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- Interessante - falou David.

- O julgamento vai ser em Santa Clara?

- Vai, sim.

- Então você vai ter como promotor o meu velho amigo Mickey Brennan.

- Pode me dizer alguma coisa sobre ele?

- É um irlandês brigão, duro por dentro, duro por fora. Todos na família de Brennan são bem-sucedidos. O pai dele tem uma grande editora; a mãe é médica; e a irmã é professora universitária. Brennan foi um famoso jogador de futebol americano na época da faculdade e se formou como um dos melhores da turma. - Ele se inclinou para a frente. - O sujeito é bom, David. Cuidado! O truque dele é desarmar as testemunhas e depois dar o bote mortal. Ele gosta de pegar as pessoas desprevenidas... Por que a juíza Williams quer conversar com você?

- Não faço idéia. O recado que recebi só dizia que ela queria discutir o caso Paterson comigo.

Jesse Quiller franziu o cenho.

- Isso não é comum. Para quando está marcado o encontro com ela?

- Quarta-feira de manhã.

- Fique com um pé atrás.

- Obrigado, Jesse! Vou ficar.

A sede do Ministério Público de Santa Clara é um prédio branco de quatro andares na rua um norte. Na entrada do fórum há uma mesa com um guarda uniformizado, um detector de metais, uma grade ao lado e um elevador. O edifício aloja sete varas de justiça, cada uma presidida por um juiz e sua equipe. As dez da manhã de quarta-feira, David Singer foi recebido no gabinete da juíza Tessa Williams. No recinto, encontrava-se também Mickey Brennan. O chefe da promotoria pública era um homem dos seus cinquenta e poucos anos, baixo e parrudo, com um leve sotaque irlandês. Tessa Williams ainda não havia chegado aos cinquenta e se mantinha esbelta, uma bela afro-americana de comportamento ríspido e autoritário.

- Bom dia, Sr. Singer! Eu sou a juíza Williams. Este é o Sr. Brennan.

Os dois homens apertaram-se as mãos.

- Sente-se, Sr. Singer. Quero conversar sobre o caso Paterson. Segundo nos consta, o senhor apresentou alegação de inocência, e inocência por insanidade?

- Correcto, meritíssima.

Ajuíza Williams disse:

- Reuni vocês dois aqui porque acho que podemos economizar muito tempo e poupar ao estado muitas despesas. Normalmente não sou a favor de entrar num acordo de alegações, mas, neste caso, acho que se justifica.

David estava escutando, intrigado.

A juíza se dirigiu a Brennan.

- Li as transcrições da audiência preliminar e não vejo razão para que este caso vá a julgamento. Eu gostaria que o estado abrisse mão da pena de morte e aceitasse uma alegação de culpa sem a chance de uma condicional.

- Espere um minuto - falou David. - Isto está fora de cogitação!

Os dois se viraram para ele.

- Sr. Singer...

- Minha cliente não é culpada. Ashley Paterson passou por um exame no detector de mentiras que prova...

- Isso não prova nada e, conforme o senhor bem sabe, não é permitido num tribunal. Devido a toda a publicidade, este julgamento será demorado e confuso.

- Eu tenho certeza de que...

- Eu pratico o direito há muito tempo, Sr. Singer. Já ouvi tudo o que há para ouvir acerca de alegações judiciais. Já ouvi alegações de autodefesa... é uma alegação aceitável; assassinato por razão de insanidade temporária... é uma alegação razoável; responsabilidade penal diminuída por doença mental... Mas vou lhe dizer no que eu não acredito, doutor "Não sou culpada porque não cometi o crime, foi meu alter ego quem o cometeu". Para usar um termo que não consta no Blackstone, isso é uma "baboseira". Ou sua cliente cometeu os crimes, ou não os cometeu. Se o senhor mudar para uma alegação de culpa, nós poderemos economizar muito...

- Não, meritíssima, eu não vou mudar.

A juíza Williams analisou David por um instante.

- O senhor é muito teimoso. Há quem ache isso uma qualidade admirável. - Ela se inclinou para a frente em sua cadeira.

- Eu, não.

- Meritíssima...

- O senhor está nos forçando a um julgamento que vai durar pelo menos três meses... talvez mais.

Brennan assentiu.

- Concordo.

- Sinto muito que estejam achando...

- Sr. Singer, estou aqui para lhe fazer um favor. Se levarmos sua cliente a julgamento, ela vai morrer.

- Um momento! Sua Excelência está pré-julgando este caso sem...

- Pré-julgando o caso? O senhor viu as provas?

- Vi, sim...

- Pelo amor de Deus, doutor! O DNA e as impressões digitais de Ashley Paterson estão em todas as cenas dos crimes. Nunca vi um caso tão bem definido de culpa. Se o senhor insistir em levar isso adiante, poderá acabar virando um circo. Ora, não vou deixar que isso aconteça. Não gosto de circos no meu tribunal. Vamos resolver este caso aqui e agora. Vou lhe perguntar mais uma vez... o senhor aceita mudar a alegação de sua cliente e ficar com uma prisão perpétua sem direito à condicional?

- Não - respondeu David obstinadamente.

Ela o fitou com tenacidade.

- Perfeitamente! Vejo o senhor na semana que vem.

Ele tinha acabado de fazer uma inimizade.

Capítulo Quinze

San José logo assumiu ares de uma cidade em festa. Aportaram representantes da mídia do mundo inteiro. Todos os hotéis estavam com as reservas esgotadas, e alguns dos jornalistas se viram forçados a se hospedar nas cidades vizinhas de Santa Clara, Sunnyvale e Palo Alto. David foi cercado por repórteres.

- Sr. Singer, a respeito do seu caso, o senhor está alegando a inocência de sua cliente...?

- O senhor vai levar Ashley Paterson ao banco...?

- É verdade que o Ministério Público andou lhe propondo um acordo de alegações?

- O Dr. Paterson vai testemunhar em favor da filha...?

- Minha revista está disposta a pagar cinquenta mil dólares por uma entrevista com a sua cliente...

Mickey Brennan também estava sendo pressionado pela mídia.

- Sr. Brennan, o senhor faria alguns comentários sobre o julgamento?

Brennan se virou e sorriu para as câmaras de televisão.

- Claro, eu posso resumir o julgamento em três palavras. "Nós vamos ganhar". Sem mais comentários!

- Espere. O senhor acha que ela é doente mental...?

- O estado vai pedir a pena de morte...?

- O senhor chamaria este caso de irrefutável...?

David alugou um escritório em San José, perto do tribunal, onde poderia entrevistar suas testemunhas e prepará-las para o julgamento. Resolveu que Sandra ficaria baseada no escritório de Quiller, em São Francisco, até o início do julgamento. O Dr. Salem tinha chegado a San José.

- Eu gostaria que o senhor tornasse a hipnotizar Ashley - falou David. - Vamos obter todas as informações possíveis dela e dos alteres antes que comece o julgamento.

Eles se reuniram com Ashley numa sala da carceragem no centro de detenção da cidade. Ela estava fazendo um grande esforço para ocultar o nervosismo. Aos olhos de David, ela mais parecia um cervo aprisionado pelos faróis de uma motoniveladora se deslocando em sua direcção.

- Bom dia, Ashley! Está lembrada do Dr. Salem?

Ashley assentiu.

- Ele vai hipnotizá-la outra vez. Tudo bem?

- Ele vai conversar com as... as outras? - perguntou Ashley

- Vai, sim. Você se importa?

- Não. Mas eu... eu não quero falar com elas.

- Não tem problema. Não precisa.

- Ai, que ódio! - Ashley teve um rompante de raiva.

- Eu entendo - falou David, tentando confortá-la. - Não se preocupe. Logo vai acabar. - Ele assentiu para o Dr. Salem.

- Fique à vontade, Ashley. Você se lembra de que foi fácil da outra vez. Basta fechar os olhos e relaxar. Tente esvaziar a mente. Sinta o seu corpo relaxando. Ouça o som da minha voz. Deixe que tudo o mais se vá. Você está ficando com muito sono. Seus olhos estão ficando muito pesados. Você quer dormir... Dormir. .