Shane Miller a estava observando, apreensivo.
- Você está bem, Ashley?
Ela forçou um sorriso.
- Estou.
- Eu realmente sinto muito pelo seu amigo. - Ela lhe contara sobre Jim.
- Mas eu... Eu vou superar isso.
- Que tal jantarmos juntos hoje à noite?
- Obrigada Shane! Eu... Eu ainda não estou preparada. Na semana que vem, quem sabe?
- Tudo bem. Se houver alguma coisa que eu possa fazer...
- Eu fico agradecida. Não há o que se possa fazer.
Toni falou para Alette:
- A dona Babacona está tendo um problema. Por mim, quero que ela se dane!
- Eu estou com pena dela. Ela está mal.
- Que se dane! Todo mundo tem problemas, não é mesmo, minha querida?
Quando Ashley estava saindo do trabalho numa sexta-feira à tarde, para um fim de semana prolongado, Dennis Tibble a deteve.
- Ei, doçura, estou precisando de um favor.
- Você vai me desculpar, Dennis, mas eu...
- Ei, espere aí. Não é nada disso! - Ele pegou o braço de Ashley - Preciso de um conselho do ponto de vista de uma mulher.
- Dennis, eu não tenho a mínima vontade de...
- Eu me apaixonei por alguém e quero me casar, mas estou com problemas. Você vai me ajudar?
Ashley hesitou. Ela não gostava de Dennis Tibble, mas não viu mal algum em tentar ajudá-lo.
- Será que dá para esperar até amanhã?
- Eu preciso conversar com você agora. É urgente mesmo.
Ashley respirou fundo.
- Tudo bem.
- Será que podemos ir para o seu apartamento?
Ela balançou a cabeça.
- Não. - Jamais conseguiria fazê-lo ir embora.
- Você toparia ir para o meu?
Ashley hesitou.
- Tudo bem. - Assim, posso sair quando bem entender. Se eu conseguir ajudá-lo a conquistar a mulher por quem está apaixonado, talvez ele me deixe em paz.
Toni falou para Alette:
- Puxa! Dona Maria Certinha vai para o apartamento do verme. Você acredita que possa ser idiota a esse ponto? Onde é que andam os miolos de araque dessa mulher?
- Ela só está tentando ajudar. Não há nada errado em...
- Ah, não me venha com essa, Alette! Quando é que você vai crescer, mulher? O cara só está querendo levá-la para o abatedouro.
- Nona. Non si fancos.
- Nem eu mesma teria sido capaz de dizer isso de uma forma melhor!
O apartamento de Dennis Tibble era decorado em neopesadelo. Havia pôs teres de antigos filmes de terror em todas as paredes, ao lado de folhinhas de mulheres nuas e animais selvagens comendo. Minúsculas esculturas eróticas em madeira abundavam pelas mesas.
Que apartamento de maluco pensou Ashley. Mal podia esperar para ir embora dali.
- Sabe, achei legal você ter vindo. Fiquei sensibilizado. Se...
- Eu não posso demorar, Dennis - advertiu Ashley logo de início. - Fale logo sobre essa mulher por quem você se apaixonou.
- Ela é realmente demais! - Ele ofereceu um cigarro. - Quer um?
- Eu não fumo. - Ela o observou acender o cigarro.
- Quer beber alguma coisa?
- Eu não bebo.
Ele abriu um sorriso.
- Você não fuma, não bebe. Sobra uma atividade interessante, não é mesmo?
Ela falou com firmeza:
- Dennis, se você não...
- Eu só estava brincando. - Ele foi até o bar e se serviu de vinho. - Tome um pouco de vinho. Mal não vai fazer - Ele entregou o copo a ela.
Ela tomou um gole do vinho.
- Agora me fale da moça.
Dennis Tibble se sentou no sofá, ao lado de Ashley.
- Eu nunca conheci ninguém igual. Ela é sexy como você e...
- Pare com isso, senão eu vou embora.
- Ei, isso foi um elogio. Enfim, ela está maluca por mim, mas a mãe e o pai dela têm uma vida social muito ativa e me detestam.
Ashley não fez comentário algum.
- Então, o caso é o seguinte: se eu forço a barra, ela se casa comigo, mas se isola da família. Ela é muito chegada aos pais e, se nós nos casarmos, eles com certeza vão deserdá-la. Então, ela vai acabar um dia me culpando por isso. Entendeu o problema?
Ashley tomou mais um gole do vinho.
- Entendi. Eu...
Depois disso, o tempo pareceu se esvair no meio de uma neblina.
Ela acordou devagar, sabendo que havia alguma coisa muito errada. Teve a sensação de ter sido drogada. O esforço para simplesmente abrir os olhos foi imenso. Ashley olhou ao redor do quarto e começou a entrar em pânico. Estava deitada numa cama, nua, num quarto de hotel barato. Conseguiu se sentar e começou a sentir a cabeça latejar. Não fazia idéia de onde estava nem de como chegara ali. Havia um cardápio sobre a mesinha-de-cabeceira, e ela se esticou para pegá-lo. Chicago Loop Hotel. Ela tornou a ler, atônita. O que eu estou fazendo em Chicago? Quando tempo faz que estou aqui? A visita ao apartamento de Dennis Tibble fora na sexta-feira. Que dia é hoje?
Mais alarmada a cada instante, ela pegou o telefone.
- Pois não?
Foi difícil falar.
- Que... Que dia é hoje
- Dia dezessete de...
- Não. Eu quero saber o dia da semana.
- Ah! Segunda-feira. Você gostaria...
Ashley repôs o aparelho no gancho, estarrecida. Segunda feira. Perdera dois dias e duas noites. Sentou-se na beira da cama, tentando se lembrar. Ela havia ido para o apartamento de Dennis Tibble... Tomara um copo de vinho... Depois disso, um hiato. Ele havia colocado algo no seu copo de vinho que a fizera perder a memória temporariamente. Ela já lera a respeito de incidentes nos quais fora usado essa droga, chamada "droga de estuprar namorada". Fora isso que ele lhe dera. O pretexto de precisar de um conselho tinha sido uma artimanha. E eu caí como uma boba! Ela não se lembrava de ter ido para o aeroporto, de ter tomado o avião para Chicago, nem de ter se hospedado neste hotelzinho infame com Tibble. E o que era pior - não se lembrava do que ocorrera neste quarto.
Preciso sair daqui, pensou Ashley, desesperada. Sentiu-se maculada, como se cada centímetro de seu corpo tivesse sido violado. O que ele lhe fizera? Ela tentou não pensar nisso. Saiu da cama, entrou no minúsculo banheiro e foi tomar um banho. Deixou que a água quente batesse contra o seu corpo, tentando lavar as coisas horríveis, sujas, que lhe pudessem ter sucedido. Se ele a tivesse engravidado? A simples idéia de ter um filho dele a deixou enojada. Ashley saiu do chuveiro, secou-se e foi até o armário. Suas roupas haviam sumido. Ela encontrou ali somente uma minissaia de couro preto, um top barato e um par de sapatos de saltos bem altos, pontiagudos. Sentiu repugnância de se ver forçada a usar tais roupas, mas não teve escolha. Vestiu-se rapidamente e olhou-se no espelho. Parecia uma prostituta. Ashley examinou a carteira. Somente quarenta dólares. O talão de cheques e o cartão de crédito ainda estavam lá. Graças a Deus! Ela saiu pelo corredor. Não havia ninguém. Pegou o elevador, desceu até o saguão mal conservado do hotel e foi até o balcão da recepção, onde entregou ao idoso funcionário o seu cartão de crédito.
- Já vai? - disse ele, em tom de zombaria - Mas tenho a impressão de que você se divertiu bastante, acertei?
Ashley ficou olhando para o homem, imaginando a que ele estaria se referindo e teve medo de descobrir. Sentiu-se tentada a perguntar-lhe quando Dennis Tibble havia deixado o hotel, mas achou melhor ficar calada.
O funcionário estava passando o seu cartão de crédito pelo aparelho de leitura. Ele fez uma careta e uma segunda tentativa.
Finalmente, falou:
- Moça, me desculpe, mas o cartão não está sendo aceito. Estourou o limite.