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Eu também fui separado dos meus confiou-lhe na manhã seguinte Battista, ao reparar nos seus olhos vermelhos e se vós não desejardes misturar-vos aos vossos anfitriões na festa, posso vir ter convosco e cantar-vos belas canções da nossa terra...

O que teve por consequência imediata fazê-la chorar mais ainda. Na verdade, estava de uma sensibilidade aflitiva! Beijou o rapaz nas duas faces para lhe agradecer a amizade.

Ora, na véspera do Natal, três cavaleiros, que não se pareciam em nada com os reis magos, surgiram dos caminhos nevados e transpuseram a porta da Craffe: um homem, uma mulher e um rapaz. Eram, por ordem: Douglas Mortimer, soberbo no seu arnês da Guarda Escocesa mas de péssimo humor por se apresentar em semelhante companhia, Léonarde, montada numa mula e meio abafada entre lãs e peles, tão serena quanto o seu companheiro resmungava e, por fim, o jovem Florent, o aprendiz de banqueiro, vencido pelo demónio da aventura, que se pendurara nas saias da velha solteirona, recusando-se furiosamente a separar-se dela e com a esperança, claro, no fundo do seu coração inocente, de rever a bela dama dos seus pensamentos...

Toda aquela gente se viu diante de Olivier de La Marche, um pouco desconcertado com aquela chegada pitoresca:

Devo entregar a monsenhor o duque uma carta do Rei de França e esperar a resposta disse Mortimer no tom rouco que lhe era habitual.

Sereis conduzido à sua presença dentro de instantes... mas, que pessoas são estas? Viajais em família?

Antes que o escocês, que ficara vermelho como um tomate, deixasse sair as palavras que a cólera mantinha presas na sua garganta, Léonarde encarregou-se da resposta.

Eu, da família deste urso malcheiroso? Ficai a saber, sire capitão, que ele foi apenas encarregado por Sua majestade, o rei, de nos proteger, a mim e a este jovem, ao longo da viagem desde Paris. Ficai a saber também que desejo ver o vosso senhor. Eu sou a governanta de donna Fiora Beltrami, que ele retém como prisioneira e eu vim ter com ela, porque não convém que uma jovem senhora da sua qualidade tenha apenas soldados por companhia!

Estou a ver disse la Marche. E este? acrescentou ele apontando para Florent.

Este é o meu jovem criado, ou pajem, como quiserdes. Eu sou dame Léonarde Mercet declarou ela com o tom altivo que teria empregado para dizer: eu sou a rainha de Espanha.

A sério? disse o capitão, meio a sério meio a brincar. O vosso nome, messire?

Douglas Mortimer, dos Mortimer de Glen Livet, oficial da Guarda Escocesa do Mui Cristão Rei Luís, décimo primeiro do nome lançou este, como homem que sabe quem representa...

Aliás, La Marche inclinou-se:

Segui-me!

Alguns instantes mais tarde, o escocês e a velha solteirona dobravam o joelho diante do Temerário, que, soberbo como era seu hábito, dava as suas audiências das terças-feiras na sala dos estados da Lorena. Se Léonarde ficou impressionada com o fausto que a rodeava não o deu a entender e foi com um olhar tranquilo que olhou para o homem que se dizia fazia tremer metade de Europa.

Com todo o cerimonial requerido pelo protocolo, Mortimer, familiar com os usos de corte, entregou ao duque da Borgonha uma carta, nos termos da qual Luís XI, após felicitá-lo pela sua vitória em Nancy e assegurando-lhe a sua fraternal afeição, pedia que fosse entregue ao seu enviado ”a mui nobre e graciosa dama Fiora Beltrami, cujo defunto pai tínhamos em particular estima e amizade e sobre a qual soubemos, com inquietação, que se aventurara na Lorena para ali procurar um seu primo. Deploraríamos que a essa jovem dama, cara ao nosso coração paternal, acontecesse qualquer dano e consideraríamos como um sinal particular de amizade que ela fosse confiada ao nosso mensageiro e à dama que o acompanha, para que seja trazida para cá da cidade fronteiriça de Neufchâteau, onde o senhor conde de Roussillon se encarregará dela e a mandará conduzir até nós...” Seguiam-se as efusões rituais, mas o Temerário percorreu a epístola real com um ar manifestamente carrancudo. Neufchâteau, que aliás se tinha rendido a si, estava a quinze léguas de Nancy e o conde de Roussillon, um dos melhores capitães do Rei, tinha por costume comandar apenas um punhado de homens.

Carlos deixou que a carta se enrolasse por si própria antes de a entregar ao seu secretário, olhando depois por um instante para os dois personagens que esperavam pacientemente:

Sentimo-nos felizes por saber disse ele, por fim que as fronteiras de França estão bem guardadas, mas, na verdade, nunca duvidámos. Quanto a donna Fiora, acreditamos perfeitamente que ela seja cara ao coração do nosso primo o Rei Luís. Infelizmente, não a temos detida...

O duque deixou passar uns segundos sem parecer aperceber-se da palidez súbita de Léonarde, da angústia que lhe enchia os olhos e das sobrancelhas franzidas de Mortimer.

Além disso continuou ele nem sequer a conhecemos como tal. Aqui, temos apenas a condessa de Selongey esposa de um dos nossos melhores capitães e espanta-nos que o Rei ignore esse pormenor. Mas, é certo que não enviaríamos ao Rei de França uma grande dama da Borgonha. Escreveremos nesse sentido ao nosso caro e amado primo. Entretanto, sire Mortimer, sois nosso hóspede até depois do Natal, já que não deveis passá-lo na frialdade dos caminhos. Quanto a vós, madame, sereis conduzida, dentro em pouco, até junto da vossa educanda, obrigada a ficar no seu quarto no seguimento de um... ligeiro acidente.

Quando, uns momentos mais tarde, Nicole Marqueiz introduziu Léonarde no quarto, Fiora, incrédula, fechou os olhos com força, como quando se está em presença de uma luz muito violenta, mas já aquela se lançava para a jovem e a tomava nos braços:

Meu cordeiro! Até que enfim vos encontro!

Os quatro meses de separação que acabavam de suportar pareciam-lhes, agora, quatro séculos e durante um longo momento foi um festival de perguntas e abraços. Cada uma tinha tanto que dizer que não sabia por onde começar...

Nunca conseguiremos disse Fiora se não pusermos um pouco de ordem nos nossos propósitos. Como soubestes que eu estava aqui?

A resposta tem um só nome: Esteban.

Léonarde explicou como, expulsos por Campobasso, o castelhano e o escocês tinham resolvido separar-se: um para regressar e dar conta ao Rei do resultado da sua missão e o outro para ficar nos arredores de Thionville, ou mesmo na cidade, para ver o que se passava no castelo. Quando Fiora partira para Pierrefort, ele seguira, de longe, a escolta da jovem e graças a um pouco de dinheiro encontrara asilo em casa de um dos camponeses que forneciam o castelo com madeira e comida. A entrada em cena de Olivier de La marche não lhe escapara e, tal como na vinda, seguira Fiora até ao acampamento borgonhês, onde se alistara numa companhia franca a fim de poder circular pelo campo.

A chegada da jovem suscitara uma certa curiosidade e Esteban descobrira rapidamente o sítio onde ela estava detida. O que lhe permitira salvá-la do punhal de Virgínio, mas, depois da tomada de Nancy e compreendendo que não poderia fazer nada apenas com as suas próprias forças, fugira em plena noite e fora ter a Paris, de onde Agnolo Nardi o enviara... com Léonarde, que insistira firmemente em acompanhá-lo, para junto do Rei, no castelo de Plessis-lez-Tours.

Estando doravante em paz com a Borgonha prosseguiu Léonarde o nosso sire pensou que nada se opunha a que vos reclamasse. Creio que o Rei tem muita estima por vós e estávamos todos muito aflitos com a vossa sorte.

No entanto, não havia razão para isso. Mas, não me falais de Demétrios? Ele continua junto do Rei Luís?