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Anos antes, o Dr. Steven Paterson fora o pioneiro das cirurgias Cardíacas minimamente invasivas. Era sempre convidado a dar palestras nos principais hospitais do mundo inteiro. Ashley tinha doze anos quando a mãe morreu, de modo que ficou sem ninguém, além do pai.

- Desculpe o atraso, Ashley! - Ele se inclinou sobre ela e deu-lhe um beijo na bochecha.

- Tudo bem. Acabei de chegar

Ele se sentou.

- Você viu a Time?

- Vi. Shane me mostrou.

Ele franziu o cenho.

- Shane? Seu chefe?

- Ele não é meu chefe. Ele é... Ele é um dos supervisores.

- Nunca é bom misturar negócios com prazer, Ashley, você está saindo com ele fora do ambiente de trabalho, não está? Isso é um erro.

- Pai, nós somos só bons...

Um garçom se aproximou da mesa.

- Gostariam de ver o menu?

O Dr. Steven Paterson se virou para ele e rosnou:

- Não dá para ver que estamos no meio de uma conversa? Vá embora; e só volte quando for chamado.

- Des... Desculpe! - O garçom deu meia-volta e afastou-se ligeiro.

Ashley encolheu-se de constrangimento. Tinha se esquecido de quão feroz era o temperamento do pai. Ele uma vez, durante uma cirurgia, chegou a dar um soco num residente que cometeu um erro de julgamento. Ashley lembrava-se das discussões que o pai e a mãe travavam aos berros quando ela era pequena. Eles a deixavam aterrorizada com aquilo. Sempre brigavam pela mesma coisa; entretanto, por mais que se esforçasse, ela não conseguia se lembrar sobre o que discutiam. Bloqueara o fato na memória.

O pai continuou, como se não tivesse havido qualquer interrupção.

- Onde estávamos? Ah, sim! Sair com Shane Miller é um erro, um grande erro.

E suas palavras trouxeram à tona outra terrível lembrança.

Ela chegou a ouvir a voz do pai dizendo:

- Sair com Jim Cleary é um erro. Um grande erro...

Ashley mal tinha completado 18 anos e estava morando em Bedford, Pensilvânia, onde nasceu. Jim Cleary era o rapaz mais disputado da Escola Secundária da Região Administrativa de Bedford. Jogava no time de futebol americano, era bonitão, engraçado e tinha um sorriso arrasador. Ashley tinha a impressão de que todas as meninas do colégio queriam dormir com ele. E a maioria provavelmente dormiu, pensou na época, com desgosto.

Quando Jim Cleary começou a convidá-la para sair, ela estava determinada a não ir parar na cama com ele. Tinha certeza de que só estava interessado em sexo; no entanto, passado algum tempo, mudou de idéia. Gostava de estar com ele, que parecia apreciar genuinamente sua companhia.

Naquele inverno, a turma de formandos do segundo grau foi passar um fim de semana esquiando nas montanhas. Jim Cleary adorava esquiar.

- Vai ser muito legal - garantiu ele.

- Eu não vou.

Ele olhou espantado para ela.

- Por quê?

- Detesto o frio. Mesmo de luvas, meus dedos ficam enregelados.

- Mas vai ser legal a gente poder...

- Eu não vou.

E ele ficou em Bedford, para passar o fim de semana com ela.

Os dois compartilhavam os mesmos interesses, tinham as mesmas idéias e sempre se divertiam muito juntos.

Quando Jim Cleary lhe perguntou:

- Alguém quis saber hoje de manhã se você é minha namorada. O que devo responder?

Ashley sorriu e disse:

- Responda que sim.

O Dr. Paterson estava preocupado.

- Você anda saindo demais com esse tal de Cleary

- Pai, ele é um sujeito decente, e eu o amo.

- Como é que você pode amar esse sujeito? Ele não passa de um jogador de futebol americano. Eu não vou deixar você se casar com um jogadorzinho qualquer. Ele não serve para você, Ashley.

Ele havia dito a mesma coisa sobre todos os rapazes com quem ela saiu.

O pai continuou fazendo comentários desabonadores sobre Jim Cleary, mas a explosão se deu na noite da formatura. O rapaz a levaria ao baile. Quando chegou para apanhá-la, ela estava aos prantos.

- Mas o que é isso? O que aconteceu?

- Meu pai... Meu pai me disse que vai me levar para Londres. Ele me matriculou numa... Faculdade de lá.

Jim Cleary olhou para ela, atônito.

- Ele está fazendo isso por causa de nós dois, não é?

Ashley assentiu apenas com um gesto da cabeça, contrariadíssima.

- Quando você vai partir?

- Amanhã.

- Não! Ashley, pelo amor de Deus, não deixe que ele faça isso conosco. Sabe, eu quero me casar com você. O meu tio me ofereceu um emprego muito bom em Chicago, na agência de publicidade dele. Vamos fugir. A gente se encontra na estação ferroviária. Tem um comboio que sai para Chicago as sete da manhã. Você topa?

Ela olhou para ele por um longo momento e disse baixinho:

- Topo.

Repensando o assunto mais tarde, Ashley não conseguia se lembrar de como tinha visto o baile de formatura. Ela e Jim haviam passado a noite inteira discutindo animadamente os seus planos.

- Por que não vamos de avião para Chicago? - perguntou Ashley

- Porque teríamos de informar os nossos nomes à companhia aérea. Se formos de comboio, ninguém vai ficar sabendo para onde fomos.

Quando eles estavam saindo da festa, Jim Cleary perguntou baixinho:

- Você toparia dar uma parada lá na minha casa antes? Meus pais foram passar o fim de semana fora.

Ashley titubeou, dividida.

- Jim... A gente já esperou tanto tempo! Uns dias a mais não vai fazer diferença.

- Você tem razão. - Ele abriu um amplo sorriso. - Acho que vou ser o único homem neste continente a se casar com uma virgem.

Quando Jim Cleary levou Ashley para casa, depois da festa, o Dr. Paterson estava esperando, enfurecido.

- Vocês fazem alguma idéia da hora?

- Sr. Paterson desculpe! É que a festa...

- Não me venha com essas suas desculpas esfarrapadas, Cleary. A quem você acha que está enganando?

- Eu não estou...

- De agora em diante, mantenha as mãos longe da minha filha, entendeu bem?

- Pai...

- Você, fique fora disto. - Ele agora estava gritando. - Cleary, eu quero que você suma daqui e não me apareça mais.

- Mas, Sr. Paterson, sua filha e eu...

- Jim...

- Suba já para o seu quarto.

- Sr. Paterson...

- Se eu vir você por aqui outra vez, vou quebrar todos os ossos do seu corpo.

Ashley jamais o vira tão furioso. A noite acabou com todos aos berros. Depois de encerrado o assunto, Jim foi embora, e Ashley desatou a chorar.

Não vou deixar papai fazer isso comigo, pensou Ashley, determinada. Ele está tentando arruinar a minha vida. Ela ficou sentada na cama por um longo tempo. O meu futuro é com Jim. Eu quero ficar com ele. Isto aqui não é mais o meu lar. Levantou-se, então, e começou a arrumar uma maleta de viagem. Trinta minutos depois, saiu pela porta dos fundos e partiu em direção à casa de Jim Cleary, a dez quarteirões de distância. Vou passar a noite com ele e nós dois vamos pegar o comboio para Chicago de manhã. Mas, à medida que foi se aproximando, pensou: Não! Dessa forma está errado. Eu não quero estragar tudo. Vou encontrá-lo na estação.

Ela deu meia-volta e tomou o rumo de casa novamente.

Ashley passou o resto da noite acordada, pensando em sua vida com Jim, na maravilha que seria. As 5 e 30, pegou sua maleta e passou silenciosamente diante da porta do quarto do pai. Esgueirou-se para fora de casa e tomou um autocarro para a estação ferroviária. Ao chegar à estação, não encontrou Jim. Ela estava adiantada. O comboio só sairia dentro de mais uma hora. Ashley foi esperar sentada num banco, ansiosa. Pensou no pai acordando e notando que ela havia partido. Ficaria furioso. Mas não posso deixar que ele controle a minha vida. Um dia ele vai chegar a conhecer Jim mais de perto e vai ver a sorte que eu tenho.

6 e 30... 6 e 40... 6 e 45... 6 e 50... Nem sinal de Jim! Ashley estava começando a entrar em pânico. O que teria acontecido? Resolveu telefonar para ele. Ninguém atendeu. 6 e 55... Ele vai chegar a qualquer momento. Ela ouviu o apito do comboio à distância e olhou para o relógio. 6 e 59. O comboio estava entrando na estação. Ela se levantou e olhou ao redor freneticamente. Alguma coisa terrível aconteceu a ele. Sofreu um acidente. Está no hospital. Alguns minutos depois, Ashley estava plantada na plataforma, vendo o comboio partir para Chicago, levando com ele todos os seus sonhos. Esperou mais meia hora e tentou ligar de novo. Quando novamente ninguém atendeu ao seu telefonema, ela voltou para casa, vagarosamente, desolada.