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Cemitério paraibano ( entre Flores e Princesa ) Uma casa é o cemitério dos mortos deste lugar. A casa só, sem puxada, e casa de um só andar. E da casa só o recinto entre a taipa lateral. Nunca se usou o jardim; muito menos, o quintal. E casa pequena: própria menos a hotel que a pensão: pois os inquilinos cabem no cemitério saguão, os poucos que, por aqui recusaram o privilégio de cemitérios cidades em cidades cemitérios.
Cemetery in Paraíba ( between Flores and Princesa ) This cemetery is a house for those who herein lie. A house without attachments, a house of just one story. And only the part of a house enclosed by the stucco walls. No one ever used the garden, much less the surrounding yard. Too small to be a hotel, it’s more like a boardinghouse, with a cemetery lobby just big enough to hold those few residents who, coming here, refused the privilege of city cemeteries in cemetery cities.
A palavra seda A atmosfera que te envolve atinge tais atmosferas que transforma muitas coisas que te concernem, ou cercam. E como as coisas, palavras impossíveis de poema: exemplo, a palavra ouro, e até este poema, seda. É certo que tua pessoa não faz dormir, mas desperta; nem é sedante, palavra derivada da de seda. E é certo que a superfície de tua pessoa externa, de tua pele e de tudo isso que em ti se tateia, nada tem da superfície luxuosa, falsa, acadêmica, de uma superfície quando se diz que ela é “como seda”. Mas em ti, em algum ponto, talvez fora de ti mesma, talvez mesmo no ambiente
que retesas quando chegas há algo de muscular, de animal, carnal, pantera, de felino, da substância felina, ou sua maneira, de animal, de animalmente, de cru, de cruel, de crueza, que sob a palavra gasta persiste na coisa seda.
The Word Silk The atmosphere surrounding you reaches heights in which it changes many things concerning you or near you. And as well as things, words impossible in poems: for instance, the word gold and, until this poem, silk. True, your person arouses rather than inducing sleep; nor is it a sedative, a word derived from the word for silk. And it’s true that the surface of your outward person, of your skin and of all that gropes inside you, has nothing of the luxurious, false, academic surface — that surface designated by the phrase “like silk.” But in you, somewhere, or perhaps outside you, perhaps in the ambience made tense by your presence, there’s something muscular, animal, carnal, pantherish, catlike — catlike in substance or in a cat’s way of being — something animal, animalistic, crude, cruel — a cruelty — which beneath the worn-out word persists in the thing silk.
Cemitério pernambucano ( Floresta do Navio ) Antes de se ver Floresta se vê uma Constantinopla complicada com barroco, gótico e cenário de ópera. É o cemitério. E esse estuque tão retórico e florido é o estilo doutor, do gosto do orador e do político, de um político orador que em vez de frases, com tumbas quis compor esta oração toda em palavras esdrúxulas, esdrúxula, na folha plana do Sertão, onde, desnuda, a vida não ora, fala, e com palavras agudas.
Cemetery in Pernambuco ( Floresta do Navio ) Before seeing Floresta one sees a Constantinople with touches of baroque, gothic, and opera scenery. It’s the cemetery, with its florid and rhetorical plaster cast in the orotund style of the speaker or politician, of a political speaker who instead of sentences used tombs to make this speech, all in grandiloquent language — grandiloquence, on the flat sheet of the backlands, where naked life does not make speeches but talks with short sharp words.
Cemitério pernambucano ( Custódia ) É mais prático enterrar-se em covas feitas no chão: ao sol daqui, mais que covas, são fornos de cremação. Ao sol daqui, as covas logo se transformam nas caieiras onde enterrar certas coisas para, queimando-as, fazê-las: assim, o tijolo ainda cru, as pedras que dão a cal ou a capoeira raquítica que dá o carvão vegetal. Só que nas covas caieiras nenhuma coisa é apurada: tudo se perde na terra, em forma de alma, ou de nada.
Cemetery in Pernambuco ( Custódia ) It’s more practical to be buried in graves dug in the ground: under this sun, more than graves they are crematory ovens. Under this sun soon the graves are transformed into kilns where certain things are buried to burn into finished form: so it is with still raw bricks, the stones that become lime, and the slashed and burnt brush that changes into charcoal. But in these graves-turned-kilns the contents are not refined: all is lost in the earth, in the form of a soul, or nothing.