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— Olhe! Repare! — disse ela, apontando com o dedo ossudo. — A pedra negra é o Steel. A branca, é você. Entre elas, uma fortaleza...

Palin viu uma pedra verde, marcada com uma runa, que representava a torre.

— ...e por cima da fortaleza, chamas.

O mago olhou fixamente para uma ágata vermelha, assinalada com uma minúscula língua de fogo.

— Você de um lado, ele do outro, e no meio, a catástrofe. Inclinando-se, esboçou um gesto rápido com a mão e arrebatou as pedras.

— Está vendo! Ambos desapareceram! — sussurrou. — Os dois morreram e...

— E a catástrofe continua a pairar — respondeu Palin serenamente, olhando para a pedra da torre e para a pedra da chama. Ambas continuavam sobre a mesa.

Sobressaltada, a Dama da Noite pestanejou. Tencionara arrebanhar todas as pedras. Por um motivo qualquer, a mão falhara as duas. Hesitou por um instante, sem dúvida a interrogar-se quanto ao significado deste novo presságio.

Palin não se ralou. Sentia-se muito exausto.

— Ouviu o que contei ao seu suserano a respeito dos deuses — disse, com voz cansada. — Vi...

— ...o que o seu tio queria que visse! — escarneceu a Dama da Noite. — Foi o que eu disse ao meu senhor. Que se tratava de um truque de Raistlin Majere. E eu sei como ele aprecia truques. Mas um dia ainda vai pagar por elas. — Lillith pegou nas duas pedras e meteu-as na bolsa. — Quanto a Steel Montante Luzente, traiu a causa da nossa Rainha. E irei prová-lo ao meu suserano! Depois, ambos morrerão, como convém a primos-irmãos!

Com as pedras videntes a chocalharem-lhe na bolsa, a Dama da Noite afastou-se, levando consigo o reluzente Bastão de Magius.

Palin encostou-se à mesa. A escuridão abateu-se sobre si. Com ela, vinha o desespero. Ia morrer ali. Iriam encontrá-lo acorrentado àquele pedestal...

O som de vozes chamou-o à realidade.

Hesitante, Palin levantou a cabeça, e o clarão vivo de uma tocha obrigou-o a piscar os olhos. Só conseguiu vislumbrar uns vultos borrados, o reflexo de uma armadura, possivelmente o cintilar, mais fraco, de uma jóia, mas nada mais.

Fosse quem fosse, as pessoas trocavam, num sussurro, um breve diálogo, interrompido pela voz soturna e fria de um homem, que ordenou:

— Fiquem aqui. E mantenham-se quietos.

Palin reconheceu a voz, e quase sentiu o coração saltar-lhe da boca. Tentou falar, mas estava muito estupefato, muito aturdido. O homem que empunhava a tocha e a refulgente jóia em forma de estrela, era Steel Montante Luzente.

Distanciando-se dos dois companheiros, que, de imediato, foram engolidos pelas trevas, Steel encaminhou-se para Palin, de tocha em punho.

— Majere? — perguntou Steel, sem baixar a voz, e o som das suas botas ecoou pela sala. Caminhava confiante, seguro do seu direito de se encontrar ali. Não era homem para tentar libertar um prisioneiro às escondidas. Aproximando-se, acrescentou: — Majere, preciso falar contigo...

Um forte clarão dissipou as trevas. Nas alcovas onde, anos atrás, se tinham postado os Cavaleiros da Solamnia para combater os dragões, encontravam-se agora os Cavaleiros de Takhisis.

— Está vendo, meu senhor? — ouviu-se a voz de Lillith, que o triunfo tornara esganiçada. O Bastão de Magius reluzia-lhe nas mãos. — Está vendo?

Da escuridão, veio a voz do Senhor de Ariakan, repassada de tristeza e consumida pela cólera:

— Na verdade, Steel Montante Luzente provou ser um traidor. Prendam-no!

17

A armadilha é acionada.

Avançando, os cavaleiros prenderam os braços de Steel. Este não ofereceu resistência. Pestanejando, olhou para Palin.

— Tem que acreditar em mim! — exclamou Palin, em voz baixa. — Não tenho nada a ver com isto!

— Steel Montante Luzente, por que se encontra aqui? — perguntou o Senhor de Ariakan. — O teu batalhão não está de serviço. Não tinha nada que vir aqui.

— Meu senhor, o motivo é óbvio! — exclamou a Dama da Noite. — Esgueirou-se até aqui embaixo para libertar o prisioneiro!

— Não vim sorrateiro! — replicou Steel com frieza e impelido a intervir.

— Viram-me, ouviram-me. Vim sem dissimulações.

— Por que motivo? — insistiu Ariakan. Steel não respondeu.

O Senhor de Ariakan abanou a cabeça.

— Montante Luzente, foi um erro aceitá-lo na cavalaria — disse. — Alguns me advertiram — acrescentou, fitando a Dama da Noite, que fez o obséquio (ou possivelmente teve a presença de espírito) de não parecer magnânima —, mas houveram outros que me pressionaram, sendo um deles a Suma-Sacerdotiza, que agora jaz morta. É um bom soldado, corajoso, honrado, leal. Sim, digo leal — acrescentou, dardejando a Dama da Noite com um olhar fulminante.

— Montante Luzente, acredito piamente que pretende servir a nossa Rainha de alma e coração. Mas nesse coração palpita a sinistra ambição da sua mãe, e nessa alma repousa a nobreza do teu pai. No teu íntimo, ambos se digladiam. De modo que age em consonância com objetivos cruzados. Portanto, constitui um perigo para a causa, uma ameaça para a Visão. Steel Montante Luzente, condeno-o à morte. Que a sentença seja executada imediatamente.

Empunhando a espada, um dos cavaleiros aproximou-se de Steel.

Steel não ofereceu resistência nem protestou. Todas as palavras ditas pelo seu suserano eram verdadeiras, tal como a verdade contida numa lâmina de espada nua.

Erguendo a espada, o cavaleiro preparou-se para enterrá-la no peito de Steel.

— Meu senhor! — exclamou outro cavaleiro. — Ele tem cúmplices! — Ouviu-se um grito e ruídos de briga.

— Será que este homem nunca morre? — inquiriu Ariakan, em tom impaciente. Após um instante de reflexão, acrescentou: — Ou será que a Rainha Takhisis está assim tão determinada em que viva? Aguardem as minhas ordens! — ordenou, retumbante. — O que encontraram?

— Mais dois, meu senhor. — Um dos cavaleiros aproximou-se, arrastando Tasslehoff e um vulto esguio de vestes negras, com a cabeça oculta pelo capuz. — Ao que parece, o Montante Luzente não estava sozinho.

Palin levantou-se, animado pela esperança.

— Raistlin! — murmurou. — Então o meu tio veio!

Ao que parece, a Dama da Noite tivera o mesmo pensamento, pois avançou precipitadamente, com a mão enclavinhada no Bastão de Magius, para que a protegesse.

— Feiticeiro, quem é você? — inquiriu. — Retire o capuz!

A figura envolta em vestes negras levantou a cabeça, e os seus olhos dourados refletiram a luz do bastão.

De início alarmada, a Dama da Noite recuou. Depois, recuperando o aprumo, soltou uma gargalhada escarninha.

— Não é mago coisa nenhuma! Não tem magia dentro de ti! — disse, arrancando o capuz que ocultava a cabeça do vulto.

O grito de alegria de Palin morreu-lhe numa exclamação de desânimo. Ali parada, encontrava-se Usha, pálida e assustada, piscando os olhos devido à luz.

— Mas, o que se passa aqui? — Ariakan parecia agora mais desorientado do que furioso. — Um kender e uma feiticeira Veste Negra?

— Não é feiticeira coisa nenhuma! — rosnou a Dama da Noite com desdém. — Tem tanta magia dentro dela como esta parede. É uma espiã!

— Não sei do que ela está falando! — interveio Tasslehoff. — Não acompanhamos este cavaleiro. Não estamos com ninguém... a não ser um com o outro.

— Calem essa minhoca! — exclamou a Dama da Noite.

— Não, deixem-no falar! — replicou frustrado, Ariakan. — Acontece algo estranho aqui e pretendo ir até o fundo da questão. Pousem-no no chão. Kender, venha cá.

Tas ajeitou os alforjes e avançou, de mãos estendidas.

— Senhor, como tem passado? Me chamo Eiderdown Pasklinger. Esta é a minha amiga Usha, uma feiticeira do Mal muito poderosa! Se fosse você, não me metia com ela, pois é a filha de Raistlin Majere!