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Saibam de uma coisa: eu quase sinto pena da ré. Todas aquelas personalidades vivendo dentro da pobre moça! Tenho certeza de que nenhum de nós haveria de querer um punhado de gente estranha e maluca habitando o nosso íntimo, não é mesmo? Sair assassinando e castrando homens por aí? Eu morreria de medo!

Ele se virou de frente para Ashley.

- A ré não parece amedrontada, parece? Não o suficiente para deixar de pentear os cabelos, usar um belo vestido e uma discreta maquilhagem! Ela não me parece nem um pouco amedrontada. Está achando que os senhores e as senhoras vão acreditar na história que contou e deixá-la sair em liberdade. Ninguém é capaz de provar se esse distúrbio de personalidade múltipla real mente existe; portanto, vamos ter de julgar por nós mesmos. A defesa alega que essas personalidades afloram e assumem o controle. Vejamos: Toni nasceu na Inglaterra. E Alette, esta nasceu na Itália. São todas a mesma pessoa. Apenas nasceram em países diferentes, em épocas diferentes. Isto não os deixa confusos? Sei que, a mim, me deixa confuso. Eu ofereci à ré uma chance de nos mostrar seus alteres, mas ela não aceitou. Eu me pergunto por quê? Seria porque não existem...? A lei da Califórnia reconhece o DPM como uma doença mental? Não. A do Colorado? Não. Do Mississipi? Não. A lei federal? Não. A bem da verdade, nenhum estado tem uma lei que confirme o DPM como defesa jurídica. E por quê? Porque não é uma defesa. Senhoras e senhores, trata-se de um álibi fictício para escapar ao castigo... "O que a defesa está pedindo aos senhores e às senhoras é que acreditem na existência de duas pessoas dentro da pessoa da ré, de forma que ninguém assuma a responsabilidade dos actos criminosos dela. Mas só há uma ré sentada dentro deste recinto: Ashley Paterson. Nós provamos, sem sombra de dúvida, que ela é uma assassina. Mas ela alega não ter cometido os crimes. Alega que eles foram cometidos por outra pessoa, alguém que lhe tomou emprestado o corpo para matar gente inocente... seus alteres. Não seria maravilhoso se todos tivéssemos alteres, alguém para fazer tudo aquilo que secretamente desejamos, mas que a sociedade não permite? Ou talvez não. Acaso gostariam de viver num mundo onde as pessoas pudessem sair por aí assassinando os outros e dizendo: "Ninguém pode encostar em mim, foi o meu alter quem fez isso" e "Vocês não podem castigar o meu alter porque o meu alter, na verdade, sou eu"? "Mas este julgamento não trata de personalidades míticas, que não existem. A ré, Ashley Paterson, está sendo julgada por três assassinatos hediondos a sangue-frio, e o estado está pedindo a pena de morte. Obrigado!

Mickey Brennan voltou ao seu lugar.

- A defesa está pronta para fazer o seu fechamento?

David se levantou. Caminhou até a bancada do júri, olhou bem dentro do rosto de cada jurado, e o que viu foi desanimador.

- Eu sei que este caso está sendo muito difícil para todos nós. Ouvimos especialistas testemunhando que já trataram o distúrbio de personalidade múltipla, assim como ouvimos outros especialistas depondo que isso não existe. Os distintos jurados não são médicos, de modo que ninguém espera que a sua decisão seja tomada com base em conhecimentos médicos. Eu gostaria de me desculpar diante de todos se o meu comportamento de ontem lhes pareceu grosseiro. Gritei com Ashley Paterson somente porque quis forçar os seus alteres a se manifestarem. Eu já conversei com esses alteres. Eu sei que existem. Existem, de facto, uma Alette e uma Toni, e elas são capazes de controlar Ashley a qualquer momento que desejem. Ela não tem conhecimento de haver cometido crime algum.

Eu lhes disse no início deste julgamento: para que alguém seja condenado por assassinato em primeiro grau, é preciso que haja uma prova física e um motivo. Não há motivo aqui, senhoras e senhores. Nenhum. E a lei diz que a promotoria deve provar a culpa do réu além de qualquer dúvida razoável. Estou certo de que as senhoras e os senhores concordarão que, neste caso, há uma dúvida razoável.

Quanto às provas, a defesa nada questiona. Há impressões digitais e vestígios do DNA de Ashley Paterson em todas as cenas dos crimes. Mas o simples facto de se encontrarem lá deveria nos fazer pensar. Ashley Paterson é uma mulher jovem e inteligente. Se cometesse um assassinato e não quisesse ser descoberta, teria deixado suas impressões digitais em todos esses lugares? A resposta é 'não'.

David continuou durante mais trinta minutos. Ao terminar, olhou para os rostos dos jurados e não sentiu acolhimento. Ele se sentou.

A juíza Williams se dirigiu aos jurados.

- Eu agora vou instrui-los acerca da lei que se aplica a este caso. Prestem bastante atenção.

Ela falou durante os vinte minutos seguintes, detalhando o que era admissível e permissível segundo a lei.

- Caso tenham perguntas, ou desejem que alguma parte dos depoimentos lhes seja referida outra vez, o relator do tribunal os atenderá. O júri está dispensado para deliberar. A sessão está suspensa até que os jurados voltem com o veredicto.

David ficou olhando os jurados saírem em fila da bancada e entrarem na sala do júri. Quanto mais eles demorarem, maiores serão as nossas chances, pensou.

Os jurados retornaram quarenta e cinco minutos depois.

David e Ashley ficaram vendo os jurados entrarem em fila e tomarem seus assentos na bancada do júri. Ashley estava com o rosto impassível. David percebeu que estava transpirando muito devido à tensão em que se encontrava.

A juíza Williams se dirigiu ao porta-voz do júri.

- Os jurados chegaram a um veredicto?

- Chegamos, sim, meritíssima.

- Queira entregá-lo, por favor, ao oficial de justiça.

O oficial de justiça levou a folha de papel para a juíza, que a desdobrou. Não havia um ruído sequer na sala de audiências.

O oficial de justiça devolveu a folha de papel ao porta-voz do júri.

- Queira ler o veredicto, por favor.

Em tom lento e comedido, ele leu:

- No caso O Povo do Estado da Califórnia contra Ashley Paterson, nós, do júri, nesta referida acção, consideramos a ré, Ashley Paterson, culpada pelo assassinato de Dennis Tibble, em violação à Secção 187 do Código Penal.

Houve um grito sufocado na sala do tribunal. Ashley fechou os olhos com força.

- No caso O Povo do Estado da Califórnia contra Ashley Paterson, nós, do júri, nesta referida acção, consideramos a ré, Ashley Paterson, culpada pelo assassinato do delegado Sam Blake, em violação à Secção 187 do Código Penal.

- No caso O Povo do Estado da Califórnia contra Ashley Paterson, nós, do júri, nesta referida acção, consideramos a ré, Ashley Paterson, culpada pelo assassinato de Richard Melton, em violação à Secção 187 do Código Penal. Nós, do júri, em todos os veredictos, os classificamos como de primeiro grau.

David começou a sentir dificuldade para respirar. Ele se virou para Ashley, mas não teve palavras. Inclinou-se para perto dela e a envolveu com os braços.

A juíza Williams falou: