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- O que foi, Harvey?

- Eu recebi um telefonema de David Singer, Sr. Kincaid. Ele comprou uma cobertura e precisa dos sessenta mil dólares que tem no plano de previdência para dar a entrada. Na minha opinião, não somos obrigados a entregar-lhe o dinheiro agora. Ele está de licença e não...

- Eu me pergunto se ele sabe o quanto custa manter uma cobertura.

- Provavelmente, não sabe. Eu vou dizer que ele não...

- Dê-lhe o dinheiro.

Harvey olhou para ele, surpreso.

- Mas nós não temos de...

Kincaid se inclinou para a frente da cadeira.

- Vamos ajudá-lo a cavar um buraco para si mesmo, Harvey. Assim que der a entrada pela cobertura... ele será nosso.

Harvey Udell telefonou para David.

- Tenho boas notícias, David. Você está retirando o dinheiro que tem no plano de previdência antes do tempo, mas não tem problema. O Sr. Kincaid mandou dar o que você quiser.

- Sr. Crowther! David Singer.

- Eu estava aguardando notícias suas, Sr. Singer.

- A entrada para a cobertura está a caminho. Chegará às suas mãos amanhã.

- Ora, que maravilha! Conforme eu lhe disse, temos mais gente querendo ficar com ela, mas estou com a impressão de que o senhor e sua esposa são os moradores certos. Vocês serão muito felizes lá.

Só que, pensou David, vai ser preciso uma boa meia dúzia de milagres.

O depoimento de Ashley Paterson foi prestado no Tribunal Superior de Santa Clara, na rua um Norte, em San José. A disputa legal sobre a jurisdição estendeu-se por semanas. Foi complicada porque os assassinatos haviam ocorrido em dois países e dois estados diferentes. Uma reunião estava se realizando em São Francisco, com a presença do delegado Guy Fontaine, do Departamento de Polícia de Quebeque, o comissário Dowling, de Santa Clara, o detetive Eagan, de Bedford, Pensilvania, o capitão Rudford, do Departamento de Polícia de São Francisco, e Roger Toland, o comissário de San José.

- Nós gostaríamos de julgá-la em Quebeque, pois temos provas irrefutáveis de sua culpa. Não há como ela possa ser considerada inocente lá - falou o detetive Fontaine.

- Quanto a isso, nós também temos, detetive Fontaine. O assassinato de Jim Cleary foi o primeiro que ela cometeu, e eu acho que deve ter prioridade sobre os demais - disse o detetive Eagan.

O capitão Rudford, da polícia de São Francisco, falou:

- Senhores, não há dúvida de que todos somos capazes de provar a culpa da acusada. Mas três desses assassinatos ocorreram na Califórnia, e ela deve ser julgada aqui por todos eles. Isto nos dá uma argumentação muito mais forte.

- Eu concordo - disse o comissário Dowling. - E dois deles ocorreram em Santa Clara, então é esta a jurisdição que deve prevalecer.

Eles passaram as duas horas seguintes debatendo os méritos de suas posições e, afinal, decidiram que o julgamento pelos assassinatos de Dennis Tibble, de Richard Melton e do delegado Sam Blake seriam conduzidos na sede do Ministério Público de San José. Eles concordaram que os assassinatos de Bedford e Quebeque ficariam para mais tarde.

No dia do depoimento, David ficou de pé ao lado de Ashley

- A alegação é de culpa ou de inocência? - perguntou o juiz da comarca.

- De inocência; e inocência por insanidade.

O juiz assentiu.

- Pois bem.

- Meritíssimo, vamos fazer neste instante um pedido de fiança.

O representante da promotoria pública interrompeu.

- Meritíssimo, apresentamos objeção veemente. A ré é acusada de três assassinatos hediondos e está sujeita à pena de morte. Se tivesse nas mãos a oportunidade, ela fugiria do país.

- Isto não é verdade - falou David. - Não há...

O juiz interrompeu-o.

- Já analisei os arquivos e o parecer da promotoria negando fiança. Fiança negada. Este caso está nas mãos da juíza Williams para todos os efeitos. A ré será mantida em custódia na prisão de Santa Clara até o julgamento.

David soltou um suspiro.

- Perfeitamente, meritíssimo! - Ele se virou para Ashley

- Não se preocupe. Tudo vai acabar bem. Lembre-se: você não é culpada.

Quando David voltou para o escritório, Sandra falou:

- Viu as manchetes? Os tablóides estão chamando Ashley de "Meretriz Sanguinária". A história está em todos os canais de televisão.

- Nós sabíamos que seria uma batalha difícil - falou David. - E isto é só o começo. Vamos ao trabalho.

O julgamento ocorreria em oito semanas.

As oito semanas que se seguiram foram de uma atividade febril. David e Sandra trabalhavam o dia inteiro e costumavam entrar noite a dentro, desencavando transcrições de julgamentos de réus com distúrbio de personalidade múltipla. Havia dúzias de casos.

Réus julgados como assassinos, estupradores, ladrões, traficantes de drogas, incendiários... Alguns haviam sido condenados; outros, absolvidos.

- Vamos conseguir absolver Ashley - falou David para Sandra.

Sandra cadastrou os nomes de testemunhas importantes e telefonou para todas.

- Dr. Nakamoto estou trabalhando com David Singer. Fui informada de que o senhor prestou depoimento no caso. O Estado de Oregon contra Bobannan. O Sr. Singer está representando Ashley Paterson... Ah, o senhor sabia? Pois não. Nós gostaríamos que o senhor viesse a San José para prestar depoimento em favor dela...

- Dr. Booth estou ligando da parte do escritório de David Singer. Ele está defendendo Ashley Paterson. O senhor prestou depoimento no caso Dickerson. Nós estaríamos interessados no seu depoimento como especialista... Gostaríamos que o senhor viesse a San José para depor em favor da Senhorita Paterson. Precisamos do seu parecer técnico...

- Dr. Jameson, quem está falando aqui é Sandra Singer. Nós precisamos que o senhor venha...

E assim foi, desde de manhã cedo até à meia-noite. Afinal, eles cadastraram doze testemunhas. David olhou para a lista e falou:

- Impressionante! Médicos, um decano... E alguns catedráticos de faculdades de direito. - Ele ergueu os olhos para Sandra e sorriu. - Acho que estamos indo bem.

De tempos em tempos, Jesse Quiller entrava no escritório que David estava usando.

- Como estão indo as coisas? - perguntou ele. - Posso ajudar em algo?

- Por ora, tudo bem. Obrigado!

Quiller olhou em torno da sala.

- Você tem aí tudo de que precisa?

David sorriu.

- Tudo, inclusive o meu melhor amigo.

Na manhã de segunda-feira, David recebeu um pacote da promotoria pública listando os procedimentos probatórios do estado. À medida que começou a ler, ele se sentiu desanimado.

Sandra o estava observando, apreensiva.

- O que foi?

- Veja só isto. Estão trazendo um monte de peritos médicos de peso para testemunhar contra o DPM.

- Como você pretende lidar com isso? -perguntou Sandra.

- Vamos admitir que Ashley estava nas cenas dos crimes, mas que os assassinatos na verdade foram cometidos por um alter ego. Será que eu consigo convencer um júri disso?

Cinco dias antes do julgamento começar, David recebeu um telefonema dizendo que a juíza Williams queria vê-lo.

David entrou no escritório de Jesse Quiller.

- Jesse, o que você pode me dizer sobre a juíza Williams?

Jesse se recostou em sua cadeira e entrelaçou os dedos atrás da nuca.

- Tessa Williams... Você foi escoteiro, David?

- Fui...

- Você se lembra do lema do escoteiro... "sempre alerta"?

- Claro.

- Toda vez que entrar na vara de justiça da juíza Tessa Williams, fique alerta. Ela é brilhante. Subiu da maneira mais difícil. Vem de uma família de meeiros da região do Mississipi. Fez o curso técnico com o auxílio de uma bolsa de estudos, e seus conterrâneos têm tanto orgulho dela que se cotizaram para pagar-lhe a faculdade de direito. Corre o boato de que ela rejeitou uma posição importante em Washington porque gosta de trabalhar onde está. A mulher é uma lenda viva.