eu suponho que não - falou Shane. - Acho que Dennis não tinha proximidade com ninguém. Ele sentia muita atração por uma das nossas operadoras de computador, mas nunca chegou a ter nada com ela.

O delegado Blake parou.

- Ela está aqui agora?

- Está, mas...

- Eu gostaria de falar com ela.

- Tudo bem. Podem usar o meu escritório. - Eles voltaram, e Ashley os viu chegando. Estavam se encaminhando direto para o seu cubículo. Ela sentiu o rosto ruborizar-se.

- Ashley, o delegado Blake gostaria de conversar com você.

Então ele sabia! Ele ia lhe perguntar sobre a sua ida ao apartamento de Tibble. Preciso tomar cuidado, pensou Ashley.

O delegado estava olhando para ela.

- Importa-se, Senhorita Paterson?

Ashley conseguiu dizer:

- Não, de forma alguma. - Ela o acompanhou até o escritório de Shane Miller

- Sente-se. - Os dois se sentaram. - Eu estou sabendo que Dennis Tibble tinha uma certa atração pela senhorita.

- Eu... Eu acho... -Cuidado! -... Que sim.

- A senhorita saiu com ele?

Uma ida ao apartamento dele não seria a mesma coisa que sair com ele.

- Não.

- Ele lhe falou sobre essa mulher com quem queria se casar?

Ela estava cada vez mais apreensiva. Será que esta conversa estaria sendo gravada? Talvez ele já soubesse de sua ida ao apartamento de Tibble. Poderiam ter encontrado suas impressões digitais. Agora era a hora de contar ao delegado o que Tibble tinha feito. Mas se eu contar, pensou Ashley, em desespero, a conversa vai levar ao meu pai, e eles irão conectar isso ao assassinato de Jim Cleary. Será que sabiam disso também? Mas a delegacia de polícia de Bedford não teria razão alguma para informar à delegacia de polícia de Cupertino. Ou teria?

O delegado Blake a estava observando, à espera de uma resposta.

- Senhorita Paterson?

- O quê? Ah desculpe! Eu fiquei tão perturbada com isso...

- Eu compreendo. O Sr. Tibble alguma vez mencionou essa mulher com quem queria se casar?

- Mencionou... Mas nunca me disse o nome dela. - Isso, pelo menos, era verdade.

- A senhorita já esteve no apartamento de Tibble?

Ashley respirou profundamente. Se dissesse que não, o interrogatório provavelmente terminaria ali. Mas se eles tivessem encontrado suas impressões digitais...

- Estive.

- Esteve no apartamento dele?

- Estive, sim.

Ele estava olhando mais atentamente para ela agora.

- A senhorita disse que nunca tinha saído com ele.

A mente de Ashley estava ativa agora.

- Correto. Não saí para namorar. Fui levar alguns papéis que ele tinha esquecido.

- Quando foi isso?

Ela se sentiu enrascada.

- Foi... Faz mais ou menos uma semana.

- E essa foi à única vez em que esteve no apartamento dele?

- Isso mesmo.

Assim, se eles tivessem encontrado suas impressões digitais, ela estaria a salvo.

O delegado Blake ficou sentado, estudando-a, e ela se sentiu culpada. Ashley quis contar-lhe a verdade. Talvez algum ladrão tivesse entrado no apartamento e o matado - o mesmo ladrão que tinha matado Jim Cleary dez anos antes e a cinco mil quilômetros dali. Se é que você acredita em coincidências! Se é que você acredita em Papai Noel! Se é que você acredita em fadas!

Maldito seja você, papai.

O delegado Blake falou:

- Foi um crime horrível. Não parece ter havido motivo algum. Mas eu lhe digo uma coisa, em todos esses anos que venho trabalhando no departamento, jamais vi um crime sem motivo.

- Não houve resposta alguma. - Você sabe se Dennis Tibble estava envolvido com drogas?

- Tenho certeza de que não.

- Então, o que nos resta? Não foram drogas. Ele não foi roubado. Não devia dinheiro a ninguém. Parece que sobra apenas o aspecto passional, não é mesmo? Alguém que estivesse com ciúmes dele. Ou um pai que quisesse proteger a filha.

- Eu estou tão intrigada quanto o senhor, delegado.

Ele a fitou com firmeza por um instante e seus olhos pareceram dizer: Não estou acreditando em você, mocinha.

O delegado Blake se levantou, pegou um cartão e o entregou a Ashley.

- Caso a senhorita consiga se lembrar de alguma coisa, eu ficarei grato se me der um telefonema.

- Eu darei, com certeza.

- Bom dia!

Ela esperou que ele saísse. Acabou. Papai está a salvo.

Quando Ashley voltou para seu apartamento naquela noite, havia um recado na secretária eletrônica.

- Você me deixou excitadíssimo ontem à noite, gatinha. Fiquei alucinado. Mas você vai me dar uma atençãozinha hoje, conforme me prometeu. Na mesma hora, no mesmo lugar.

Ashley ficou ali parada, escutando, incrédula. Eu estou ficando maluca, pensou. Isto não tem nada a ver com meu pai. Deve ter mais alguém por trás desta história toda. Mas quem? E por quê?

Cinco dias depois, Ashley recebeu um extrato do seu cartão de crédito. Três itens lhe chamaram a atenção.

Uma conta da loja Mod Dress, de 450 dólares.

Uma conta da boate Circus, de 300 dólares.

Uma conta do restaurante Louie's, de 250 dólares.

Ela jamais ouvira falar da loja, da boate nem do restaurante.

Capítulo Sete

Ashley Paterson acompanhou as investigações do assassinato de Dennis Tibble pelos jornais e pela televisão todos os dias. A Polícia parecia ter chegado a um beco sem saída. Acabou, pensou Ashley. Não há mais nada com que me preocupar.

Naquela noite, o delegado Sam Blake apareceu em seu apartamento. Ashley olhou para ele, sua boca subitamente ressecada.

- Espero não estar incomodando - disse o delegado. - Eu estava a caminho de casa e achei que seria bom passar por aqui.

Ashley engoliu em seco.

- Não é incômodo algum. Pode entrar.

O delegado Blake entrou no apartamento.

- Você tem uma bela casa.

- Obrigada!

- Aposto que Dennis Tibble não gostava deste tipo de mobília.

O coração de Ashley começou a palpitar

- Não sei. Ele nunca esteve neste apartamento.

- Ah, achei que pudesse ter estado, você sabe.

- Não, eu não sei, delegado. Eu lhe disse que nunca namorei com ele.

- Isso mesmo. Posso me sentar?

- Faça o favor

- Sabe, é que estou tendo um problemão com este caso, Senhorita Paterson. Ele não se encaixa em nenhum dos padrões. Conforme eu disse, sempre há um motivo, Eu já falei com algumas das pessoas da Global e parece que ninguém conhecia Tibble muito bem. Ele era um cara muito recatado.

Ashley ficou escutando, à espera do baque.

- A bem da verdade, pelo que me contaram, a senhorita era a única por quem ele se interessava.