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- A escola parece óptima. Fica a dois quarteirões de casa, e não é muito grande. Acho que isso é importante.

David estava prestando atenção a ela agora e pensou: Não posso decepcioná-la. Não posso privá-la de seus sonhos. Vou dizer a Kincaid amanhã de manhã que não vou ficar com o caso. Paterson que ache outra pessoa!

- É melhor nos aprontarmos, meu amor. Combinamos chegar na casa dos Quiller às oito horas.

Era o momento da verdade. David sentiu-se tenso.

- Há uma coisa que precisamos conversar.

- Fale.

- Eu fui ver Ashley Paterson hoje de manhã.

- Ah, me conte. Ela é culpada? Foi ela quem fez aquelas atrocidades?

- Sim e não.

- Resposta de advogado. O que isso quer dizer?

- Ela cometeu os assassinatos... mas não é culpada.

- David...!

- Ashley tem um problema psiquiátrico chamado distúrbio de personalidade múltipla. Sua personalidade é dividida, de forma que ela faz coisas sem estar consciente disso.

Sandra estava de olhos pregados nele.

- Que horror!

- Há duas outras personalidades. Eu as conheci.

- Você as conheceu?

- Conheci. E são verdadeiras. Quero dizer, ela não está fingindo.

- E ela não tem a menor idéia de que...?

- Nenhuma.

- Então, ela é inocente ou culpada?

- Isso quem decide é o tribunal. O pai dela não quer conversar com Jesse Quiller, de forma que eu vou ter de encontrar outro advogado.

- Mas Jesse é perfeito. Por que o Dr. Paterson não quer falar com ele?

David hesitou.

- Ele quer que eu a defenda.

- Mas você contou para ele que não pode, claro.

- Claro.

- Então...?

- Ele não quis me ouvir.

- O que ele disse, David?

Ele balançou a cabeça.

- Não importa.

- O que ele disse?

David respondeu devagar:

- Disse que eu confiei nele a ponto de colocar a vida da minha mãe nas suas mãos, e ele a salvou, e agora ele está confiando em mim a ponto de colocar a vida da filha nas minhas mãos, e está me pedindo que a salve.

Sandra estava analisando o rosto de David.

- Você acha que conseguiria?

- Não sei. Kincaid não quer que eu pegue o caso. Se eu pegar, posso perder a participação na sociedade.

- Oh!

Houve um silêncio prolongado. Quando enfim falou, David disse:

- Eu tenho uma opção. Posso dizer não para o Dr. Paterson e me tornar sócio da firma, ou posso defender a filha dele, provavelmente tirando uma licença sem vencimentos, e ver depois o que acontece.

Sandra escutou tranquilamente.

- Há gente muito mais qualificada para pegar o caso de Ashley, mas por alguma razão dos infernos o pai dela não quer saber de mais ninguém. Eu não sei por que ele está tão obstinado com isso, mas o facto é que está irredutível. Se eu pegar o caso e não me tornar sócio da firma, vamos ter de abdicar da mudança. E também de abrir mão de muitos dos nossos planos, Sandra.

Sandra falou baixinho:

- Eu me lembro que, antes de nos casarmos, você me falou dele. Era um dos médicos mais ocupados do mundo, mas encontrou tempo para ouvir o que um rapaz sem dinheiro algum no bolso tinha a lhe dizer. Ele foi o seu herói, David. Você disse que, se algum dia nós tivéssemos um filho, iria querer que ele fosse igual a Steven Paterson quando crescesse.

David assentiu.

- Quando você tem de decidir?

- Vou estar com Kincaid na primeira hora da manhã.

Sandra pegou-lhe a mão e disse:

- Você não precisa de todo esse tempo. O doutor Paterson salvou a sua mãe. Você vai salvar a filha dele. - Ela olhou para o ambiente em volta deles e sorriu. - Ora, a gente pode redecorar este apartamento em azul e branco.

Jesse Quiller era um dos melhores advogados de defesa criminal no país. Era um homem alto, robusto, com um jeito simples que fazia os jurados se identificarem com ele. Eles sentiam que ele era um igual e queriam ajudá-lo. Essa era uma das razões pelas quais ele raramente perdia um caso. As outras razões eram sua excelente memória fotográfica e sua mente brilhante. Em vez de tirar férias, Quiller aproveitava os verões para dar cursos de direito, e, anos antes, David fora um de seus alunos. Quando David se formou, Quiller o convidou para trabalhar na sua firma de advocacia, e dois anos depois David se tornou seu sócio. David adorava a prática do direito penal e se sobressaía nisso. Nunca deixou de manter dez por cento de casos dativos. Três anos depois da participação na sociedade, David se desligou abruptamente da firma e foi trabalhar para a Kincaid, Tumer, Rose &Ripley na área do direito comercial. Ao longo dos anos, David e Quiller continuaram muito amigos. Eles, e suas esposas, jantavam juntos uma vez por semana. Jesse Quiller sempre apreciou as louras sofisticadas, tipo ninfetas altas. Até que conheceu Emily e se apaixonou por ela. Emily era uma mulher baixinha e rechonchuda, envelhecida precocemente pelo trabalho numa fazenda do estado de Iowa exatamente o oposto das mulheres com quem Quiller tinha namorado até então. Era do estilo mãe, sempre cuidando de tudo e de todos. Os dois formavam um casal improvável, mas o casamento funcionava porque eles eram perdidamente apaixonados um pelo outro.

Todas as terças-feiras, os Singer e os Quiller jantavam juntos e jogavam um complicado jogo de cartas chamado Liverpool.

Quando Sandra e David chegaram à bela casa dos Quiller, na Hayes Street, Jesse foi recebê-los à porta.

Ele abraçou Sandra e falou:

- Entrem. O champanhe está no gelo. É um grande dia para você, hein? Cobertura nova e participação na sociedade. Ou será participação na sociedade e cobertura nova?

David e Sandra se entreolharam.

- Emily está na cozinha, preparando o jantar para comemorar sua promoção. - Ele olhou para os rostos dos dois. - Eu acho que é um jantar de comemoração. Será que eu não estou sabendo de alguma coisa?

- Não, Jesse - disse David. - Só que talvez tenhamos um... Um probleminha.

- Vamos entrar. Posso preparar um drinque? - Ele olhou para Sandra.

- Não, obrigada! Não quero que o bebé adquira maus hábitos.

- É um bebé de sorte, com pais como vocês - falou Quiller, carinhosamente. Ele se virou para David: - E você, vai beber o quê?

- Nada. Obrigado!

Sandra encaminhou-se para a cozinha.

- Vou ver se Emily está precisando de ajuda.

- Sente-se, David. Você está com um ar sério.

- Estou num dilema - admitiu ele.

- Deixe-me adivinhar. A cobertura ou a sociedade?

- Ambas.

- Ambas?

- Você está sabendo do caso Paterson?

- Ashley Paterson? Claro. O que isso tem a ver com...? - Ele parou. - Espere aí. Você me falou de Steven Paterson, na faculdade de direito. Ele salvou a vida de sua mãe.

- Exato. Ele quer que eu defenda a filha dele. Tentei passar o caso para você, mas ele não quer saber de ninguém defendendo a filha, exceto eu.

Quiller franziu o cenho.

- Ele está sabendo que você não atua mais no direito penal?

- Está. É isso que eu não entendo. Há dúzias de advogados muito mais capazes do que eu para pegar o caso.

- Ele está sabendo que você foi advogado criminalista de defesa?

- Está.

- O que ele sente com relação à filha? - falou Quiller, com certo cuidado.

Que pergunta estranha, pensou David.

- Ela significa mais do que tudo na vida dele.

- Pois bem. Suponhamos que você pegue o caso. O lado ruim é que...

- O lado ruim é que Kincaid não quer que eu o pegue. Se eu resolver ficar com o caso, tenho a impressão de que vou perder a participação na sociedade.

- Entendi. E é aí que entra a cobertura?

- É aí que entra toda a porcaria do meu futuro - retrucou David, zangado. - Seria uma grande besteira eu fazer isso, Jesse. - Sabe, uma besteira e tanto!

- Por que você está zangado?

David respirou fundo.

- Porque eu vou fazer essa besteira.