The Engineer
Light, sun and the open air
surround the dream of the engineer.
The engineer dreams clear things:
surfaces, tennis, a glass of water.
A pencil, a T-square, paper;
designs, projects, numbers.
The engineer sees the world just
as it is, without any veils.
(On certain days we went up
the building. The daily city,
like a daily paper read by all,
was gaining a lung of cement and glass.)
The water, the wind, the brightness,
the river on one side and the clouds on high
made a place in nature for the building,
growing by its own simple strength.
A mesa
O jornal dobrado
sobre a mesa simples;
a toalha limpa,
a louça branca
e fresca como o pão.
A laranja verde:
tua paisagem sempre,
teu ar livre, sol
de tuas praias; clara
e fresca como o pão.
A faca que aparou
teu lápis gasto;
teu primeiro livro
cuja capa é branca
e fresca como o pão.
E o verso nascido
de tua manhã viva,
de teu sonho extinto,
ainda leve, quente
e fresco como o pão.
The Table
The folded newspaper
on the simple table;
the tablecloth clean,
the dishes white
and fresh like bread.
The green-skinned orange:
your unfailing landscape,
your open air, the sun
of your beaches: bright
and fresh like bread.
The knife that sharpened
your spent pencil;
your first book
whose cover is white
and fresh like bread.
And the verse born
of your living morning,
of your finished dream:
still warm, light
and fresh like bread.
O funcionário
No papel de serviço
escrevo teu nome
(estranho à sala
como qualquer flor)
mas a borracha
vem e apaga.
Apaga as letras,
o carvão do lápis,
não o nome,
vivo animal,
planta viva
a arfar no cimento.
O macio monstro
impõe enfim o vazio
à página branca;
calma à mesa,
sono ao lápis,
aos arquivos, poeira;
fome à boca negra
das gavetas, sede
ao mata-borrão;
a mim, a prosa
procurada, o conforto
da poesia ida.
The Office Clerk
I write your name
(alien to this office
like any flower)
on the paper for official
business, but the eraser
comes and deletes it.
It deletes the letters,
the pencil lead,
but not your name,
the live animal,
the live plant
panting in the cement.
The soft monster
finally imposes
emptiness on the page,
stillness on the table,
sleep on the pencil,
and dust on the files;
hunger on the black
mouths of drawers, thirst
on the blotting paper,
and on me the prose
of effort, my consolation
for the poetry that fled.
A lição da poesia
1
Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.
Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:
nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.
2
A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.
Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sobre o papel,
sujando-o com seu carvão.
Carvão de lápis, carvão
da idéia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.
3
A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.
A física do susto percebida
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis — naturezas vivas.
E as vinte palavras recolhidas
nas águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.
Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.
The Lesson of Poetry
1
The whole morning spent
like a motionless sun
before the blank page:
beginning of the world, new moon.
You could no longer trace
so much as a line;
not one name, not one flower
bloomed in the table’s summer,
not even in the bright midday
purchased daily in the form
of paper, which can accept
any kind of world.
2
All night long the poet
at his desk, trying to save
from death the monsters
germinated in his inkwell.
Monsters, animals, phantoms
of words — meandering,
urinating over the paper,
smearing it with their lead.
Pencil lead, the lead
of obsessions, lead
of dead emotions, lead
consumed in dreams.
3
White struggle on the paper
which the poet avoids,
white struggle of blood
flowing from his saltwater veins.
The physics of fear discerned
in daily gestures; fear
of things that never rest and yet
are immobile — unstill still lifes.
And the twenty words collected
in the saltwater of the poet,
to be used by the poet
in his efficient machine.
Always the same twenty words
he knows so welclass="underline" how they work,
their evaporation, their density
less than the air’s.
from Psicologia da composição / Psychology of Composition 1947
Psicologia da Composição
II
Esta folha branca
me proscreve o sonho,
me incita ao verso
nítido e preciso.
Eu me refugio
nesta praia pura
onde nada existe
em que a noite pouse.
Como não há noite
cessa toda fonte;
como não há fonte
cessa toda fuga;
como não há fuga
nada lembra o fluir
de meu tempo, ao vento
que nele sopra o tempo.