- Eu mandei parar. Pare com isso.
Ashley se contorcia em sua cadeira, aos berros.
- Tudo bem, Ashley - disse o Dr. Keller - Você está em segurança. Vai acordar agora, após eu contar até cinco.
Ashley acordou, trémula.
- Está tudo bem?
- Toni me falou sobre Richard Melton. Vocês fizeram amor e você pensou que fosse o seu pai, e então...
Ela tapou os ouvidos com as mãos.
- Eu não quero ouvir mais nada.
O Dr. Keller foi falar com Otto Lewison.
- Acho que finalmente estamos obtendo algum progresso. Está sendo muito traumático para Ashley, mas estamos chegando ao fim. Ainda temos dois assassinatos para repassar
- E depois?
- Vou juntar Ashley, Toni e Alette.
Capítulo Vinte e Sete
- Toni? Toni, você está me ouvindo? - O Dr. Keller viu a expressão de Ashley se modificar.
- Eu estou ouvindo tudo, doutorzinho.
- Vamos conversar sobre Jean Claude Parent.
- Eu deveria saber que ele era bom demais para ser verdade.
- O que você quer dizer com isso?
- No começo, parecia um verdadeiro cavalheiro. Ele me levou para sair todas as noites, e nos divertimos muito. Eu o achei diferente, mas era igual a todos os outros. Só queria saber de sexo.
- Entendo.
- Ele me deu um belíssimo anel, e suponho que pensou que fosse meu dono. Fui até a casa dele.
Era uma belíssima casa de tijolo aparente, com dois andares e cheia de antiguidades.
- Que linda!
- Há uma coisa especial que eu quero lhe mostrar lá em cima, no quarto. - E ele a estava levando para o quarto, e ela foi incapaz.
Os dois estavam no quarto, e ele a abraçou e sussurrou:
- Tire a roupa.
- Eu não quero...
- Quer sim. Nós dois queremos. - Ele a despiu rapidamente, em seguida deitou-a sobre a cama e a montou. Ela estava gemendo:
- Não, por favor Papai, Não.
Mas ele não ligou. Continuou penetrando-a até que, de repente,
- Ah! - e parou. - Você é linda! - disse ele.
E a explosão maléfica a sacudiu. Ela pegou a espátula de cortar papel de cima da mesa e a enfiou no peito dele, em cima e embaixo, em cima e embaixo.
- Você não vai mais fazer isso com ninguém. - Ela enfiou-a na virilha dele.
Depois, ela tomou um banho tranquilo, vestiu a roupa e voltou para o hotel.
- Ashley... - O rosto de Ashley começou a mudar - Acorde.
Ashley despertou lentamente. Ela olhou para o Dr. Keller e perguntou:
- Toni outra vez?
- Foi. Ela conheceu Jean Claude na Internet. Ashley, quando você estava em Quebeque, não houve períodos em que pareceu perder a noção do tempo? Quando de repente haviam-se passado horas, ou mesmo um dia inteiro, e você não sabia onde tinha ido parar o tempo?
Ela assentiu lentamente.
- Houve, sim. Isso aconteceu com muita frequência.
- Era quando Toni assumia o controle.
- E foi aí que ela... que ela...?
- Foi.
Nos meses seguintes, não aconteceu nada. Durante as tardes, o Dr. Keller escutava Toni tocando piano e cantando e observava Alette pintando no jardim. Havia mais um assassinato a ser analisado, mas ele queria Ashley bem relaxada para começar a conversar sobre este último.
Já se haviam passado cinco anos desde que ela chegara ao hospital. Está quase curada, pensou o Dr. Keller.
Numa manhã de segunda-feira, ele mandou buscar Ashley em seu quarto e esperou que ela entrasse em sua sala. Ela estava pálida como se soubesse o que ia enfrentar.
- Bom dia, Ashley!
- Bom dia, Gilbert!
- Como está se sentindo?
- Nervosa. É o último, não é?
- É. Vamos falar sobre o delegado Sam Blake. O que ele estava fazendo no seu apartamento?
- Eu pedi que ele fosse até lá. Alguém tinha escrito no espelho do meu banheiro: "Você Vai Morrer." Eu não sabia o que fazer. Achei que alguém estava tentando me matar. Chamei a polícia, e o delegado Blake atendeu. Ele foi muito amável.
- Você pediu que ele ficasse com você?
- Pedi. Eu estava com medo de ficar sozinha. Ele disse que ia passar a noite comigo e, pela manhã , providenciaria protecção vinte e quatro horas para mim. Eu me ofereci para dormir no sofá, para que ele pudesse dormir no quarto, mas ele disse que dormiria no sofá. Eu me lembro que ele verificou se as janelas estavam bem fechadas e deu duas voltas na tranca. A arma dele estava em cima da mesinha ao lado do sofá. Eu disse boa-noite, fui para o meu quarto e fechei a porta.
- E depois, o que aconteceu?
- Eu... a última coisa de que me lembro foi de ter sido acordada por alguém gritando no beco. Então o comissário veio me dizer que o delegado Blake tinha sido encontrado morto.
Ela parou, o rosto pálido.
- Tudo bem. Vou hipnotizá-la agora. Relaxe... Feche os olhos relaxe... - Levou dez minutos. O Dr. Keller falou: - Toni...
- Estou aqui. Você quer saber o que aconteceu de verdade, não é? Ashley foi uma boba ao pedir ao Sam que dormisse no apartamento. Eu poderia ter dito a ela o que ele iria fazer.
Ele ouviu um grito no quarto, levantou-se ligeiro do sofá e pegou a arma. Correu até à porta do quarto e prestou atenção um instante. Silêncio.
Havia sido imaginação. Quando começou a dar meia-volta, ouviu o grito outra vez. Abriu a porta, de arma na mão. Ashley estava na cama, nua, não havia ninguém mais no quarto. Ela estava soltando uns gemidinhos. Ele se aproximou da cama. Ela estava linda, ali deitada, enrolada, na posição fetal. Gemeu mais uma vez, às voltas com um pesadelo horrível. Ele só queria reconfortá-la, abraçá-la e dar lhe um pouco de carinho. Deitou-se ao seu lado, puxou-a delicadamente para perto, sentiu o calor do corpo dela e começou a ficar excitado.
Ela foi despertada pela voz dele dizendo:
- Tudo bem. Você está em segurança.
E os lábios dele foram de encontro aos dela, e ele afastou as pernas dela e a penetrou.
E ela estava gritando:
- Não, papai.
E ele se mexia cada vez mais rápido, na urgência primordial, e então a vingança selvagem aconteceu. Ela tirou a faca de dentro da gaveta ao lado da cama e começou a enfiá-la no corpo dele.
- O que aconteceu depois que você o matou?
- Ela enrolou o corpo dele nos lençóis, arrastou-o até o elevador e passou pela garagem para chegar ao beco nos fundos.
Ashley ficou ali sentada, com o rosto lívido.
- Ela é um mon... eu sou um monstro.
- Não. Ashley, você precisa se lembrar de que Toni nasceu da sua dor, para protegê-la. O mesmo acontece com Alette. É hora de dar um fim a isso tudo. Eu quero que você as conheça. É o próximo passo para você ficar boa - disse Gilbert Keller
Os olhos de Ashley estavam bem fechados.
- Tudo bem. E quando... quando vamos fazer isso?
- Amanhã de manhã.
Ashley estava em hipnose profunda. O Dr. Keller começou com Toni.
- Toni, eu quero que você e Alette conversem com Ashley.
- O que o faz pensar que ela vai dar conta de nós duas?
- Eu acho que vai.
- Pois bem, doutorzinho. Você é quem manda.
- Alette, você está pronta para se encontrar com Ashley?
- Se Toni achar que está tudo bem.
- Está, sim, Alette. Já não é hora?
O Dr. Keller respirou fundo e disse:
- Ashley, eu quero que você diga olá para Toni.
Houve um silêncio prolongado. Em seguida, um tímido:
- Oi, Toni...
- Oi!
- Ashley, diga olá para Alette.
- Oi, Alette!
- Oi, Ashley!
O Dr. Keller soltou um suspiro profundo de alívio.
- Eu quero que vocês se conheçam. Vocês sofreram os mesmos traumas terríveis. Eles as separaram. Mas não há mais razão para esta separação. Vocês vão se tornar uma pessoa íntegra e saudável. A estrada é longa, mas vocês já começaram a jornada. Eu lhes asseguro uma coisa... a parte mais difícil já passou.