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"... mas eu diria tratar se de assassinatos aleatórios, cometidos por alguém cuja mãe fosse dominadora..."

No sábado de manhã, o polícia Whittier telefonou de São Francisco para o delegado Blake.

- Delegado, tenho novidades.

- Diga.

- Acabo de receber um telefonema do FBI. Cupertino consta como residência de uma norte-americana que estava em Quebeque na data do assassinato de Parent.

- Muito interessante! E qual é o nome dela?

- Paterson. Ashley Paterson.

Às seis horas daquela mesma tarde, o delegado Sam Blake tocou a campainha do apartamento de Ashley Paterson. Ainda diante da porta fechada, ela ouviu a própria pergunta proferida com cautela:

- Quem é?

- Delegado Blake. Eu gostaria de conversar com a Senhorita Paterson.

Houve um silêncio prolongado e, em seguida, a porta foi aberta.

Ashley estava ali de pé, com uma expressão de alerta no rosto.

- Posso entrar?

- Pois não. - Seria algo sobre o meu pai? Preciso tomar cuidado. Ashley conduziu o delegado a um sofá. - Em que posso ser útil, delegado?

- A senhorita se importaria de responder a algumas perguntas?

Ashley se ajeitou no sofá, pouco à vontade.

- Eu... Eu não sei. Estou sob suspeita de alguma coisa?

Ele lhe abriu um sorriso reconfortante.

- Nada disso, Senhorita Paterson. Só uma questão de rotina. Estamos investigando alguns assassinatos.

- Eu não sei nada de assassinato algum - apressou-se em dizer. Teria se apressado demais?

- A senhorita esteve em Quebeque recentemente, não esteve?

- Estive.

- Conhece Jean Claude Parent?

- Jean Claude Parent? - Ela pensou um instante. - Não. Nunca ouvi falar. Quem é?

- É dono de uma joalheria em Quebeque.

Ashley balançou a cabeça.

- Não comprei nenhuma jóia em Quebeque.

- A senhorita trabalhava com Dennis Tibble.

Ashley sentiu o medo retornar. Aquilo tinha a ver com o seu pai. Ela falou, cautelosa:

- Eu não trabalhava com ele. Dennis trabalhava na mesma empresa que eu.

- Certo. A senhorita costuma ir a São Francisco, não é?

Ashley ficou a imaginar onde aquilo poderia acabar. Cuidado!

- De vez em quando, sim.

- Alguma vez teve a oportunidade de conhecer um artista plástico chamado Richard Melton?

- Não. Eu não conheço ninguém com esse nome.

O delegado Blake ficou sentado, estudando Ashley, frustrado.

- Senhorita Paterson, se importaria de vir à delegacia de polícia para fazer um teste poligráfico? Se desejar, pode chamar o seu advogado e...

- Não preciso de um advogado. Farei o teste com prazer.

O perito em poligrafia se chamava Keith Rosson e era um dos melhores. Teve de cancelar um compromisso para jantar, mas ficou satisfeito em poder atender Sam Blake.

Ashley estava sentada numa cadeira, conectada aos fios do polígrafo. Rosson já vinha conversando com ela fazia quarenta e cinco minutos, obtendo informações sobre o seu passado e avaliando o seu estado emocional. Agora estava pronto para começar.

- Está se sentindo confortável?

- Estou.

- Bom. Vamos começar - Ele apertou um botão. - Qual é o seu nome?

- Ashley Paterson.

Os olhos de Rosson passavam de Ashley para o gráfico impresso pelo polígrafo.

- Quantos anos tem, Senhorita Paterson?

- Vinte e oito.

- Onde mora?

- Na vila Via Camino, número 10. 964, em Cupertino.

- Tem emprego?

- Tenho.

- Gosta de música clássica?

- Gosto.

- Conhece Richard Melton?

- Não.

Não houve alteração do gráfico.

- Onde trabalha?

- Na Corporação Global de Computação Gráfica.

- Gosta do seu trabalho?

- Gosto.

- Trabalha cinco dias por semana?

- Trabalho.

- Conheceu Jean Claude Parent?

- Não.

O gráfico continuou sem alterações.

- Tomou café da manhã hoje?

- Tomei.

- Matou Dennis Tibble?

- Não.

As perguntas prosseguiram durante mais trinta minutos e foram repetidas três vezes, em seqüências diferentes.

Quando terminou a sessão, Keith Rosson entrou no escritório de Sam Blake e entregou-lhe o teste do polígrafo.

- Limpinha! Há menos de um por cento de chances de ela estar mentindo. Você pegou a pessoa errada.

Ashley saiu da delegacia de polícia, aliviada. Graças a Deus isso acabou! Ela estava aterrorizada com a possibilidade de eles lhe fazerem perguntas que pudessem envolver seu pai, mas isso não aconteceu. Agora ninguém vai poder associar papai a qualquer assassinato.

Ela estacionou o carro na garagem e pegou o elevador para o seu andar. Destrancou a porta, entrou e tornou a trancá-la com cuidado. Estava exausta e, ao mesmo tempo, rejubilada. Um bom banho quente, pensou. Entrou no banheiro e ficou lívida. Sobre o espelho do banheiro, alguém escrevera com batom vermelho brilhante "VOCÊ VAI MORRER".

Capitulo Nove

Ashley estava combatendo a histeria. Seus dedos tremiam tanto, que ela discou três vezes, tentando acertar o número. Respirou fundo e tentou novamente. Dois... Nove... Nove... Dois... Um... Zero... Um... O telefone começou a tocar

- Delegacia de polícia.

- O delegado Blake, por favor. Depressa!

- O delegado Blake foi para casa. Será que outra pessoa...?

- Não! Eu... Você pode pedir para ele me ligar? Aqui quem fala é Ashley Paterson. Eu preciso falar com ele imediatamente.

- Queira aguardar na linha um momentinho, senhorita, que eu vou ver se consigo localizá-lo.

O delegado Sam Blake estava escutando pacientemente a mulher, Serena, que falava aos berros.

- Meu irmão bota você pra trabalhar feito um burro de carga, dia e noite, e não lhe paga o suficiente pra você me sustentar com decência. Por que você não exige um aumento? Por quê?

Eles estavam à mesa de jantar

- Pode me passar as batatas, querida?

Serena pegou o prato de batatas e bateu com ele sobre a mesa em frente ao marido.

- O problema é que eles não sabem o quanto você vale.

- Tem razão, querida. Pode me passar o molho?

- Você não está escutando o que eu estou dizendo? - gritou ela.

- Cada palavra, meu amor. O jantar está delicioso. Você é uma ótima cozinheira.

- Como é que eu posso brigar com você, seu idiota, se você não briga comigo?

Ele abocanhou uma garfada de vitela.

- É porque eu amo você, minha querida.

O telefone tocou.

- Com licença! - Ele se levantou e atendeu. - Alô... Pois não... Pode colocá-la na linha. Senhorita Paterson? - Ele ouviu os soluços dela.

- É uma coisa... Uma coisa terrível aconteceu. O senhor precisa vir até aqui imediatamente.

- Estou a caminho.

Serena se levantou.

- O quê? Você vai sair? Nós ainda nem acabamos de jantar!

- É uma emergência, querida. Vou voltar assim que puder. - Ela o viu a fivelar a cartucheira. Ele se inclinou sobre ela e a beijou. - Que jantar maravilhoso!

Ashley abriu a porta assim que ele chegou. Seu rosto estava manchado de lágrimas. Ela tremia.

Sam Blake entrou no apartamento, esquadrinhando o ambiente com cautela.

- Tem mais alguém aqui?

- Alguém... Esteve aqui. - Ela estava se esforçando para manter o autocontrole. - Venha ver... - Ela o levou até o banheiro.

O delegado Blake leu as palavras escritas no espelho em voz alta:

- Você vai morrer

Ele se virou para Ashley.

- Alguma idéia de quem poderia ter escrito isso?

- Não - disse ela. - O apartamento é só meu. Ninguém mais tem a chave... E alguém tem vindo aqui... Anda me seguindo. Alguém está planeando me matar. - E irrompeu em lágrimas. - Eu não agüento mais isso.

Ashley estava aos prantos, fora de controle. O delegado Blake colocou o braço ao redor dos ombros dela e a confortou.