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- Alô, Ashley. Eu sou o Dr. Montfort e preciso lhe fazer algumas perguntas. Como você está se sentindo consigo mesma?

- Maravilhosa, doutor. É como se eu tivesse acabado de me recuperar de uma longa doença.

- Você se acha uma pessoa ruim?

- Não. Eu sei que aconteceram algumas coisas terríveis, mas não me acho responsável por elas.

- Você sente ódio de alguém?

- Não.

- E o seu pai? Sente ódio dele?

- Senti. Não sinto mais. Acho que ele não teve como evitar o que fez. Só espero que esteja bem agora!

- Você gostaria de tornar a vê-lo?

- Acho que seria melhor se eu não o visse. Ele tem a vida dele. E eu quero começar uma vida nova, só minha.

- Ashley?

- Pois Não?

- Sou o Dr. Vaughn. Gostaria de ter uma breve conversa com você.

- Tudo bem.

- Você se lembra de Toni e Alette?

- Claro. Mas elas não existem mais.

- O que sente com relação a elas?

- No início, fiquei assustadíssima, mas agora sei que precisei delas. E tenho um sentimento de gratidão por elas.

- Você costuma dormir bem à noite?

- Agora, sim.

- Conte-me seus sonhos.

- Eu tinha sonhos horríveis, algo me perseguindo. Eu achava que seria assassinada.

- Você ainda tem esses sonhos?

- Não. Meus sonhos são tranquilos. Vejo cores vivas, gente sorrindo. Ontem à noite, sonhei que estava numa estação de esqui, voando pelas encostas abaixo. Foi maravilhoso! O frio não me incomoda mais.

- O que sente com relação ao seu pai?

- Quero que ele seja feliz, e eu quero ser feliz.

- Ashley?

- Pois Não?

- Eu sou o Dr. Hoelterhoff.

- Muito prazer, doutor?

- Ninguém me disse que você era tão bonita assim. Você se acha bonita?

- Acho que sou atraente...

- Eu soube que você tem uma voz linda. Concorda?

- Não é uma voz treinada, mas, concordo. - Ela riu. - Pelo menos, consigo cantar com voz afinada.

- E me disseram também que você pinta. É boa nisso também?

- Para uma amadora, acho que sou bastante boa.

Ele a estudava, atenciosamente.

- Você tem algum problema que gostaria de discutir comigo?

- Não consigo pensar em nada. Recebo um óptimo tratamento aqui.

- O que você acha de sair daqui e ganhar o mundo?

- Já pensei muito nisso. Dá medo, mas ao mesmo tempo é estimulante.

- Acha que poderia sentir medo lá fora?

- Não. Quero construir uma nova vida. Minha área é a informática. Não dá para voltar para a empresa onde eu trabalhava, mas decerto vou conseguir emprego em outra firma qualquer.

O Dr. Hoelterhoff assentiu.

- Obrigado, Ashley! Foi um prazer conversar com você.

O Dr. Montfort, o Dr. Vaughn, o Dr. Hoelterhoff e o Dr. Keller se reuniram na sala de Otto Lewison. Ele estava estudando os relatórios de todos. Ao terminar, olhou para o Dr. Keller e sorriu.

- Parabéns - disse ele. - Estes laudos são todos positivos. Fez um trabalho excelente.

- Ela é uma mulher maravilhosa. Muito especial, Otto. Estou satisfeito de ver que ela vai poder seguir com a própria vida novamente.

- Ela concordou com um tratamento ambulatorial depois que sair daqui?

- Concordou.

Otto Lewison assentiu.

- Muito bem. Vou mandar preparar a papelada para ela receber alta. - Ele se dirigiu aos outros médicos. - Obrigado, senhores! Fico-lhes grato pela ajuda.

Capítulo Vinte e Nove

Dois dias depois, Ashley foi chamada à sala do Dr. Lewison. O Dr. Keller estava presente. Ela receberia alta e poderia voltar para sua casa em Cupertino, onde sessões de terapia regular e de avaliação haviam sido providenciadas junto a um psiquiatra aprovado pelo tribunal.

- Ora, hoje é o dia! Está feliz? - perguntou o Dr. Lewison.

- Feliz, assustada, eu... eu nem sei - disse Ashley - Estou me sentindo como um passarinho que acaba de ser libertado da gaiola. Como se eu pudesse voar! - seu rosto estava resplandecente.

- Estou feliz de vê-la ir embora, mas eu... vou sentir sua falta. - disse o Dr. Keller.

Ashley pegou a mão dele e falou carinhosamente:

- Eu também vou sentir sua falta. Eu não sei como... Não sei como vou poder lhe agradecer - Seus olhos encheram-se de lágrimas. - Você me devolveu a minha vida.

Sorriu ao Dr. Lewison.

- Quando eu estiver na Califórnia, vou conseguir um emprego numa daquelas firmas de informática de lá. Vou mandar notícias sobre o andamento de tudo, inclusive da terapia ambulatorial. Quero me assegurar de que o que me aconteceu jamais volte a acontecer.

- Acho que você não tem com que se preocupar - assegurou-lhe o Dr. Lewison.

Quando ela se foi, ele se dirigiu a Gilbert Keller.

- Este caso é uma compensação pelos diversos outros pacientes que não conseguiram, não é mesmo, Gilbert?

Era um dia ensolarado de junho, e à medida que ela caminhava pela Madison Avenue, de Nova York, seu sorriso radiante fazia as pessoas se voltarem para olhá-la. Ela nunca tinha se sentido tão feliz. Pensou na vida maravilhosa que tinha pela frente e em tudo que ia fazer. Poderia ter sido um final terrível para ela, pensou, mas este era o final feliz pelo qual tanto tinha pedido.

Ela entrou na estação da Pensilvania. Era a estação ferroviária mais movimentada dos Estados Unidos, um labirinto apático de saguões e corredores sem cor. A estação estava abarrotada de gente. E cada uma dessas pessoas tem uma história interessante para contar, pensou ela. Estão todas indo para lugares diferentes, vivendo suas próprias vidas, e agora, eu vou viver a minha própria vida.

Ela comprou uma passagem num dos guinches automáticos. Seu comboio estava entrando na plataforma. Acaso fortuito, pensou.

Ela entrou no comboio e sentou-se. Reluzia de excitação por conta do que estava prestes a acontecer. O comboio deu um leve solavanco e começou a ganhar velocidade. Estou no meu próprio caminho, afinal. E enquanto o comboio seguia em direcção a Hamptons, ela cantava baixinho.

"O macaco perseguiu a lontra

Em volta do pé de amora.

O macaco achou divertido.

Mas a lontra - pluft! - foi embora. "

Fim