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10 — The sugar mill worker when he is dying: — His yellow begins to glow from inside. — He gains a transparency that suggests anemic crystaclass="underline" — Of which candle wax is the best example. — He gains the transparency of a common candle: — Of the candle they’ve lit to watch over his last hour. — The flesh of this candle is just like his own: — And the flame wonders why they don’t light his too.
15 — The sugar mill worker when carried away, dead: — He’s one empty coffin inside another. — A death of emptiness is what’s carried inside: — And since the death is empty, it has no insides. — He can’t even be the contents of the rented coffin: — Since he is empty, at most he’ll be the lining. — The burial of a mill worker is the burial of a coconut: — A handful of wrappings around a hollow core.
20 — The sugar mill worker dead and in the ground: — Everything pitches in to finish him off quickly. — Black earth becomes gravel, the woods become dry plains: — And the sun gives a hand by making winter summer. — To better gnaw the bones, the worms turn into dogs: — Then back again into worms, when they see the bones are chalk. — And the wind of the canefield also helps to make him finaclass="underline" — By sweeping away the gases (his soul) to purify him.

from Serial / Serial 1961

O sim contra o sim Marianne Moore, em vez de lápis, emprega quando escreve instrumento cortante: bisturi, simples canivete. Ela aprendeu que o lado claro das coisas é o anverso e por isso as disseca: para ler textos mais corretos. Com mão direta ela as penetra, com lápis bisturi, e com eles compõe, de volta, o verso cicatriz. E porque é limpa a cicatriz,
econômica, reta, mais que o cirurgião se admira a lâmina que opera. Francis Ponge, outro cirurgião, adota uma outra técnica: gira-as nos dedos, gira ao redor das coisas que opera. Apalpa-as com todos os dez mil dedos da linguagem: não tem bisturi reto mas um que se ramificasse. Com ele envolve tanto a coisa que quase a enovela e quase a enovelando, se perde, enovelado nela. E no instante em que até parece que já não a penetra, ela entra sem cortar: saltou por descuidada fresta. Miró sentia a mão direita demasiado sábia e que de saber tanto já não podia inventar nada. Quis então que desaprendesse o muito que aprendera, a fim de reencontrar a linha ainda fresca da esquerda. Pois que ela não pôde, ele pôs-se a desenhar com esta até que, se operando, no braço direito ele a enxerta. A esquerda (se não se é canhoto) é mão sem habilidade: reaprende a cada linha, cada instante, a recomeçar-se. Mondrian, também da mão direita andava desgostado; não por ser ela sábia: porque, sendo sábia, era fácil. Assim, não a trocou de braço: queria-a mais honesta e por isso enxertou outras mais sábias dentro dela. Fez-se enxertar réguas, esquadros e outros utensílios para obrigar a mão a abandonar todo improviso. Assim foi que ele, à mão direita, impôs tal disciplina: fazer o que sabia como se o aprendesse ainda.
Yes Against Yes Marianne Moore, refusing a pen, writes her stanzas with a cutting edge, a common jackknife or scalpel. She discovered that the clear side of things is the obverse, and therefore dissects them to read texts more accurately. She enters with unswerving hand and a scalpel pen to produce, on leaving, a neatly stitched poem. And since the scar is clean, sparse and straight, more than the surgeon one admires the surgical blade. Francis Ponge, also a surgeon, uses a different technique, turning the things he operates on in his fingers, and himself around them. He handles them with all ten thousand fingers of language; his is not a straight scalpel but one that’s always branching. With it he so wraps and wraps the thing that he almost winds it into a ball and loses himself, wound up inside it. And just when it would seem he can no longer penetrate, he enters without cutting, through a crack that went unseen. Miró felt that his right hand was too intelligent and that knowing so much it could no longer invent. He wanted it to unlearn all it had learned to recover the fresh line of his left hand, still pure. This being impossible, he began to draw with the left hand, attaching it at last to his right arm by a graft. Unless one is left-handed, the left hand lacks ability: every line is a relearning, every moment a new beginning. Mondrian regarded his right hand with just as much distrust, not for being intelligent, but because it was easy as such. He did not give it a new arm; he wanted it to be truer. So he grafted other more intelligent hands on to it. He grafted rulers, T-squares and other instruments that forced his hand to quit all improvisation. He imposed on his right hand this discipline: to do what it already knew as if it were still learning.
O ovo de galinha
1 Ao olho mostra a integridade de uma coisa num bloco, um ovo. Numa só matéria, unitária, maciçamente ovo, num todo. Sem posssuir um dentro e um fora, tal como as pedras, sem miolo: e só miolo: o dentro e o fora integralmente no contorno. No entanto, se ao olho se mostra unânime em si mesmo, um ovo, a mão que o sopesa descobre que nele há algo suspeitoso: que seu peso não é o das pedras, inanimado, frio, goro; que o seu é um peso morno, túmido, um peso que é vivo e não morto.