- Ashley Paterson...
- E daí?
- Toni Prescott...
- Sim?
- Alette Peters...
- E então?
- Porra! São todas a mesma pessoa.
Livro Dois
Capítulo Onze
Robert Crowther, o corretor de imóveis da firma Bryant &Crowther, abriu a porta com um floreio e anunciou:
- Este é o terraço. Dá para ver a torre Coit daqui.
Ele observou o jovem casal caminhar até a balaustrada. A vista era magnífica, a cidade de São Francisco se expandia abaixo deles, formando um panorama espetacular. Robert Crowther viu o casal trocar um olhar e um sorriso furtivo e se divertiu com isso. Estavam tentando esconder a empolgação. O padrão era sempre iguaclass="underline" Compradores em potencial acreditavam que, se mostrassem muito entusiasmo, o preço poderia subir.
Por esta cobertura duplex, pensou Crowther com ironia, o preço já é suficientemente alto. Ele estava apreensivo quanto ao poder aquisitivo do casal. O homem era advogado, e jovens advogados não ganhavam tanto dinheiro assim.
Era um casal atraente, obviamente apaixonado. David Singer tinha pouco mais de trinta anos, era louro e parecia inteligente, com um cativante ar infantil. Sua mulher, Sandra, era muito bonita e carinhosa.
Robert Crowther percebeu a barriga saliente dela e disse:
- O segundo quarto seria perfeito para uma criança. Há uma pracinha a um quarteirão daqui, e duas escolas no bairro. - Não deixou de perceber os dois trocando aquele sorriso secreto novamente.
A cobertura duplex consistia numa suíte com banheiro e um segundo quarto no andar de cima. No primeiro andar, havia uma sala de estar bem ampla e outra de jantar, uma biblioteca, uma cozinha, um terceiro quarto e dois banheiros. Quase todos os cômodos tinham vista para a cidade.
Robert ficou observando o casal dar mais uma volta por todo o apartamento. Eles pararam a um canto e conversaram um pouco, aos sussurros.
- Eu adorei - disse Sandra a David. - E seria ótimo para o bebê. Mas, meu bem, será que nós vamos conseguir pagar? São seiscentos mil dólares.
- E mais as taxas - acrescentou David. - O lado ruim é que não podemos pagar hoje. O lado bom é que vamos ser capazes de pagá-lo na quinta-feira. O gênio vai sair de dentro da lâmpada mágica e nossa vida vai mudar.
- Eu sei - falou ela, alegre. - Que maravilha!
- E então, vamos comprar?
Sandra respirou fundo.
- Vamos, sim.
David abriu um sorriso, fez um amplo gesto com a mão e disse:
- Seja bem-vinda à sua casa, Sra. Singer.
De braços dados, eles foram até onde Robert Crowther os aguardava.
- Vamos ficar com este apartamento - falou David.
- Parabéns! É uma das melhores opções de moradia em São Francisco. Vocês vão ser muito felizes aqui.
- Com certeza.
- E tiveram sorte. Não posso deixar de dizer-lhes que temos algumas outras pessoas interessadas nesta cobertura.
- Qual é o valor da entrada?
- É um depósito de dez mil dólares agora, já é o bastante. Eu vou mandar preparar a papelada. Quando assinarem a proposta de compra e venda, serão mais sessenta mil dólares a pagar. O seu banco pode providenciar um plano de prestações mensais para quitação em vinte ou trinta anos.
David olhou para Sandra.
- Tudo bem.
- Vou mandar providenciar a papelada.
- Podemos dar mais uma olhadela no apartamento? - perguntou Sandra, ansiosa.
Crowther exibiu um sorriso benevolente.
- Pode olhar o tempo que quiser, Sra. Singer. Ele é seu.
- Parece um sonho maravilhoso, David. Nem consigo acreditar que esteja acontecendo de verdade.
- Pois está acontecendo. - David a abraçou. - Eu quero realizar todos os seus sonhos.
- Eu sei que quer, meu bem.
Eles moravam num pequeno apartamento de dois quartos, no bairro da Marina, mas com a chegada do bebê, ficaria pequeno demais. Até o momento, não teriam como pagar pelo duplex na colina Nob, mas quinta-feira seria o Dia do Sócio na Kincaid, Tumer, Rose &Ripley, firma internacional de advocacia onde David trabalhava. Dentre os 25 possíveis candidatos, seis seriam escolhidos para compartilhar o ar rarefeito da sociedade na firma, e todos concordavam que David seria um dos escolhidos. Kincaid, Turner, Rose &Ripley, com escritórios em São Francisco, Nova York, Londres, Paris e Tóquio, era uma das firmas de advocacia de maior prestigio no mundo, e costumava ser o alvo número um dos formandos das melhores faculdades de direito. A firma empregava a abordagem da varinha com a cenoura pendurada na ponta para os recém-chegados. Os sócios aproveitavam-se deles ao máximo, comprazendo-se com as extenuantes jornadas de trabalho dos iniciantes, e jogavam-lhes sobre os ombros, como se fossem burros de carga, as tarefas mais árduas, com as quais eles próprios já não queriam mais se aborrecer. A pressão era grande, trabalho para vinte e quatro horas por dia. Isto era a varinha. Os que ficavam, agüentavam de tudo por causa da cenoura. A cenoura era a promessa de uma cota de participação societária na firma. Tornar-se sócio significava um salário mais alto, uma fatia da grande torta dos enormes lucros da empresa, um escritório bem amplo com banheiro privativo e vista, viagens de negócios ao estrangeiro e inúmeras outras mordomias. David havia praticado o direito comercial na Kincaid, Turner, Rose &Ripley por seis anos, e isto lhe trouxera benefícios mistos. As jornadas de trabalho eram hediondas; e o estresse, enorme, mas David, determinado a ficar até conseguir a sua cota na sociedade, permanecera junto à empresa, sempre com um desempenho primoroso. Agora, afinal, era chegado o dia.
Depois de se despedirem do corretor de imóveis, David e Sandra foram fazer compras. Compraram um berço, uma cadeira de bebê, um carrinho de bebê, um cercado e roupinhas.
- Vamos comprar alguns brinquedos para ele - falou David.
- Ainda há muito tempo para isso - riu Sandra.
Depois das compras eles passearam a pé pela cidade, ao longo do litoral na Ghirli Square, passando pelo Cannery e chegando ao Fisherman's Wharú. Almoçaram no American Bistrô.
Era sábado, um dia perfeito em São Francisco para pastas de couro e belas gravatas de grife, ternos escuros e camisas discretas, embora também de grife; um dia para grandes almoços, e coberturas. Dia de advogado!
David e Sandra haviam se conhecido três anos antes, em um jantar na casa de amigos. David fora acompanhado da filha de um cliente da firma. Sandra era auxiliar de justiça de uma firma concorrente. Durante o jantar, David e Sandra travaram uma discussão acerca da sentença de um caso político em Washington.
À medida que as demais pessoas sentadas à mesa assistiam, a discussão entre os dois ficou cada vez mais acirrada. E, no auge da discussão, David e Sandra se deram conta de que nenhum dos dois se importava com a decisão judicial. Estavam se exibindo um para o outro, engajados numa dança de acasalamento verbal.
David telefonou para Sandra no dia seguinte.
- Eu gostaria de concluir a discussão acerca daquela sentença - falou David. - Acho que é importante.
- Eu também - concordou Sandra.
- Será que nós poderíamos conversar sobre isso jantando juntos hoje à noite?
Sandra hesitou. Tinha compromisso para o jantar.
- Está bem - disse, enfim. - Hoje à noite, então.
Ficaram juntos desde aquela noite. Exatamente um ano depois, casaram-se.
Joseph Kincaid, o sócio majoritário, concedeu o fim de semana a David.
O salário de David na Kincaid, Turner, Rose &Ripley era de quarenta e cinco mil dólares anuais. Sandra manteve o seu emprego de auxiliar de justiça. Mas agora, com a chegada do bebê, suas despesas iriam aumentar.
- Terei de abandonar o meu emprego dentro de alguns meses - falou Sandra. - Não quero uma babá criando nosso filho, meu bem. Quero estar aqui com ele. - De acordo com a ultra-sonografia, seria um menino.
- Nós vamos dar conta - assegurou-lhe David. A participação dele na sociedade do escritório ia transformar a vida deles.