- Tenha calma. Vai ficar tudo bem. Nós vamos lhe dar proteção e vamos descobrir quem está por trás disso.
Ela respirou fundo.
- Desculpe! Eu... Eu não costumo me comportar desse jeito... É que tem sido horrível para mim.
- Vamos conversar - falou Sam Blake.
Conseguindo abrir um sorriso a muito custo, Ashley respondeu:
- Tudo bem.
- Que tal tomarmos uma boa xícara de chá?
Eles ficaram sentados, conversando e tomando chá quente.
- Quando foi que tudo isso começou, Senhorita Paterson?
- Mais ou menos... Uns seis meses atrás. Eu sentia que estava sendo seguida. A princípio, era só uma impressão meio vaga, mas aí começou a tomar vulto. Eu sabia que estava sendo seguida, mas não conseguia ver ninguém. Então, lá no trabalho, alguém entrou no meu computador e desenhou um braço, a mão empunhando uma faca, querendo me... Querendo me atacar.
- E a senhorita faz idéia de quem poderia ter sido?
- Não.
- A senhorita disse que alguém entrou neste apartamento antes de hoje?
- Isso. Uma vez, alguém acendeu todas as luzes quando eu não estava. Outra vez, eu encontrei uma ponta de cigarro sobre a minha cômoda. Eu não fumo. E alguém abriu a gaveta e mexeu nas... Nas minhas roupas íntimas. - Ela respirou fundo. - E agora... Isso aí!
- A senhorita tem algum namorado que possa estar se sentindo rejeitado?
Ashley balançou a cabeça.
- Não.
- Participou de alguma negociação onde alguém possa ter perdido dinheiro por sua causa?
- Não.
- Nenhuma ameaça de ninguém?
- Não. - Ela pensou em lhe contar sobre o fim de semana perdido em Chicago, mas com isso poderia ter de mencionar o pai. Preferiu não dizer nada.
- Eu não quero ficar sozinha aqui hoje à noite - falou Ashley
- Tudo bem. Vou ligar para a delegacia e pedir que eles mandem alguém para...
- Não! Por favor! Estou com medo, não consigo confiar em mais ninguém. O senhor poderia ficar aqui comigo, só até amanhã de manhã?
- Acho que eu não...
- Ah, por favor. - Ela tremia.
Ele a fitou nos olhos e achou que nunca tinha visto ninguém tão aterrorizado assim.
- Não haveria algum lugar onde a senhorita pudesse passar a noite? Não tem amigos que...?
- E se for um dos meus amigos quem está fazendo isso?
Ele assentiu.
- Está certo. Então, eu fico. Quando amanhecer, vou providenciar proteção vinte e quatro horas por dia para a senhorita.
- Obrigada! - A voz dela soou aliviada.
Ele afagou a mão de Ashley
- E não se preocupe. Eu lhe prometo que vamos chegar ao fundo disso tudo. Deixe-me telefonar para o comissário Dowling e contar-lhe o que está acontecendo.
O telefonema durou cinco minutos e, ao terminar, ele falou:
- É melhor eu ligar para a minha mulher.
- Claro.
O delegado Blake tornou a pegar o aparelho e discou.
- Alô, querida! Não vou voltar para casa hoje à noite, de modo que acho que seria uma boa idéia você ver televisão e...
- Você não vai o quê? Onde você está, com uma dessas suas putinhas baratas?
Ashley pôde ouvir os gritos dela ao telefone.
- Serena...
- A mim você não engana.
- Serena...
- É só nisso que vocês homens pensam... Dar uma trepadinha.
- Serena...
- Quer saber de uma coisa? Eu não vou mais tolerar isso, não!
- Serena...
- É essa a gratidão que eu recebo por ser uma esposa tão boa...
A conversa unilateral continuou durante mais dez minutos.
Finalmente, o delegado Blake desligou o aparelho e se virou para Ashley, constrangido.
- Eu tenho de pedir desculpas. Ela não é assim.
Ashley olhou para ele e disse:
- Eu entendo.
- Não... Eu estou falando sério. Serena age dessa maneira porque está com medo.
Ashley olhou para ele, curiosa.
- Medo?
Ele ficou em silêncio por um momento.
- Serena está morrendo. Ela tem câncer. A doença não se manifestou durante algum tempo. Começou há sete anos. Nós estamos casados há cinco.
- Então, o senhor já sabia...?
- Sabia. Mas não me importei. Eu a amo. - Ele parou de falar - Tem piorado ultimamente. Ela anda assustada porque está com medo de morrer e teme que eu a abandone. Toda aquela gritaria serve para encobrir o medo.
- Eu... Eu sinto muito.
- Ela é uma pessoa maravilhosa. No fundo, é gentil, carinhosa, amável. Esta é a Serena que eu conheço.
- Eu peço desculpas por ter causado um... - falou Ashley
- De jeito algum! - Ele olhou ao redor
- Só há um quarto. O senhor pode ficar lá. Eu dormirei no sofá - disse Ashley
O delegado Blake balançou a cabeça.
- O sofá está bom para mim.
- Eu nem sei como lhe agradecer - falou ela.
- Não tem problema, Senhorita Paterson. - Ele a observou ir até um armário para pegar lençóis e cobertores.
Ela foi ao sofá e esticou o lençol.
- Espero que o senhor...
- Perfeito. Eu não pretendo dormir muito mesmo. - Ele verificou as janelas para se certificar de que estivessem bem fechadas e depois foi até à porta, dando duas voltas na tranca. - Tudo certo. - Ele colocou a arma sobre a mesa ao lado do sofá.
- Durma bem. De manhã, nós vamos organizar tudo direitinho.
Ashley assentiu. Foi até ele e deu-lhe um beijo no rosto.
- Obrigada!
O delegado Blake esperou que ela entrasse no quarto e fechasse a porta. Voltou às janelas e verificou-as novamente. A noite seria longa.
Na sede do FBI em Washington, o agente Ramirez conversava com Roland Kingsley, o chefe de sua seção.
- Temos as impressões digitais e os laudos do DNA encontrados nas cenas dos crimes de Bedford, Cupertino, Quebeque e São Francisco. Acabamos de receber o último laudo do DNA. Todas as impressões digitais tiradas in loco coincidem, e os traços de DNA também.
Kingsley assentiu.
- Então, trata-se definitivamente de um só maníaco assassino.
- Não há dúvida.
- Vamos encontrar o canalha.
Às seis horas da manhã, o corpo nu do delegado Sam Blake foi encontrado pela mulher do sindico no beco situado atrás do edifício onde ficava o apartamento de Ashley Paterson.
Ele fora esfaqueado e castrado.
Capítulo Dez
Eles eram cinco: o comissário Dowling, dois detetives à paisana e dois polícias uniformizados. Estavam de pé na sala, olhando para Ashley, que estava sentada numa poltrona, chorando histericamente.
- A senhorita é a única pessoa que pode nos ajudar - disse o comissário Dowling.
Ashley olhou para todos eles e assentiu. Ela respirou fundo várias vezes.
- Eu... Eu vou tentar.
- Vamos começar pelo princípio. O delegado Blake passou a noite aqui?
- Passou, sim. Eu tinha pedido a ele. Eu estava desesperada de medo.
- Este apartamento tem um quarto.
- Isso mesmo.
- Onde o delegado Blake dormiu?
Ashley apontou para o sofá, que tinha um cobertor e um travesseiro em cima.
- Ele... Ele passou a noite ali.
- A que horas a senhorita foi dormir?
Ashley pensou um instante.
- Deve... Deve ter sido em torno da meia-noite. Eu estava nervosa. Nós tomamos chá juntos e conversamos um pouco, até que me senti mais calma. Aí, eu trouxe os cobertores, lençóis e um travesseiro para ele, em seguida fui para o meu quarto. - Ela estava se esforçando para manter o autocontrole.
- Essa foi à última vez que a senhorita o viu?
- Foi.
- E depois foi dormir?
- Não de imediato. Acabei tomando um comprimido para dormir. A próxima coisa de que me lembro é de ser acordada pelos berros de uma mulher no beco. - Ela começou a tremer.
- A senhorita acha que alguém entrou neste apartamento e matou o delegado Blake?