- Ele não é meu namorado.
- Aposto que você quer que ele seja, não é?
- Fosse. Talvez.
- Por que não liga para ele?
- Acho que não ficaria bem eu...
- Ligue.
Eles marcaram para se encontrar no museu De Young.
- Senti saudade de você - falou Richard Melton. - Como foram as coisas em Quebeque?
- Va bene.
- Eu gostaria de ter ido com você.
Talvez um dia, pensou Alette, esperançosa.
- Como está indo a sua pintura?
- Nada mal. Acabei de vender um dos meus quadros para um colecionador muito conhecido.
- Fantástico! - Ela ficou satisfeita. E não conseguiu deixar de pensar. É tão diferente quando estou com ele! Se fosse qualquer outra pessoa, eu pensaria: E quem teria o mau gosto de dar algum dinheiro pelos seus quadros? Ou Não vá largar o seu emprego ou uma centena de outros comentários cruéis. Mas não faço isso com Richard.
Alette sentiu uma incrível sensação de liberdade, como se tivesse encontrado a cura para uma doença debilitante.
Eles resolveram almoçar no museu.
- O que você vai querer? - perguntou Richard. – O rosbife daqui é ótimo.
- Eu sou vegetariana.
- Tudo bem.
- Vou comer uma salada. Obrigada!
Uma garçonete jovem e atraente veio atendê-los.
- Oi, Richard!
- Oi, Bemice!
Inesperadamente, Alette sentiu uma pontada de ciúmes. Sua reação a surpreendeu.
- Vocês já querem fazer o pedido?
- Por favor. A Senhorita Peters vai querer uma salada, e eu vou comer um sanduíche de rosbife.
A garçonete estava analisando Alette. Ela está com ciúmes de mim? Indagou Alette a si própria. Quando a garçonete se foi, Alette falou:
- Que moça bonita! Você a conhece bem? - Ela corou imediatamente. Eu gostaria de não ter feito esta pergunta.
Richard sorriu.
- Eu venho sempre aqui. No início, quase não tinha dinheiro. Eu pedia um sanduíche, e Berenice me trazia um banquete. Ela é ótima.
- Ela parece ser muito legal - falou Alette. E pensou: Ela tem as coxas grossas.
Depois de fazerem o pedido, eles conversaram sobre pintores.
- E um dia eu quero ir a Giverny - disse Alette -, onde Monet pintava.
- Você sabia que Monet começou como caricaturista?
- Não.
- É verdade. Depois ele conheceu Boudin, que virou seu professor e o convenceu a começar a pintar ao ar livre. Existe uma história interessante sobre isso. Monet ficou tão aficionado por pintar fora do ateliê, que quando resolveu reproduzir a imagem de uma mulher num jardim, numa tela com quase três metros de altura, mandou cavar uma vala no meio do jardim para poder erguer ou baixar a tela com polias. Esse quadro está no Museu d'Orsay, em Paris.
O tempo passou rápida e alegremente.
Depois do almoço, Alette e Richard passearam pelas diversas mostras do museu. Havia mais de quarenta mil objetos na coleção, tudo desde artesanato egípcio antigo até pintura contemporânea norte-americana.
Alette se sentia radiante por estar na companhia de Richard e por não ter nenhum pensamento negativo. Che cosa significa? É um guarda uniformizado se aproximou deles.
- Boa tarde, Richard!
- Boa tarde, Brian! Esta é minha amiga, Alette Peters. Brian Hill.
Brian falou para Alette:
- Está gostando do museu?
- Ah, sim. É maravilhoso.
- Richard está me ensinando a pintar - disse Brian.
Alette olhou para Richard.
- É mesmo?
Richard falou, com modéstia:
- Ora, eu só o estou orientando!
- Ele está fazendo mais do que isso, senhorita. Eu sempre quis ser pintor. Foi por isso que aceitei este emprego no museu, porque adoro arte. Enfim, Richard vem sempre aqui, e é pintor. Quando vi o trabalho dele, pensei: "Quero ser como ele". Então, perguntei se ele não queria me dar aulas, e ele tem sido um ótimo professor! A senhorita já viu alguns dos quadros dele?
- Já vi, sim - disse Alette. - São magníficos.
Quando os dois se afastaram de Brian, Alette falou:
- É muito legal da sua parte fazer uma coisa dessas, Richard.
- Eu gosto de fazer coisas pelas pessoas - e ele estava olhando para Alette.
Assim que saíram do museu, Richard falou:
- Meu companheiro de quarto foi a uma festa hoje à noite. Por que não damos um pulinho no meu apartamento? - Ele sorriu. - Eu gostaria de lhe mostrar alguns dos meus quadros.
Alette apertou a mão dele.
- Ainda não, Richard.
- Como você quiser. Vamos nos ver no fim de semana que vem?
- Vamos.
E ele não tinha ideia do quanto ela estava ansiando por isso.
Richard caminhou junto com Alette até o estacionamento onde ela havia deixado o carro. Ele ficou acenando, enquanto ela partia.
Quando estava deitada para dormir naquela noite, Alette pensou: como se fosse um milagre. Richard me libertou. Ela adormeceu, sonhando com ele.
As duas da madrugada, o companheiro de quarto de Richard Melton, Gary, chegou de uma festa de aniversário. O apartamento estava às escuras. Ele acendeu as luzes da sala.
- Richard?
Foi em direção ao quarto. À porta, ele olhou para dentro do cômodo e teve ânsias de vomito.
- Acalme-se, meu filho. - O polícia Whittier olhou para a figura que tremia sentada na poltrona. - Agora, vamos repassar toda a história. Ele tinha inimigos, alguém que o detestava a ponto de fazer uma coisa dessas?
Gary engoliu em seco.
- Não. Ninguém... Todo mundo gostava de Richard.
- Existe alguém que não gostava. Há quanto tempo você e ele estavam juntos?
- Dois anos.
- Vocês eram amantes?
- Pelo amor de Deus! - disse Gary, indignado. - Não. Éramos amigos, compartilhávamos o apartamento por uma questão financeira.
O polícia Whittier olhou ao redor do pequeno ambiente.
- Com toda a certeza, não foi roubo - disse. - Não há o que roubar por aqui. O seu companheiro de quarto estava saindo com alguém, estava tendo algum romance?
- Não... Ou melhor, sim. Ele andava interessado numa garota. Acho que estava começando a gostar dela.
- Você sabe o nome dela?
- Sei. Alette. Alette Peters. Ela trabalha em Cupertino.
O polícia Whittier e seu parceiro Reynolds se entreolharam.
- Cupertino?
- Meu Deus! - disse Reynolds.
Trinta minutos depois, o polícia Whittier estava ao telefone com o comissário Dowling.
- Comissário, achei que o senhor gostaria de saber que estamos com um assassinato aqui com o mesmo modus operandi que vocês tiveram em Cupertino: vários ferimentos causados por objeto contundente pontiagudo e castração.
- Meu Deus!
- Acabei de ter uma conversa com o FBI. O computador deles mostra que houve três castrações com morte muito semelhantes a esta. A primeira ocorreu em Bedford, na Pensilvânia, cerca de dez anos atrás, a segunda com um homem chamado Dennis Tibble, que foi o seu caso, depois houve o mesmo modus operandi em Quebeque e agora este.
- Não faz sentido. Pensilvânia... Cupertino... Quebeque... São Francisco... Há alguma conexão?
- Estamos tentando encontrar. É necessário passaporte para ir a Quebeque. O FBI está fazendo uma verificação cruzada para ver se alguém que tenha estado em Quebeque na época do Natal estava em alguma destas outras cidades à época dos assassinatos...
Quando a mídia ouviu rumores do que estava acontecendo, suas histórias se espalharam pelas primeiras páginas do mundo inteiro:
"MANÍACO ASSASSINO À SOLTA..."
Em todas as redes, psicólogos arrogavam-se o poder de analisar os assassinatos:
"... e todas as vitimas eram homens. Devido à forma como eles foram esfaqueados e castrados, o autor seria indubitavelmente um homossexual que..."
"... portanto, conseguindo encontrar uma conexão entre as vitimas, a polícia acabará descobrindo que tudo isso foi obra de uma amante desprezada por esses homens..."