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David levantou o rosto, surpreso.

- O Dr. Paterson está aqui?

- Está.

David se levantou.

- Mande-o entrar

Steven Paterson entrou, e David tentou ocultar sua reação.

O médico estava envelhecido, com ar cansado.

- Olá, David!

- Dr. Paterson. Por favor, queira sentar-se. - David ficou observando, enquanto ele pegava lentamente uma cadeira. - Eu vi o noticiário hoje de manhã. Não... Não sei como lhe dizer o quanto fiquei sentido.

O Dr. Paterson fez um gesto cansado de reconhecimento.

- Pois foi um impacto muito grande! - Ele ergueu a cabeça. - Eu preciso da sua ajuda, David.

- Claro - falou David, com disposição. - O que eu puder fazer. Qualquer coisa.

- Eu quero que você represente Ashley

Foi necessário um momento para que as palavras assentassem.

- Eu não posso fazer isso. Não sou advogado criminalista, não posso fazer a defesa.

O Dr. Paterson fitou-o bem nos olhos e disse:

- Ashley não é criminosa.

- Eu... O senhor não está entendendo, Dr. Paterson. Eu atuo na área comercial. Posso recomendar um excelente...

- Já recebi telefonemas de meia dúzia dos melhores advogados criminalistas. Todos querem representá-la. - Ele se inclinou para frente na cadeira. - Mas nenhum está interessado na minha filha. Trata-se de um caso badalado; e o que eles querem, David, é só se autopromover. Eles não ligam a mínima para ela. Eu ligo. Ela é tudo que eu tenho.

"Quero que o senhor salve a vida da minha mãe. Ela é tudo que eu tenho". David falou:

- Eu gostaria muito de poder ajudá-lo, mas...

- Quando saiu da faculdade, você foi trabalhar numa firma de direito penal.

O coração de David começou a bater mais rápido.

- É verdade, mas...

- Foi advogado criminalista de defesa durante vários anos.

David assentiu.

- Fui, sim, mas eu... Eu saí dessa área. Isso foi há muito tempo e...

- Não foi há tanto tempo assim, David. E você me disse o quanto gostou de trabalhar com isso. Por que parou e foi trabalhar com direito comercial?

David ficou sentado, em silêncio, por instantes.

- Não é importante.

O Dr. Paterson pegou uma carta manuscrita e a entregou a David. O advogado conhecia o conteúdo da carta, sem precisar ler.

Querido Dr. Paterson,

Não há palavras para expressar o quanto lhe devo e sou grato por sua enorme generosidade. Se algum dia houver alguma coisa que eu possa fazer pelo senhor, peça-me, e eu farei sem questionar.

David ficou de olhos pregados na carta, sem vê-la.

- David, fale com Ashley.

David assentiu.

- Claro que sim. Vou falar com ela, mas eu...

O Dr. Paterson se levantou.

- Obrigado!

David ficou olhando, enquanto ele caminhava porta afora.

- Por que parou e foi trabalhar com o direito comercial?

- Porque eu cometi um erro, e uma mulher inocente, a quem eu amava, está morta. Eu jurei que jamais tomaria a vida de alguém nas mãos outra vez. Nunca. Não posso defender Ashley Paterson.

David apertou o botão do intercomunicador.

- Holly, por favor, poderia perguntar ao Sr. Kincaid se ele pode me receber agora?

- Pois não, senhor.

Trinta minutos depois, David estava entrando no sofisticado escritório de Joseph Kincaid. O sócio majoritário da firma tinha pouco mais de sessenta anos e era um homem monocromáticamente cinzento, em termos físicos, mentais e emocionais.

- Ora - disse ele, assim que David passou pela porta -, você é um jovem ansioso, não é mesmo? A nossa reunião estava marcada somente para as cinco da tarde.

David se aproximou da mesa.

- Eu sei. Vim aqui para discutir outra coisa, Joseph.

Anos antes, David cometera o erro de chamá-lo de Joe e o velho tivera um acesso. Nunca me chame de Joe.

- Sente-se, David.

David se sentou.

- Quer um charuto? Estes são cubanos.

- Não, obrigado!

- O que você quer discutir?

- O Dr. Steven Paterson acaba de sair da minha sala.

- Ele estava no noticiário de hoje cedo - comentou Kincaid. - Que momento difícil ele está passando! O que ele queria com você?

- Pediu-me para defender a filha.

Kincaid olhou para David, surpreso.

- Você não é advogado criminalista de defesa.

- Eu disse isso a ele.

- Ora, e então? - Kincaid ficou pensativo um momento.

- Sabe, eu gostaria de ter o Dr. Paterson como cliente. Ele é um homem de muita influência. Poderia trazer muitos negócios para esta firma. Tem conexões com várias organizações médicas que...

- Há mais do que isso.

Kincaid olhou para David, intrigado.

- Ahn?

- Eu prometi que falaria com a filha dele.

- Entendo. Ora, acho que não há mal algum nisso. Converse com ela, e depois encontre um bom advogado de defesa para representá-la.

- É isso que eu tenho em mente.

- Que bom! Estaremos ganhando alguns pontos junto a ele. Prossiga, então. - Ele sorriu. -Tornarei a vê-lo as cinco da tarde.

- Perfeitamente. Obrigado Joseph!

Enquanto caminhava de volta à sua sala, David foi pensando consigo mesmo: Por que razão deste mundo o Dr. Paterson iria insistir para que eu defendesse sua filha?

Capítulo Doze

Na prisão de Santa Clara, Ashley Paterson estava sentada em sua cela, traumatizada demais para tentar dar um sentido ao que lhe estava acontecendo. Parecia bastante satisfeita por estar na cadeia, pois as grades manteriam afastado quem quer que estivesse fazendo isso com ela. Deixou-se envolver pela cela como se esta fosse um cobertor, tentando afugentar as coisas horríveis e inexplicáveis que lhe estavam acontecendo. Toda a sua vida se tornara um pesadelo hediondo. Ashley pensou em todos os fatos misteriosos que vinham ocorrendo: alguém entrando em seu apartamento para assustá-la... A viagem para Chicago... O bilhete no espelho... E agora a polícia acusando-a de atrocidades das quais nada sabia.

Havia alguma conspiração terrível contra ela, mas Ashley não fazia idéia de quem poderia estar por trás disso tudo, nem por quê.

De manhã bem cedo, um dos guardas viera até a cela de Ashley.

- Visita.

O guarda conduzira-a para a sala de visitas, onde o pai esperava por ela.

Ele estava parado, olhando-a fixamente, com os olhos pesarosos.

- Querida... Eu não sei o que dizer

- Eu não fiz nenhuma dessas coisas horrorosas que eles estão dizendo - sussurrou Ashley

- Eu sei que você não fez nada. Alguém cometeu um engano terrível, mas nós vamos endireitar tudo.

Ashley olhou para o pai e perguntou a si mesma como pudera ter achado que era ele o culpado.

-... Não se preocupe - disse ele. - Tudo vai acabar bem. Estou providenciando um advogado para você. David Singer. É um dos jovens mais brilhantes que conheço. Ele virá conversar com você. Eu quero que você lhe conte tudo.

Ashley olhou para o pai e disse, desesperançosa:

- Papai, eu... Eu não sei o que contar a ele. Não sei o que está acontecendo.

- Vamos chegar ao fundo disso tudo, minha filha. Eu não vou deixar ninguém magoá-la. Ninguém! Jamais! Você é muito importante para mim. É tudo o que eu tenho, minha querida.

- E você é tudo que eu tenho - sussurrou Ashley

O pai de Ashley permaneceu ali mais uma hora. Quando ele saiu, o mundo de Ashley se reduziu à pequena cela em que estava confinada. Ela se deitou em seu catre, forçando-se a não pensar em nada. Tudo há de acabar logo, e eu vou descobrir que isto é apenas um sonho... Apenas um sonho... Apenas um sonho... Ela adormeceu.

A voz de um guarda despertou-a.

- Visita para você.

Ela foi levada à sala de visitas, e Shane Miller estava lá, esperando.

Ele se levantou quando Ashley entrou.

- Ashley...

O coração dela começou a palpitar