- Eu... Eu não sei - falou Ashley, desesperada. - Alguém tem entrado aqui. Chegaram até a escrever uma ameaça no espelho do banheiro.
- Ele me falou sobre isso ao telefone.
- Ele pode ter ouvido alguma coisa e ido lá fora investigar - disse Ashley
O comissário Dowling balançou a cabeça.
- Eu acho que ele não teria ido lá fora nu.
- Eu não sei! Eu não sei! Isto é um pesadelo - gritou Ashley, cobrindo os olhos com as mãos.
O comissário Dowling falou:
- Eu gostaria de dar uma olhada no apartamento. Vou precisar de um mandato de busca?
- Claro que não. F-fique à vontade.
O comissário Dowling fez um aceno de cabeça para os detetives. Um deles entrou no quarto. O outro foi para a cozinha.
- Sobre o que a senhorita e o delegado Blake conversaram?
- Eu contei a ele sobre... Sobre as coisas que andam acontecendo comigo. Ele ficou muito... - Ela levantou o rosto e olhou para o comissário Dowling. - Por que alguém iria matá-lo? Por quê?
- Eu não sei, Senhorita Paterson. Nós vamos descobrir.
O tenente Elton, o detetive que inspecionara a cozinha, estava parado à porta.
- Posso falar com o senhor um instantinho, comissário?
- Com licença.
O comissário Dowling entrou na cozinha.
- O que foi?
- Encontrei isto na pia - disse o tenente. Ele estava segurando, pela borda da lâmina, uma faca de carne manchada de sangue. - Não foi lavada. Acho que vamos conseguir algumas impressões.
Kostoff, o segundo detetive, saiu do quarto para a sala e entrou apressado na cozinha. Estava segurando um anel de esmeralda, incrustado de diamantes.
- Encontrei isto aqui na caixa de jóias dentro do quarto.
Atende à descrição que recebemos de Quebeque sobre o anel que Jean Claude Parent deu a Toni Prescott.
Os três se entreolharam.
- Isto não está fazendo sentido algum - disse o comissário de polícia. Cuidadosamente, ele pegou a faca de carne e o anel e voltou para a sala. Estendeu a faca e disse: - Senhorita Paterson, esta faca é sua?
Ashley olhou para ela.
- Eu... É, sim. Pode ser. Por quê?
O comissário Dowling estendeu o anel.
- A senhorita já viu este anel antes?
Ashley olhou para ele e balançou a cabeça.
- Não.
Ashley respirou fundo.
- Nós o encontramos na sua caixa de jóias.
Eles observaram a expressão dela. Estava completamente atônita.
Ela sussurrou:
- Eu... Alguém deve tê-lo colocado lá...
- Quem faria uma coisa dessas?
O rosto dela estava pálido.
- Eu não sei.
Um detetive entrou pela porta da frente.
- Comissário?
- Diga, Baker - Ele levou o detetive para um canto. - O que você conseguiu?
- Encontramos manchas de sangue no tapete do corredor e no elevador. Parece que o corpo foi colocado num lençol, arrastado até o elevador e jogado no beco.
- Puta merda! - O comissário Dowling se virou para Ashley
- Senhorita Paterson, está presa. Vou informá-la dos seus direitos: tem o direito de permanecer em silêncio. Tudo que disser poderá ser usado contra a senhorita num tribunal de justiça. Tem o direito de usar os serviços de um advogado. Se não tiver como pagar um advogado, um será indicado pelos tribunais para defendê-la.
Quando eles chegaram à delegacia, o comissário Dowling falou:
- Tirem as impressões digitais dela; podem autuá-la.
Ashley passou pelos procedimentos como um autômato. Depois de concluídos, o comissário Dowling falou:
- A senhorita tem direito a fazer um telefonema.
Ashley olhou para ele e falou, apática:
- Não tenho para quem telefonar. Não posso telefonar para o meu pai.
O comissário Dowling esperou que Ashley fosse levada para uma cela.
- Quero ser mico de circo se eu conseguir entender isto! Você viu o teste poligráfico dela? Eu seria capaz de jurar que era inocente.
O detetive Kostoff entrou.
- Sam praticou sexo antes de morrer. Nós passamos uma luz ultravioleta sobre o corpo dele e o lençol em que estava enrolado. Obtivemos resultado positivo para sêmen e secreção vaginal. Nós...
O comissário Dowling grunhiu.
- Espere aí. - Ele vinha protelando o momento em que teria de dar a notícia à irmã. Precisava ser agora. Ele soltou um suspiro e disse: - Logo mais eu volto.
Vinte minutos depois, ele estava na casa de Sam.
- Ora, mas que prazer inesperado - falou Serena. - Sam está com você?
- Não, Serena. Eu preciso lhe fazer uma pergunta. - Isso ia ser difícil.
Ela estava olhando para ele, curiosa.
- Pois não?
- Você e Sam tiveram relação sexual nas últimas vinte e quatro horas?
A expressão no rosto dela mudou.
- O quê? Nós... Não. O que você quer...? Sam não vai voltar, não é?
- Odeio ter de lhe dizer, mas ele...
- Ele me trocou por ela, não foi? Eu sabia que isto iria acontecer. Não posso culpá-lo. Eu era uma mulher terrível para ele. Eu...
- Serena Sam morreu.
- Eu estava sempre gritando com ele. Não queria agir assim. Eu me lembro...
Ele a pegou pelos braços.
- Serena, Sam morreu.
- E uma vez, nós estávamos indo para a praia e...
Ele a estava sacudindo.
- Serena, me escute. Sam está morto.
-... E íamos fazer um piquenique.
Quando a fitou nos olhos, ele percebeu que ela o tinha ouvido.
- E aí nós estávamos na praia e chegou um homem e disse: "Passe o dinheiro". E Sam falou: "Mostre a sua arma primeiro".
O comissário Dowling ficou ali parado e deixou-a falar. Ela estava em estado de choque, negando o acontecido.
-... Esse era o Sam. Eu quero que você me fale dessa mulher com quem ele fugiu. É bonita? Sam vive me dizendo que eu sou bonita, mas sei que não sou. Ele diz isso para me lisonjear, porque me ama. Ele nunca vai me abandonar. Ele vai voltar. Você vai ver. Ele me ama. - Ela continuou falando.
O comissário Dowling foi até o telefone e discou um número.
- Mande uma enfermeira para cá. - Ele foi até a irmã e a abraçou. - Vai ficar tudo bem.
- Eu lhe contei sobre a vez em que eu e Sam...?
Quinze minutos depois, chegou a enfermeira.
- Cuide bem dela - disse o comissário Dowling.
Houve uma reunião no escritório do comissário Dowling.
- Ligação para você na linha um.
O comissário Dowling pegou o telefone.
- Alô?
- Comissário, aqui fala o agente especial Ramirez, da sede do FBI em Washington. Temos algumas informações para o senhor sobre a série de assassinatos. Não tínhamos impressões digitais de Ashley Paterson no arquivo porque ela não tinha antecedentes criminais, e antes de 1988, o departamento de trânsito não exigia a impressão do polegar no estado da Califórnia para conceder a carteira de motorista.
- Prossiga.
- No início, achamos que poderia ter havido uma falha do computador, mas fomos verificar e...
Durante os cinco minutos que se seguiram, o comissário Dowling ficou ali ouvindo, com uma expressão de incredulidade estampada no rosto. Quando enfim falou, ele disse:
- Você tem certeza de que não há erro algum nisso? Não parece... Todas elas...? Entendo... Muito obrigado!
Ele desligou e ficou sentado um longo instante. Enfim, se levantou.
- Era do laboratório do FBI em Washington. Eles terminaram de fazer a verificação cruzada das impressões digitais nos corpos das vítimas. Jean Claude Parent, em Quebeque, estava saindo com uma inglesa chamada Toni Prescott quando foi assassinado.
- Correto.
- Richard Melton, em São Francisco, estava saindo com uma italiana chamada Alette Peters quando foi assassinado.
Todos assentiram.
- E ontem à noite Sam Blake estava com Ashley Paterson.
- Certo.
O comissário Dowling respirou fundo.